Espadas, armaduras e punhos: As artes marciais europeias da Idade Média eram fruto de técnica, força e conhecimentos de anatomia e geometria
Quando se fala em luta de cavaleiros medievais, vêm à cabeça dois homens enlatados, quase imóveis, usando espadas pesadíssimas como se fossem clavas. Luta assim é coisa de cinema. Na Idade Média e no início da Renascença, as artes marciais ocidentais eram razão de aprendizado teórico e treinamento prático, tal como suas correspondentes no Oriente, para as quais não ficavam a dever nada tanto em letalidade quanto em finesse.
Um cavaleiro usava o corpo inteiro para lutar, e havia diversas técnicas e estilos, alguns bem elegantes. As artes marciais do Ocidente não estão exatamente perdidas. Elas se transformaram com a entrada em cena das armas de fogo – uma evolução que chega até ao treinamento de exércitos modernos, que inclui o combate corpo a corpo. Diferentemente do Japão, onde o kendo, derivado da espada samurai, é tradição viva, a espada medieval simplesmente deixou de ser praticada, dando lugar às artes marciais urbanas, com modelos bem diferentes, para defesa pessoal e uso em duelos.
Essas técnicas urbanas deram origem à esgrima olímpica, no século 19, um esporte que nem de longe lembra o combate histórico. “Esgrima olímpica é jogo, não luta de espadas”, diz o instrutor Renato Moussalli, que ensina esgrima histórica e olímpica em São Paulo. Hoje, entusiastas e acadêmicos vêm resgatando as artes marciais ocidentais, através da leitura de manuais de combate medievais e renascentistas. O mais antigo é de 1300, encontrado em um monastério em Francônia, Alemanha. Collectanea, um dos mais famosos, foi escrito por Pietro Monte (1457-1509), teólogo, matemático e amigo de Leonardo da Vinci. Nessa época, a espada era tratada como disciplina acadêmica, baseada em conhecimentos de anatomia e geometria.
Mas e as lutas de espada do cinema? “Essa visão deturpada vem do Romantismo do século 19, em encenações teatrais feitas por gente que não sabia como as espadas funcionavam”, escreveu o instrutor e historiador norte-americano John Clements, diretor da Arma, Associação para Artes Marciais da Renascença.
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