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Roma: nasce um império

No começo das guerras contra Cartago, Roma não era nada. Cem anos depois, estava controlando o mundo

Textos Patrícia Pereira Publicado em 01/02/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Foi o reino de Cartago quem transformou Roma em uma grande potência. Quando as duas cidades entraram em guerra pela primeira vez, Roma era um vilarejo metido a besta, que tinha acabado de dominar o resto da Itália e ainda estava formando um exército. Cartago era o centro do mundo. Seus navios controlavam o Mar Mediterrâneo, que era o único pedaço de oceano que realmente importava na época. Cem anos depois, quando o terceiro conflito acabou, Cartago tinha sido destruída, enquanto Roma estava pronta para conquistar o planeta.

Para entender essa história, precisamos voltar ao ano 264 a.C.. Fundada por fenícios na atual Tunísia, no norte da África, Cartago ia muito bem até Roma começar a crescer. O primeiro choque entre as duas cidades aconteceu numa disputa pelo controle da Sicília, que deu início à Primeira Guerra Púnica (o nome esquisito vem de punici, ou “fenícios”, como os romanos se referiam aos cartagineses). As primeiras lutas foram em terra, com a vitória de Roma. Os romanos passaram a dominar quase toda a Sicília, mas Cartago ainda controlava o mar. Vieram então as batalhas marítimas, vencidas novamente pelos romanos.

Disposta a acabar de vez com a guerra, Roma enviou um forte exército direto para a África em 256 a.C. Quase venceu, mas no final Régulo acabou tendo que recuar. Em 247 a.C., Amílcar Barca assumiu o comando das forças de Cartago e atacou cidades ao sul da Itália. Roma reagiu e conseguiu recuperar quase todas as posições na Sicília e assumir a supremacia do Mediterrâneo. Cartago só teve uma alternativa: assinar um tratado de paz. Mas o filho de Amílcar não esqueceria essa humilhação.

Efeito surpresa

Depois da derrota, Cartago ocupou Espanha e Portugal disposta a se recuperar para voltar para a briga. A missão na Espanha foi confiada a Amílcar e, no ano 221 a.C., transferida a seu filho, Aníbal Barca. Aníbal começou logo a preparar uma nova guerra. Para penetrar na Itália, o novo líder apelou para o efeito-surpresa: em vez de viajar pelo mar, como qualquer um faria, resolveu invadir a Itália por terra. Acontece que existem os Alpes, uma cordilheira que protege o norte do país. Passar por ali era uma loucura sem tamanho, mas deu certo. Jogando em casa, os romanos só apanharam. Na batalha do lago Trasimeno, Aníbal criou uma armadilha espetacular: escondeu sua tropa em depressões cobertas pela névoa e atacou de surpresa.

Os romanos refugiaram-se nas montanhas, de onde passaram a fazer uma guerra de desgaste, com ataques a batalhões isolados e a grupos responsáveis pelo suprimento de armas e alimento. Os cartagineses dominavam a região, mas decidiram não avançar até Roma. Esse foi o maior erro de Aníbal: não destruir o império enquanto podia. O problema é que o general de Cartago era um cavalheiro. Naquela época, o reino que perdesse grandes batalhas tinha a obrigação de aceitar a derrota definitiva. Só que Roma era teimosa.

Teimosa mesmo. Além de não pedir trégua, ainda tentou reagir de novo, desta vez na região de Canas. Foi mais uma humilhação: Aníbal organizou as tropas para que o sol que nascia atrás de seus homens atrapalhasse a visão dos inimigos. Fez mais. Agrupou a infantaria mais fraca no meio, com uma poderosa cavalaria ao redor. No começo, os romanos pareciam ganhar fácil. Foi aí que caíram na armadilha de Aníbal: o centro cartaginês recuou, enquanto a cavalaria começou a atacar. Prensados uns contra os outros, os romanos mal conseguiam sacar as espadas. Foi um massacre.

E quem disse que os romanos desistiram? Com muita paciência e força de vontade, eles aproveitaram o cansaço das tropas adversárias para retomar a Sicília e o resto da Itália. Foi aí que entrou em cena o general romano Cipião. Primeiro ele atacou de surpresa a Espanha, onde estavam as bases do inimigo. Depois foi direto para Cartago. Aníbal teve de abandonar a Itália para defender sua terra. Esse lance final da guerra começou em 204 a.C. e terminou dois anos depois, com a batalha de Zamma, a primeira derrota de Aníbal. Então, Roma obrigou Cartago a destruir todos os seus navios de guerra.

Golpe de misericórdia

Mesmo sem marinha nem controle do Mediterrâneo, Cartago começou a se recuperar lentamente. Mas Roma estava de olho. Sem esperar que os africanos pisassem na bola e dessem pretexto para outra guerra, os romanos começaram a Terceira Guerra Púnica. Cartago fechou suas muralhas, construiu armas e resistiu heroicamente durante quatro anos. Depois de lutar casa a casa, sua população percebeu que seria vencida e decidiu atear fogo à cidade. Os romanos tomaram a fortaleza e jogaram sal no chão, para que nada mais fosse cultivado. Os sobreviventes foram vendidos como escravos, e Cartago virou uma pequena província, menor ainda do que Roma era no começo desta história.

Coisas de filme

Roma e Cartago usaram estratégias bem esquisitas

Navios com pranchas

Os barcos dos romanos tinham ganchos que se prendiam nas embarcações inimigas e pranchas de madeira que facilitavam a invasão.

Artilharia pesada

Os cartagineses levavam homens armados nas costas de elefantes, que funcionavam como tanques de guerra. Para o inimigo, era assustador.

Mulheres carecas

Durante a terceira guerra, todas as damas de Cartago rasparam a cabeça e doaram os cabelos, que foram usados como cordas em armas de arremesso.

Para saber mais

• História de Roma, M. Rostovtzeff, Zahar Editores, 1977. Conta a história completa do império romano. Tem 11 páginas dedicadas às Guerras Púnicas