Templo romano dedicado ao culto pagão sobreviveu graças ao cristianismo
Depois de 500 anos de existência, expansão territorial galopante e progresso nas mais diversas áreas, o Império Romano deixou apenas um monumento em perfeito estado de conservação. É o Panteão de Agripa, um templo dedicado a todos os deuses romanos.
O nome do edifício é uma homenagem ao cônsul Marco Vispânio Agripa (63-12 a.C.), que mandou realizar a obra em 27 a.C. No ano 80, a construção foi praticamente destruída por um incêndio. Quatro décadas depois, o imperador Adriano (76-138) mandou reerguê-la. "Há indícios de que o próprio Adriano foi o arquiteto. Ele queria abrigar os deuses romanos e os dos povos conquistados", afirma o historiador Manuel Rolph, da Universidade Federal Fluminense.
Ironicamente, foi graças à Igreja Católica que a edificação pagã sobreviveu ao tempo e ao vandalismo. Em 608, após o fim do Império, o rei bizantino Flávio Focas entregou o Panteão ao papa Bonifácio IV (550-615), que o consagrou igreja cristã dedicada a Santa Maria e a Todos os Santos.
CHAMA ACESA
Na Roma antiga, um templo era, literalmente, a casa dos deuses. Cada um deles era zelado por uma sociedade sacerdotal, que prezava pela manutenção e pela segurança da estátua e se responsabilizava por manter tochas acesas em sua homenagem.
ADRIANO, JUIZ SAGRADO
A partir do primeiro século de nossa era, a noção de que o imperador era a própria divindade ganhou força. Adriano era associado a Hélios, o deus sol, e como tal podia usar o templo. Ele fez do Panteão um tribunal, onde realizou diversos julgamentos.
PARA POUCOS
O lugar era imponente, mas o acesso permanecia restrito às autoridades políticas e religiosas. Não eram realizados rituais públicos, e mesmo os senadores só entravam no local para acompanhar o imperador.
FACHADA GREGA
A obra segue a influência helenística, como se percebe na fachada com colunas gregas. Sobre elas, está a inscrição "M.AGRIPPA.L.F.COS.TERTIUM.FECIT", que significa: "Construído por Marco Agripa, filho de Lúcio, pela terceira vez cônsul".
ENTIDADES SOBREPOSTAS
Apesar de ser dedicado aos deuses em geral, o local não abrigava estátuas de todos. Por dois motivos: em primeiro lugar, o próprio formato circular do edifício já indicava seu caráter ecumênico. Além disso, cada deus representava outros. Vênus, por exemplo, correspondia à Afrodite grega e à Isis egípcia.
PONTO DE ENCONTRO
A construção homenageava todas as entidades antigas
No topo da cúpula, há uma abertura circular de 9 metros de diâmetro, que permite a entrada de luz natural e simboliza o deus sol. Como o círculo fica a 43 metros do chão, os romanos acreditavam que a chuva que entrasse por ali evaporaria antes de chegar ao solo. Eles estavam errados.
DEUSES MODERNOS
Hoje, o local abriga túmulos de personalidades
Em Roma, seria inconcebível enterrar mortos em templos. No século 16, quando o Panteão já pertencia à Igreja, começaram a ser colocados ali personagens célebres da Itália. Estão lá os restos mortais dos pintores Annibale Carracci (1560-1609) e Rafael Sanzio (1483-1520) e de vários reis italianos, como Vitor Emanuel II (1820-1878) e Humberto I (1844-1900).