O ano é 1900. Um homem com ferimentos abertos pela vegetação da selva da África procura sua caça no sudeste de Camarões. Sem dificuldades, encontra e captura um chimpanzé. Enquanto tenta escapar, o animal morde o agressor. O caçador abate o primata com uma faca, joga a presa ensanguentada sobre os ombros, também cheios de feridas, e segue seu caminho. Ele nem imagina, mas é uma das pessoas que carregam no sangue as primeiras infecções do SIV, o vírus da imunodeficiência dos símios. A variação desse organismo em humanos, o HIV, provocaria a doença que se chamaria aids (síndrome da imunoautodeficiência adquirida) e desencadearia uma verdadeira epidemia. Muito antes de ser descoberto, há 25 anos, o vírus passaria várias décadas provocando mortes sem causa definida. Hoje alguns passos dessa trajetória são conhecidos.
Nos primeiros anos do século 20, macacos contaminados eram carregados por comerciantes que desciam o rio Sangua, afluente do rio Congo, até a feira de Leopoldville (atual Kinshasa, na República do Congo). Ali, os comerciantes contaminados pelas primeiras mutações do SIV em HIV gastavam seu dinheiro com as prostitutas locais. "Assim, o vírus do chimpanzé, já presente no sangue de humanos, ganhou a capacidade de atingir outras pessoas pela relação sexual", diz o médico infectologista Stefan Cunha Ujvari, autor de A História da Humanidade Contada pelos Vírus. "A prostituição e os estupros durante as guerras de independência na África espalharam a doença, que ao longo do tempo foi confundida com muitas outras, como pneunomia e anemia profunda."
A disseminação para fora da África começou na década de 60. A guerra de independência de Guiné-Bissau levou uma onda de refugiados para Gâmbia, Senegal e Cabo Verde - e deste último país partiram pessoas infectadas para a Europa. O primeiro caso nas Américas foi registrado em 1978, no Haiti. No Brasil, a doença surgiu em 1981 e já tirou a vida de 190 mil pessoas.
Desde que foi identificada, a aids deixou cerca de 25 milhões de vítimas fatais. Atualmente, existem aproximadamente 33 milhões de portadores, mas a situação já é muito mais promissora. Ainda que a cura não tenha sido encontrada, a combinação de medicamentos descobertos nos últimos anos permite que o paciente tenha uma vida mais confortável.