Museu Nacional do Azulejo
Um casarão de 1509, construído para abrigar o convento da Madre de Deus, em Lisboa, capital de Portugal, é hoje um local de intensa visitação. É lá que funciona o museu de um dos ícones da arte portuguesa: o azulejo. Inaugurado pela rainha Leonor, viúva de dom João II, o prédio foi ampliado e decorado durante os séculos 16 e 18. Em 1872, virou propriedade do Estado, quando as religiosas e os pobres da Ordem de Santa Clara deixaram o local.
Em 1958, as peças de azulejo do Museu Nacional de Arte Antiga foram transferidas para lá. Sete anos depois, foi inaugurado o Museu do Azulejo, ainda sob administração do Museu de Arte Antiga. Só em 1980 ele tornou-se o independente Museu Nacional do Azulejo. Seu acervo estabelece um percurso que conta a história da cultura portuguesa a partir da miscigenação cultural com os muçulmanos, no século 15, até a atualidade. Estão nele peças de técnicas arcaicas, as chamadas “corda-seca” e “aresta viva”, como os azulejos encomendados na cidade espanhola de Sevilha no século 15 por dom Manuel I, para o Palácio da Vila, em Sintra. E também outras que usaram os desenvolvimentos técnicos provenientes da Itália renascentista, que permitiam a pintura direta do azulejo liso, sem mistura das cores durante a cozedura.
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1. Padrão mouro
As origens do azulejo português estão nas tradições islâmicas levadas para a península Ibérica. Este painel, proveniente da antiga Sé de Coimbra (atual Catedral de Lisboa), representa o início da decoração com cerâmica em Portugal, importada de Sevilha, onde a arte muçulmana já havia se instalado antes do início do século 16. O painel de azulejos de padrão mudéjar (mouro) data de 1503 e foi feito por Fernan Martinez Guijaro.
2. Adorno de túmulo
Um verdadeiro monumento de cerâmica, o retábulo tem 1 498 azulejos decorados. De autoria do pintor Marçal de Matos, enfeitava o topo da parede da capela onde estava o jazigo do nobre Bartolomeu Vaz de Lemos. A pedra do túmulo marca a data 1580 – estima-se que este seja o ano de conclusão da obra.
3. Motivos orientais
Apreciadores do exótico, os portugueses importaram estampas de tecidos do Oriente para os azulejos, principalmente com motivos vindos da Índia, do Japão e da China (chamados “aves e ramagens”). As estampas decoraram altares de igrejas até o fim do século 17, representando o Paraíso e Jesus. Nesta obra, de autor desconhecido, a folha da palmeira representa a imortalidade e a vitória do Salvador – enquanto o veado alude à ressurreição de Cristo.
4. Tapete de parede
Inicialmente, as composições de azulejos assumiram o papel de tapetes na decoração de paredes. As igrejas do século 17 receberam grandes revestimentos, e as peças eram desenvolvidas de tal forma que, quanto mais baixo estivessem colocadas, menores as dimensões – o que facilitava a visualização. Esta obra não tem nome e seu autor é desconhecido.
5. Bicho homem
Se é gozação política, ninguém tem certeza: mas as sátiras que dão aos homens caras de macaco ou de galinha surgiram entre 1640 e 1668, época da Guerra da Restauração contra a Espanha – vencida por Portugal. A cena critica, provavelmente, a nobreza espanhola ou os opositores da nova dinastia de Bragança. O Casamento da Galinha, que animava o palácio dos marqueses de Fronteira, em Lisboa, é de 1665.
6. Portugal levou a fama
No mesmo período em que Portugal extraía nosso ouro, também comprava da Holanda azulejos azuis, com referência à porcelana chinesa – portanto, diferentemente da crença geral, as peças azuis não nasceram em Portugal. A Lição de Dança é de 1707, do holandês Willem van der Kloet, e representa cena do cotidiano da aristocracia.
7. Dois em um
Ninguém sabe de onde vem este painel datado do século 18. Ele enquadra duas paisagens: uma marítima e portuária, na esquerda, e a campestre, à direita, resultando numa cena de teatro. A árvore seccionada é o elemento que une as duas realidades e também o indício da utilização de duas gravuras diferentes justapostas num único painel.
8. Lisboa como ela era
Datado de 1700, o painel, atribuído a Gabriel del Barco, é a grande atração do museu. Com quase 23 metros de comprimento, é um documento iconográfico para o conhecimento da capital portuguesa antes do terremoto de 1755, que, seguido por um tsunami, destruiu Lisboa. O painel é proveniente do palácio dos condes de Tentúgal e ocupava uma sala inteira.
9. Classe emergente
Este é um dos sete painéis que contam a história de um camponês pobre que foi a Lisboa trabalhar com o tio e aprendeu o ofício de chapeleiro. A seqüência relata a história do burguês emergente que, casando-se com uma viúva, abriu sua fábrica e constituiu família. As obras foram encomendadas pelo próprio ex-camponês, Antônio Joaquim Carneiro, e reflete hábitos da classe emergente portuguesa.
10. Vista fantástica
O modernista Paolo Ferreira (1911-1999) encontrou no azulejo a retomada dos valores culturais portugueses, em meados do século 20. Lisbonne Aux Mille Couleurs reconstitui a cidade vista do Tejo para a praça do Comércio, em cores fantásticas. O painel é uma réplica do original feito para a Exposição Internacional de Paris, realizada em 1937.