Foi só no século 19 que todos os trabalhadores ganharam direito ao ócio
Desde que existe civilização, a humanidade valoriza os feriados e dias de festas, dedicados a teatros, jogos, banquetes e carnavais. Mas o conceito de que todas as pessoas têm o direito de dedicar parte da semana ao lazer só surgiu na Grã-Bretanha, em meados do século 19. “Foi uma resposta à Revolução Industrial, quando a maioria dos trabalhadores se tornou assalariada e passou a enfrentar jornadas de trabalho de 18 horas ou mais”, afirma Christianne Luce Gomes, professora de mestrado em Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais.
Antes disso, não existia a separação entre o tempo ocupado com o trabalho e as horas dedicadas ao lazer (palavra que vem do latim licere, que significa “ser livre”). Na Antiguidade, a contemplação do ócio e da arte era restrita às classes privilegiadas. Durante a Idade Média, uma minoria se dedicava às artes, à literatura, à ciência e à política, mas a grande massa de camponeses pegava no batente, no mínimo, seis dias da semana, e dormia para valer no pouco tempo livre que sobrava. O máximo de diversão a que os mais pobres tinham direito eram as festas religiosas e as comemorações de vitórias militares. A outra forma de ganhar folgas era quando epidemias, inundações, secas ou guerras acabavam com as colheitas. Mas aí sempre havia o risco de passar fome.
Essa situação começou a mudar no século 19 e se consolidou depois da Segunda Guerra Mundial. Foi quando o direito ao lazer foi documentado no artigo 24 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela Organização das Nações Unidas em 1948. Naquela época, muitos pensadores começaram a prever uma “revolução do ócio”, quando o avanço da tecnologia permitiria que cada vez mais horas livres pudessem ser dadas aos trabalhadores. No fim das contas, o fim de semana não ficou mais longo, mas a indústria do entretenimento cresceu e aumentou o leque de alternativas para curtir o tempo de lazer.