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Gregos X Persas: A lança espartana triunfa

Numa batalha confusa e disputada, a máquina militar espartana expulsa os persas da Grécia de uma vez por todas

01/03/2007 00h00 Publicado em 01/03/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
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A frota de Xerxes tinha recuado para a Ásia Menor; o Grande Rei preparava-se para passar o inverno na segurança de Sárdis, depois da traumática experiência de assistir de camarote à derrota retumbante de suas trirremes na Ilha de Salamina. O ateniense Temístocles e o espartano Euribíadas, líderes da Marinha helênica, tinham sido recebidos em Esparta com coroas de louro, a grande honra concedida pelos gregos aos vencedores no esporte e na guerra. Mas ainda era cedo para comemorar o feito: o maior general persa continuava na Grécia.

A grande ambição de Mardônio, primo de Xerxes, era tornar-se o sátrapa (governador) dos helenos derrotados. Talvez por isso o Grande Rei tenha deixado com ele as unidades de elite de seu exército (provavelmente uns 60 mil soldados) e lhe dado a tarefa de “completar a conquista” da província rebelde. Sem a frota para ajudar no transporte de suprimentos e com a chegada do outono (a batalha de Salamina provavelmente aconteceu no fim de setembro), a preocupação mais imediata do general era a fome. Por isso, Mardônio recuou para a Tessália, onde tinha provisões e aliados leais, dando à Liga Helênica uma falsa sensação de segurança.

Enquanto isso, sob as ordens de Temístocles, os atenienses chegaram a reocupar suas terras e preparar o solo para o plantio. Ciente de que não gozava mais de uma superioridade numérica esmagadora, Mardônio viu nesse fato uma oportunidade: pôs-se a negociar com Atenas usando como emissário Alexandre, rei da Macedônia (e, como o nome sugere, ancestral de Alexandre, o Grande).

Os termos de Mardônio, segundo Heródoto, eram bem generosos: aliança com os persas, independência para Atenas em assuntos internos, reconstrução dos templos destruídos pelo invasor e até ampliação do território ateniense (à custa, pode-se imaginar, das terras dos demais gregos, quando estes fossem derrotados pela nova aliança entre a cidade e Xerxes). Logo correu a notícia de que Alexandre estava negociando com Atenas, e Esparta, preocupada com a situação, mandou seus próprios emissários para lá. Os espartanos não queriam enfrentar Mardônio fora do Peloponeso, mas ofereceram ajuda financeira aos civis atenienses e advertiram seus aliados de que não deveriam confiar nos persas.

A resposta oficial de Atenas a Alexandre, registrada por Heródoto, mostrou que os aliados do Peloponeso nada tinham a temer. “Transmita a Mardônio as palavras dos atenienses: enquanto o sol seguir o mesmo curso atual, jamais concluiremos um acordo com Xerxes.” Ao mesmo tempo, uma nova mensagem foi enviada a Esparta: “Mandai-nos o mais depressa possível um exército”.

O Peloponeso marcha

Mardônio e seus homens partiram da Tessália e reocuparam Atenas, deixando os conterrâneos de Temístocles cada vez mais revoltados com a inação de Esparta. Uma última embaixada atenien­se partiu para falar com os éforos, os principais magistrados espartanos: A­te­nas ameaçava fazer as pazes com Xerxes.

Com a tradicional calma espartana, os éforos enrolaram dez dias para dar uma resposta: tinham acabado de mandar, em sigilo, 5 mil soldados de sua cidade ao encontro de Mardônio. Os embaixadores atenienses foram escoltados para o norte por mais 5 mil hoplitas periecos (moradores das vilas vizinhas de Esparta, politicamente subordinados aos espartanos). No caminho, eles foram arrebanhando milhares de outros guerreiros das cidades do Peloponeso. O novo comandante desse exército, e também general das forças de terra da Liga Helênica, era o príncipe espartano Pausânias, sobrinho do rei Leônidas. Ao se reunir com os hoplitas de Atenas e de outras cidades, Pausânias tinha sob suas ordens cerca de 40 mil gregos fortemente armados, além da infantaria ligeira.

Mardônio não perdeu tempo em recuar quando soube da chegada dos homens do Peloponeso. Reorganizou então suas forças perto de Tebas, a mais poderosa cidade grega a se aliar ao invasor. Os soldados de Mardônio atravessaram o rio Asopo e postaram-se perto de um conjunto de pequenos morros; o mesmo fizeram os gregos, num local de topografia parecida, do lado oposto do rio. Durante uma semana, ninguém atacou – apostaram tudo na guerra de nervos.

Jogo de xadrez

Os persas tinham a mobilidade da cavalaria de seu lado, e não deixariam de usá-la. Seus arqueiros montados conseguiram contornar as posições gregas nos morros e aniquilar os comboios de provisões que vinham do Peloponeso. Durante alguns dias, Pausânias viu os suprimentos de seus homens diminuírem perigosamente. Finalmente, ele decidiu recuar, durante a noite, para perto da cidade aliada de Plataia, de forma a proteger os comboios. Muito provavelmente, os persas veriam esse movimento como uma retirada e decidiriam atacar.

Funcionou e não funcionou. Funcionou porque, cansados daquele jogo de xadrez, e vendo que os gregos tinham desaparecido da margem do rio, os persas partiram para o ataque de forma impetuosa e desordenada na manhã seguinte. E não funcionou porque a maior parte dos contingentes gregos, proveniente de uma miscelânea de cidades e formada por cidadãos recrutados, não se mexeu com a mesma eficiência de espartanos e atenienses e acabou deixando um buraco nas linhas helênicas.

Assim, a luta começou em duas frentes: de um lado, os espartanos e seus aliados de Tégea, na Arcádia, enfrentavam o grosso da infantaria e da cavalaria persas, agüentando uma chuva de flechas; do outro, os atenienses e seus velhos companheiros de Plataia tinham de se haver com os hoplitas e cavaleiros das cidades gregas traidoras, liderados por Tebas.

Numa batalha desse tipo, o fiel da balança, mais do que qualquer estratégia ou tática militar, eram os soldados. E foi isso que levou os gregos à vitória, mostrando mais uma vez a superioridade de suas armas e equipamentos defensivos, bem como a incrível coesão das fileiras espartanas. Massa­crados no campo de batalha – o próprio Mardônio morreu, derrubado de seu corcel bran­co por uma pedra atirada pelo espartano Aimnesto –, as forças persas fugiram para uma paliçada que haviam construído perto de Tebas. O cercado virou um sangrento abatedouro: menos de 3 mil persas saíram vivos dele.

Era a última vez que soldados do Grande Rei andavam pela Grécia européia. Chegara a hora da revanche: gregos da ilha de Samos, perto da costa asiática, entraram em contato com a Marinha aliada e avisaram que seu povo estava pronto a se revoltar contra Xerxes. Sob as ordens do rei espartano Leotiquidas, a esquadra grega viajou até a Ásia, no cabo Mícale, e esmagou o que restava da força naval persa na região. Os gregos asiáticos revoltaram-se em massa logo depois. A maré definitivamente tinha virado.

De herói a traidor

De todas as histórias da guerra de Xerxes, nenhuma é mais paradoxal que a do príncipe espartano Pausânias. Comandante do Exército grego, ele comportou-se como he­rói em Plataia. Conduziu a Liga Helênica à vitória e recusou-se a desonrar o corpo de Mardônio (atitude que os persas tiveram com Leônidas, ao decapitar e crucificar seu cadáver) e a enriquecer com o saque da batalha.Mas, para os gregos, a primeira decepção com Pausânias veio quando eles ofereceram uma serpente de bronze a Apolo como gratidão pela vitória. O príncipe escreveu seu próprio nome no objeto, como se tivesse vencido a guerra sozinho. Mais tarde, quando combateu na Ásia, foi tão despótico que o governo de Esparta o chamou de volta.

INANIÇÃO

Segundo o historiador grego Tucídides, Pausânias iniciou negociações secretas com Xerxes, propondo tornar-se vassalo do rei se este o ajudasse a se apoderar da Grécia. O plano vazou; Pausânias refugiou-se num templo em Esparta, mas os éforos cercaram o lugar, impedindo que escapasse. Acabou morrendo de inanição.