O obsessivo Vatel, o maior cozinheiro da história, matou-se porque faltou peixe num banquete
François Vatel era famoso na França do século 17. Insuperável na criação de receitas (reza a lenda que criou o creme chantili), tinha também o dom de transformar banquetes em verdadeiros espetáculos. Imagine um Cirque du Soleil gastronômico e você terá uma idéia da sua grandiosidade. Porém, não foi pela faca de cozinha que ele entrou para a história – mas sim por um punhal, com o qual se matou.
Para entender a atitude do desafortunado Vatel, é preciso entrar no espírito da época. Na França de 1600, a mesa dos banquetes era o lugar em que se tomavam decisões políticas, rolavam as intrigas na corte, lançava-se moda ou fofocava-se sobre a vida alheia. Por trás desse circo de vaidades, o cozinheiro reinava absoluto. Numa comparação com o Brasil, um bom chef seria tão popular quanto hoje é um escritor de novelas de televisão.
Quando o patrão do cozinheiro, o príncipe Condé, convidou o rei e sua comitiva (de mil pessoas) para um fim de semana no castelo de Chantilly, Vatel se esmerou. O menu do banquete principal seria filé de linguado, anchovas, melão com presunto de Parma, lagosta com molho de camarão, pernil de carneiro, pato ao molho de vinho Madeira e, de sobremesa, bombas de morango. Vatel encomendou frutos do mar dos principais portos franceses. No entanto, justo naquela ocasião houve um grande atraso dos peixeiros. No dia do banquete, 23 de abril de 1671, Vatel surtou ao ver que o peixe não chegava. Soluçando, trancou-se no seu quarto, pegou o fatídico punhal e enterrou-o no coração. Quarenta e cinco minutos depois, os peixeiros bateram à porta do castelo com as encomendas.
O banquete correu às mil maravilhas e, claro, o suicídio de Vatel foi o assunto da noite. Como, no Brasil de hoje, um escritor de novelas viraria notícia caso se suicidasse por não entregar o último capítulo da novela.