Depois de 30 anos de governo islâmico, milhares ainda fogem do Irã
Em 1979, Nurollah Irani-Tehrani, gerente do hotel Royal Hyatt de Teerã, foi levado à polícia porque o local vendia álcool."Meu pai propôs que, em vez de disparar contra adegas cheias das bebidas mais caras do mundo, o carregamento fosse simplesmente devolvido", diz Amir Irani-Tehrani, que tinha 7 anos. Seu pai acabou açoitado por diversas vezes e preso outras três.
Casos como o da família Irani-Tehrani tornaram-se frequentes nos últimos 30 anos, desde que o xá Reza Pahlevi foi substituído pelo aiatolá Khomeini (1900-1989). Ao se tornar república islâmica, o país passou a perseguir dissidentes. A conturbada reeleição do atual presidente Mahmoud Ahmadinejad, marcada por acusações de manipulação, sinaliza que, apesar da onda de protestos no Irã e no exterior, a perseguição tende a continuar.
Hoje, como em 1979, qualquer um que não se adapte pode ter problemas."Meu pai nunca foi preso por razões políticas, mas sim culturais", diz Irani-Tehrani. Sua mãe passou a usar o chador (véu que cobre parte do rosto) e ele foi repreendido na escola por usar jeans e ouvir música pop.
O país sofreu três grandes levas migratórias. Assim que Reza Pahlevi caiu, membros das elites ligadas ao xá emigraram."A invasão do Irã pelo Iraque, que causou uma guerra entre 1980 e 1988, desencadeou a segunda onda de emigração", afirma Arshin Adib-Moghaddam, professor de Política Comparada da Universidade de Londres. O enfraquecimento da economia provocou a terceira leva a partir de 1995. Ao todo, hoje vivem no exterior cerca de 2 milhões de iranianos.
A fuga continua."Ainda há um fluxo de refugiados deixando o Irã", diz Shirin Hakimzadeh, antropóloga americana. É o caso do ativista gay Arsham Parsi, que fugiu em 2005."No Irã, homossexualidade é punida com a morte", diz Parsi. Depois da reeleição de Ahmadinejad, alguns exilados esperam pouco do futuro."Vai demorar muito até que as coisas se normalizem", diz Amir Irani-Tehrani, editor de um portal noticioso iraniano baseado em Washington."O país é como uma pessoa abusada por 30 anos. Os abusos podem parar, mas a cura levará tempo e talvez nunca se complete."