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Correspondentes de guerra: o front da informação

Com suas canetas, rádios e câmeras, os profissionais arriscaram a vida para relatar os momentos mais dramáticos nas frentes de batalha

João Barone Publicado em 01/03/2007, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Durante a Segunda Guerra, um grupo muito especial de pessoas lutou sem armas para trazer os fatos importantes do conflito aos olhos, ouvidos e corações do mundo: os correspondentes de guerra. Jornalistas, fotógrafos, locutores de rádio e mesmo alguns conhecidos diretores de cinema engajaram-se na batalha pela informação, usando as ferramentas disponíveis na época: a caneta, o rádio e as câmeras. Somaram-se à máquina de propaganda aliada para legitimar o esforço de guerra perante o público e aumentar o moral das tropas, até a esperada “vitória final”.

O editor da célebre revista americana Life à época, Will Lang Jr, foi um dos grandes responsáveis pela divulgação do trabalho de muitos correspondentes. A Life serviu como uma assustadora bola de cristal, mostrando a seqüência dos episódios históricos que prenunciaram a Segunda Guerra, como a invasão da China pelo Japão, a Guerra Civil espanhola e o expansionismo nazista na Europa.

Em 1938, o lendário correspondente de rádio americano Edward R. Murrow estava em Viena, quando Hitler anexou a Áustria, e conseguiu driblar as rígidas restrições aos jornalistas estrangeiros. Mais tarde, com a guerra deflagrada, narrou ao vivo os ataques da Luftwaffe na blitz sobre Londres, em 1940. Num dos momentos mais dramáticos de sua carreira, já no final do conflito, narrou os horrores do campo de extermínio de Buchenwald: “Narrei o que vi e ouvi, parcialmente. Na maior parte, não tenho palavras”.

Fora de foco

A narrativa de Murrow só encontrou paralelo nas fotos primorosas de Robert Capa. Suas imagens do desembarque do Dia D entraram para a história. Das 108 fotos que tirou, apenas 11 foram ampliadas, pois a pressa do revelador em Londres para secar os negativos acabou estragando a maioria dos filmes. Mesmo assim, a Life deu a capa e publicou as fotos, explicando estarem “ligeiramente fora de foco” por causa das mãos trêmulas do fotógrafo no meio da ação. Revoltado, Capa escreveria mais tarde uma biografia com o título Slightly out of Focus (“ligeiramente fora de foco”), na qual afirmou: “Se sua foto não está boa o suficiente, é porque você não estava perto o suficiente”. Depois de sobreviver à Segunda Guerra, Capa morreu em 1954, ao pisar numa mina, quando cobria o conflito que precedeu a Guerra do Vietnã, na Indochina.

A cobertura jornalística da guerra foi reinventada na escrita simples, porém carregada de realismo, do jornalista Ernie Pyle. Suas crônicas eram muito esperadas no jornal oficial distribuído para os soldados americanos, o Star and Stripes. Com a guerra se aproximando de seu fim na Europa, Pyle foi cobrir a frente do Pacífico, onde morreu em abril de 1945, com uma rajada de metralhadora, na ilha de Okinawa. Ironicamente, Pyle dizia que o melhor correspondente é aquele que sobrevive para narrar a história.

Outra forma de descrever a realidade cruel da guerra eram os desenhos satirizando o dia-a-dia do soldado. Assim pensava Bill Mauldin, artista que retratou o G.I. em inúmeros esquetes. Seus personagens Willy and Joe, estereótipos dos dog face (apelido dos G.I.s), foram capa da Life. Numa ocasião, quando fez graça com a rigidez do general Patton – um defensor do uso da gravata pelo soldado –, foi ameaçado de corte marcial. Mas o próprio Eisenhower o defendeu, mandando Patton deixá-lo em paz.

Ernest Hemingway também freqüentava os campos de batalha da Segunda Guerra, na pele de correspondente da revista Collier’s. Cobriu a luta na França, chegando alguns dias depois do Dia D. Causou polêmica ao narrar que participara de ações de guerra, lançando granadas em um posto da SS. Depois, juntou-se à resistência francesa durante a liberação de Paris e acabou levado à corte marcial por usar armas, o que era proibido aos correspondentes.

Servindo pelo Brasil e escrevendo para jornais da época, alguns correspondentes de guerra brasileiros tornaram-se muito conhecidos, como Joel Silveira (Diários Associados), Egydio Squeff (O Globo) e Rubem Braga (Diário Carioca). Terminada a guerra, Silveira e Braga firmaram-se como grandes escritores.

Alguns diretores de cinema de Holly­wood foram requisitados pelo Exército americano para retratar a guerra. John Huston fez um documentário sobre as ações na Itália e sobre a reabilitação de ex-combatentes. Frank Capra fez uma série de documentários de propaganda, para explicar aos americanos o porquê da luta. George Stevens filmou a cores o documentário Do Dia D até Berlim.

Esses heróis sem armas lutaram bravamente para que os fatos chegassem ao público. Seus esforços foram importantes na enorme engrenagem que moveu os Aliados para vencer as forças do Eixo.

João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, coleciona peças e carros militares da Segunda Guerra Mundial e estuda diversos temas referentes a esse e outros conflitos históricos.