A derrota de Xerxes pareceu trazer libertação para todas as cidades gregas, mas plantou a semente para um conflito sangrento entre Atenas e Esparta
Seguindo o exemplo de Heródoto e Tucídides, os historiadores modernos costumam considerar que as batalhas de Plataia e Mícale, em agosto de 479 a.C., marcaram o fim das guerras entre gregos e persas. Mas trata-se de mera convenção. A rixa continuou, porém num nível diferente. A antiga Liga Helênica se desfez: o comando da contra-ofensiva na Ásia Menor ficou nas mãos de Atenas, num processo que acabaria levando a um novo e gigantesco conflito, desta vez de gregos contra gregos.
Os problemas começaram logo depois da vitória em Mícale, quando ficaram claras as diferenças entre espartanos e atenienses. Os aliados dos espartanos no Peloponeso, com medo da força naval de Atenas, tentaram pressionar a cidade para que não reconstruísse suas muralhas, arrasadas pelos persas. A chantagem diplomática não funcionou, mas as relações entre os antigos aliados ficaram estremecidas.
Nova aliança
Esparta também defendia que os gregos da Ásia simplesmente voltassem para a Grécia européia em massa; eles poderiam ser acomodados, por exemplo, nas cidades que tinham se aliado a Xerxes. Atenas se opôs a esse plano e, como Esparta não desejava continuar a combater em território asiático (em parte porque temia perder sua predominância no Peloponeso), os atenienses assumiram o papel de protetores dos gregos da Ásia.
Para isso, a cidade-Estado forjou uma nova aliança, conhecida como Liga de Delos (o nome da ilha do Egeu onde os fundos dos aliados eram depositados inicialmente). No começo, tudo pareceu caminhar bem: sob a liderança de Címon, filho de Milcíades (o general vitorioso da batalha de Maratona), Atenas reuniu uma frota poderosa o suficiente para abalar toda a fronteira ocidental do Império Persa. Ao longo dos anos 470 a.C. e 460 a.C., Címon e Aristides (outro general veterano da guerra contra Xerxes) derrotou as forças do Grande Rei em Chipre, na Ásia Menor e na Trácia. Todos os territórios gregos nas ilhas e na costa asiática foram incorporados à Liga de Delos. Os atenienses chegaram até a invadir o Egito para apoiar uma rebelião, derrotando de novo as forças persas.
A situação na Grécia, porém, começou a mudar perigosamente. Nos anos 460 a.C., Esparta teve de enfrentar uma grande revolta dos hilotas, os servos cujo trabalho era a base de sua economia. Os espartanos pediram ajuda a seus antigos aliados, e Atenas enviou Címon para o Peloponeso, à frente de 4 mil hoplitas. A desconfiança em relação aos atenienses, porém, era tanta que os espartanos mandaram Címon de volta para casa, temendo que ele e suas forças ajudas- sem os hilotas.
Ofendido, o governo de Atenas aliou-se à cidade de Argos, uma das piores inimigas de Esparta no Peloponeso, e não foi preciso muito para que a tensão desse lugar à guerra aberta. Após uma década de conflito entre as duas “superpotências” gregas, a paz – que deveria durar pelo menos 30 anos – foi firmada em 446 a.C. Mas a semente de um conflito pior estava plantada. Esparta temia cada vez mais o poderio ateniense, e Atenas tratava cada vez mais os outros membros da Liga de Delos como súditos, e não como aliados. Em 431 a.C., os antigos aliados voltariam a se enfrentar na chamada Guerra do Peloponeso, da qual o mundo grego jamais se recuperaria.