Na história dos banquetes, a humanidade já comeu de tudo: de patê de rato a carne estragada. Sempre com excelente apetite
Na coroação do rei Ricardo III como monarca da Inglaterra, em 1483, não faltaram pratos esquisitos. No cardápio, constavam quitutes como geléia doce feita com miolos e rim de porco selvagem e, num toque de extravagância, um pavão servido com as penas intactas, para dar a impressão de estar vivo. “Quem acha estranho que os ingleses se refestelassem com tais alimentos deve lembrar que os gostos alimentares da Idade Média e Moderna eram muito diferentes dos de hoje”, diz a historiadora da alimentação Gillian Polack. Outra mania dos ingleses era o modo de servir a carne de veado, prato indispensável nas festas da nobreza: já semideteriorada. Segundo o gosto da época, isso aguçava o sabor. Para mascarar o sabor de estragado, os cozinheiros bretões viraram especialistas no preparo de molhos picantes, que culminaram no século 19 com o “molho inglês”, à base de vinagre, açúcar, polpa de pimenta e outros condimentos.
Na França, durante o cerco de Paris em 1870, a comida estava escassa. Na ceia de Natal daquele ano, o sofisticado restaurante Voisin teve de se virar: um de seus pratos foi patê de rato e gato assado, servido com salada de agrião e regado a vinho branco Latour safra 1861. A esquisitice, bem preparada, passou despercebida. O banquete mais bizarro da história, porém, foi incontestavelmente o do crítico de gastronomia francês Grimod de la Reynière. Em 1812, enviou uma nota falsa de falecimento a todos os chefs parisienses (que o odiavam), convidando-os para um banquete de funeral. Ao chegarem, foram surpreendidos por uma cena macabra: os pratos – como salada de lagartixa e escorpiões refogados – eram servidos sobre caixões.