Os Jogos Olímpicos da hipocrisia: Em agosto de 1936, Hitler realizou a cerimônia de abertura dos jogos em Berlim
Marcio Pitliuk* Publicado em 01/08/2023, às 10h44 - Atualizado em 26/07/2024, às 10h32
Em 1º de agosto de 1936, Adolf Hitler realizou a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos em Berlim. Três anos e seis meses antes, o partido nazista chegou ao poder na Alemanha.
Em um espaço de tempo curto, acabaram com a oposição, construíram o primeiro campo de concentração em Dachau e impuseram um estado de terror, com Hitler na liderança.
Os nazistas implementaram a falsa teoria da superioridade ariana e os judeus passaram a ser perseguidos. Em 15 de setembro de 1935, um ano antes da Olimpíada, foram implementadas as primeiras leis de “proteção da raça ariana” que, entre outras barbaridades, tornaram os judeus alemães cidadãos de segunda classe, sem direitos civis.
As Olimpíadas, infelizmente, sempre foram usadas por governos autoritários como propaganda. Hitler não fez diferente, queria transformar os Jogos Olímpicos de Berlim numa vitrine da superioridade dos arianos perante os outros povos e não poupou investimentos. A cineasta Leny Riefenstahl produziu o filme Olímpia, onde exibia os alemães e alemãs como deuses maravilhosos. Para não chocar a opinião pública mundial, Hitler tratou de maquiar o país.
Mandou retirar todos os cartazes racistas e antissemitas, deu uma baixada de bola na perseguição e ataques as minorias e fingiu que tudo estava normal na terra de Goethe. Os jornalistas e turistas também fingiram que o nazismo não era tão mal assim e que os judeus, homossexuais, Testemunhas de Jeová e ciganos viviam livremente na Alemanha nazista.
A comunidade judaica alemã aproveitou a presença da imprensa mundial e fez sérias denúncias, todas vergonhosamente ignoradas. Presidentes, primeiros-ministros e reis de diversos países cumprimentaram Hitler como se ele fosse um estadista absolutamente normal. Ninguém se abalou em sujar as mãos de sangue. A Olimpíada de Berlim de 1936 ganhou a medalha de ouro da Fake News.
Nem tudo correu como Hitler esperava. O atleta americano afrodescendente, Jesse Owens, conquistou 4 medalhas de ouro em atletismo ao vencer representantes da “raça ariana”, o que foi um tapa na cara do Führer.
Uma prova de que os alemães não eram melhores que os outros seres humanos. Pior que isso, perderam para um negro! O líder alemão ficou tão irritado com a empáfia desse untermenschem, que abandonou o estádio para não ter que participar da premiação de um “ser tão inferior”.
A vitória do negro Jesse Owens sobre os arianos é o que ficou na memória da história dos Jogos Olímpicos de 1936. A Alemanha sediou outra Olimpíada em 1972. Terroristas palestinos tomaram 11 atletas israelenses como reféns e numa operação desastrosa da segurança alemã, todos os reféns foram mortos num tiroteio entre a polícia germânica e os palestinos.
Tanto a Olimpíada de Berlim quanto a de Munique, não são lembradas pelas provas esportivas ou recordes quebrados, e sim por tristes acontecimentos contra os judeus. A política ofuscou as competições.
*Marcio Pitliuk é professor do StandWithUs-Brasil, especialista no Holocausto e autor dos livros A alpinista e O homem que venceu Hitler. O texto foi proporcionado pela StandWithUs Brasil, instituição que trabalha para lembrar e conscientizar sobre o antissemitismo e o Holocausto, de maneira a usar suas lições para gerar reflexões sobre questões atuais.
Um ano depois: Brasileiro relembra ataque do Hamas em rave
A história por trás das músicas compostas por judeus durante o Holocausto
Os bastidores do documentário que registrou os Jogos Olímpicos em solo nazista
A origem do termo antissemitismo
Há 37 anos, morria Primo Levi, testemunha do Holocausto
Fotos dos Sonderkommando: resistência, testemunho visual e vestígios do horror nazista