Imagens de Fragmentado, filme que ilustra o Transtorno Dissociativo de Personalidade - Divulgação
Psicologia

Uma pessoa, diferentes alter-egos: entenda o Transtorno Dissociativo de Personalidade

Com exclusividade à AH, Fabiano de Abreu explica a condição que desenvolve múltiplas identidades em um único indivíduo

Pamela Malva Publicado em 06/03/2021, às 09h00

Em meados de 2018, a Revista VICE publicou o perfil de uma artista britânica chamada Kim Noble. Mãe da jovem Aimee, a conhecida pintora chamou muita atenção quando descobriu-se que, dentro da própria cabeça, ela convivia com outras 20 personalidades.

Acontece que, após sofrer um trauma irreversível na infância, Kim foi diagnosticada com Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). Assim, muito além da artista, ela ainda é uma adolescente chamada Judy e um homem gay chamado Ken, entre outros.

Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l'Homme de Paris, o neurocientista Fabiano de Abreu explicou, com exclusividade ao site Aventuras na História, como a condição de Kim e quais são suas principais causas.

Kim Noble durante entrevista à Revista VICE, em 2018 / Crédito: Divulgação/Youtube

 

Um espaço ocupado

Segundo o especialista, que ainda é psicólogo e psicanalista, o indivíduo diagnosticado com TDI sente que convive com “duas ou mais pessoas distintas, que alternam em relação ao seus pensamentos, memórias, sentimentos ou ações”.

Em resumo, “trata-se de um distúrbio mental” no qual a mente da pessoa funciona como se “tivesse alter-egos ou estados do ‘eu’ que vão além da sua própria persona”. No caso de Kim, são 20 personagens com diferentes gostos, ideias e identidades.

Anos antes de ser entrevistada pela Revista VICE, inclusive, a artista apareceu no programa de Oprah Winfrey. Na ocasião, ela falou sobre sua vida como uma mãe com múltiplas personalidades e explicou um de seus maiores medos. “Toda vez que as personalidades vêm para fora”, narrou, “eu tenho medo de nunca mais voltar”.

Kim Noble ao lado de sua filha, Aimee / Crédito: Divulgação/Youtube

 

Uma válvula de escape

De acordo com Fabiano, existem diversos gatilhos para o desenvolvimento do Transtorno Dissociativo de Personalidade. Ainda assim, na grande maioria das vezes “o distúrbio está associado a traumas ocorridos durante a infância”.

Acontece que, quando passa pelo episódio traumático, a criança busca se proteger da memória do ocorrido e, assim, cria diferentes personalidades. “Para fugir destes ambientes ou situações, as crianças refugiam-se no seu interior e cada personalidade surge como um refúgio do próprio trauma”, explica o neurocientista.

Os abusos físico, psicológico, emocional ou sexual, portanto, “estão na base de mais de 90% dos casos deste transtorno”. Além deles, a negligência, a experiência de uma perda importante ou uma doença grave também podem acarretar na TDI.

Uma das pinturas de Kim Noble / Crédito: Divulgação/Youtube

 

Por dentro do sistema

Uma vez desenvolvido o transtorno, o diagnóstico pode ser feito a partir dos comportamentos do paciente. Nesse sentido, a “falta de identificação com o próprio corpo ou a sensação de que o corpo pertence a outra pessoa” são bastante comuns.

Segundo Fabiano, uma pessoa com TDI ainda pode “ter alterações constantes de comportamento e opiniões, falhas de memória tanto com relação a eventos passados, quanto com acontecimentos do cotidiano, sensação de que o mundo não é real, ter alucinações visuais ou sensitivas ou até mesmo ouvir vozes”.

Com o avanço da condição, tais mudanças na personalidade do paciente tornam-se “bastante visíveis e reconhecíveis pelo outro”, como para familiares e amigos da pessoa diagnosticada. O indivíduo, no entanto, pode “nem ter noção do ocorrido”.

O quadro em hebraico pintado por uma das personalidades de Kim / Crédito: Divulgação/Youtube

 

Assistindo de longe

Ainda em entrevista à Revista VICE, Kim Noble explica que muitos de seus alter se comunicam através da arte, assim como ela. Por diversas vezes, todavia, a mulher não se lembra das pinturas — como quando uma de suas personalidades escreveu frases em hebraico na tela, sendo que Kim nunca aprendeu a língua estrangeira.

Segundo Fabiano, esse tipo de “amnésia” é comum em quadros de TDI. “O transtorno é caracterizado pela incapacidade de recordar eventos do seu cotidiano, informações pessoais ou experiências de eventos traumáticos ou de grande importância”, narra.

Ainda assim, é importante pontuar que a condição se manifesta de duas formas distintas. “Na forma possessiva, as identidades apresentam-se como agentes externos que assumem controle sobre o indivíduo”, pontua Fabiano. “Já na forma não possessiva, o paciente sente como se fosse um observador da sua própria vida”.

Por fim, o neuropsicólogo esclarece que “o tratamento do transtorno passa por psicoterapia a longo prazo”. Em casos mais específicos do distúrbio, ainda se indica a farmacoterapia, que pode ser usada para controlar a ansiedade e a depressão, “sendo que ambas as condições podem ser combinadas com quadros do TDI”.


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