Em meio à períodos de fome, uma forte classe operária protagonizou uma grande revolução no antigo Império Russo, em 1917
Éric Moreira Publicado em 10/04/2023, às 17h28 - Atualizado em 03/01/2024, às 15h19
Quando se fala sobre períodos, conflitos ou movimentos muito importantes na História da humanidade, muito se pensa na Revolução Industrial, que veio para mudar completamente a forma como o trabalho se dava na Inglaterra, ou a Revolução Francesa, que derrubou uma monarquia absolutista durante séculos.
Um dos conflitos que chamou bastante atenção, com algumas consequências sentidas até os dias atuais, foi a Guerra Fria (1947 - 1991), que separou o mundo em duas ideologias: a do capitalismo, representado e defendido pelos Estados Unidos, e a do comunismo, com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Ainda hoje, muito se fala sobre o "fantasma do comunismo", mesmo que os exemplos desse modelo de governo da atualidade sejam bastante contraditórios. Afinal, como se construiu uma sociedade como a soviética, com uma ideologia de esquerda amplamente disseminada, e como isso chegou ao vigor?
Um modelo de governo que se instaurou por toda a Europa no passado era o pautado em monarquias absolutistas. Mesmo que o Velho Continente não fosse unificado em um único Império, era dividido em diversos reinos que, por vezes, entravam em conflitos, se expandiam e dizimavam outros; porém, ainda é possível afirmar, eles coexistiam.
Porém, com o passar dos séculos, alguns reinados entraram em crise e, eventualmente, ruíram. E geralmente essas crises eram encabeçadas pelo próprio povo que ali vivia, descontentes com o regime a que eram submetidos, e então ministravam revoluções — como foi a já mencionada Revolução Francesa, em 1789.
Voltando a atenção para a região que hoje conhecemos como Rússia, lá não era diferente: ali habitava o imponente Império Russo, que seguia modelos absolutistas em que o poder era todo confiado a uma pessoa. No caso da maioria dos antigos impérios, essa figura era conhecida como 'rei', mas aqui era chamado de 'czar'.
A partir de uma simples pesquisa, é possível perceber uma peculiaridade no chamado Império Russo: enquanto outras monarquias absolutistas, como a da França, tiveram sua ruína em períodos muito anteriores da humanidade — tendo a Revolução Francesa ocorrido no século 18 —, no norte da Europa esse movimento só se deu no século 20, quase em paralelo com a Primeira Guerra Mundial.
Isso porque, como os antigos impérios eram bastante fechados, em especial no que se referia às tecnologias desenvolvidas internamente — afinal, poderiam ser uma importante ferramenta de dominação, expansão ou inclusive troca —, o Império Russo tinha pouco acesso aos novos meios industriais que, no centro da Europa, já haviam se popularizado e proporcionado avanço naquelas sociedades, motivado também pelo instinto de competição capitalista. E, com isso, os russos se viram assustadoramente atrasados com relação ao restante do mundo.
Próximo do fim do século 19, algumas dessas tecnologias finalmente chegaram ao Império Russo. E com ferramentas tão eficientes em mãos, aquela sociedade se viu em um acelerado processo de industrialização.
No entanto, a Rússia Czarista sentia forte necessidade de se igualar tecnicamente ao restante da Europa, no que tangia às indústrias, o que levou à formação de uma classe operária muito numerosa e importante na sociedade. Apesar disso, o processo de industrialização ainda adotou outra estratégia: o avanço com "saltos", pulando algumas dessas etapas, de acordo com o portal UOL Educação.
Dessa forma, chegou um momento que a sociedade russa enfrentou uma crise que, devido às decisões do czar, seria inevitável: nela, estruturas modernas e arcaicas coexistiam, o que desnivelava o ritmo de produção e, então, as estruturas sociais ficavam cada vez mais desiguais, o que levou um número alto de pessoas a sofrer até mesmo com a fome.
Revoltados com as condições as quais eram submetidos, aquela população pobre e amplamente afetada pela desigualdade social — formada majoritariamente pela classe operária do Império Russo, que não só conhecia as teorias Marxistas como também as apoiava — se uniu em um ato espontâneo em 1905 e, sem nem mesmo uma liderança específica definida, iniciou um movimento que seria conhecido como 'A Revolução Russa de 1905'.
Este, porém, ainda era apenas uma fagulha de toda a efervescência que tomaria aquele território nos anos seguintes. Logo após 1905, a monarquia se via definitivamente em crise — embora não tivesse sido dissolvida a esse momento —, enquanto os ideais da esquerda política se popularizavam ainda mais.
Porém, nos 12 anos que separam a Revolução de 1905 e a Revolução Russa, a própria esquerda se dividiu em dois partidos: o bolchevique e o menchevique.
Liderados por Vladimir Lenin, os bolcheviques acreditavam que a revolução socialista só poderia ser alcançada por meio da ação direta do proletariado, sem a ajuda da burguesia, com uma revolução violenta que estabelecesse um Estado socialista centralizado e forte. Os mencheviques, por outro lado, eram liderados por Julius Martov e acreditavam que a revolução socialista só poderia ser alcançada por meio de uma aliança entre a classe trabalhadora e a burguesia liberal.
Em meio a essa efervescência de ideias, foi em 1917 que, de fato, começou a grandiosa Revolução Russa. Embora por muitos anos houvesse uma forte divisão entre os bolcheviques e os mencheviques, quem liderou, de fato, o movimento revolucionário foram aqueles comandados por Lenin que, posteriormente, auxiliou no surgimento da chamada União Soviética em 1922, sendo seu chefe de governo até 1924, ano de sua morte.
Depois de Lenin, quem empossou o comando do governo da URSS foi Alexei Rykov. Este, porém, perdeu o controle do país ainda na década de 1920 para o Partido Comunista, comandado por Josef Stalin, que defendia a necessidade de um Estado centralizado e burocrático, que pudesse controlar todos os aspectos da vida social e econômica, sendo um país forte e autossuficiente, e se tornou governante em 1927.
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