Fotografia de Vanderlei em competição de 1999 - Divulgação/Youtube e Getty Images
Personagem

Quando faltavam 7 para a linha de chegada, o atleta Vanderlei foi empurrado por um manifestante

A maratona em que o corredor brasileiro deu sua melhor performance foi também aquela em que foi sabotado por uma agressão

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 14/07/2021, às 09h33

Vanderlei Cordeiro de Lima é um dos maiores maratonistas já nascidos em território nacional. Mais do que seu talento, ele é reconhecido por ser um exemplo de espírito esportivo: o dia da maior conquista de sua carreira, em que ele recebeu uma medalha olímpica de bronze, também foi o dia em que o atleta foi agredido no meio da prova. 

O fato de ter continuado a despeito do que lhe aconteceu, e ainda conseguido estar entre os primeiros três colocados impressionou não apenas os espectadores, mas também os jurados do Comitê Olímpico Internacional.

Outros competidores, na situação do brasileiro, poderiam ter ficado com raiva e interrompido a maratona ali mesmo, porém Vanderlei não deixou que o contratempo o fizesse desistir, e ainda teve a energia de comemorar sua colocação quando cruzou a linha de chegada, conquistando o bronze. 

Início da carreira 

Segundo documentado pelo site oficial do atleta, sua paixão pela corrida começou já no início da vida. Isso pois o paranaense, quando jovem, época em que já trabalhava na roça, gostava de cruzar as plantações de café e cana-de-açúcar que ficavam no caminho de sua escola a toda velocidade que conseguia. 

Foi um treinador do colégio de Vanderlei, inclusive, que identificou a aptidão do garoto para maratonas quando ele tinha somente 12 anos. Assim, o brasileiro começou a praticar desde cedo o esporte que terminaria se tornando sua carreira. 

E não demorou muito para que o jovem atleta entendesse que as corridas poderiam virar sua profissão: com apenas 16 anos, seu destaque já o levou a ser convidado para treinamentos mais sérios. 

Ele passou por diversas equipes e treinadores renomados, e em 1994 a preparação começou a dar frutos, que foi quando o corredor teve a oportunidade de participar da Maratona de Reims, na França, onde desempenhou o papel de “coelho”. 

O termo se refere a maratonistas que são contratados pelas organizações para correr apenas metade da prova, estabelecendo uma velocidade média para os atletas que estão de fato competindo. 

A mais famosa maratona 

Em 2004, o paranaense já era um corredor de sucesso internacional, sendo uma das principais apostas do Brasil para ganhar o ouro em sua categoria nas Olimpíadas de Atenas. Tratava-se ainda de uma edição particularmente animadora da competição internacional, por estar ocorrendo no país que inventou as olimpíadas. 

No dia da maratona, o atleta brasileiro teve uma das melhores performances de sua carreira, liderando a prova por mais de uma hora e estando ainda muito à frente dos outros competidores. 

A linha de chegada ficava ao fim de 35 quilômetros, todavia quando faltavam apenas 7 para a tão sonhada vitória, um manifestante irlandês o empurrou, não apenas atrapalhando seu curso mas a própria concentração do corredor. O ocorrido foi relembrado pelo site Olimpíada do Dia em uma matéria de 2020. 

Trecho de gravação das Olimpíadas de Atenas que mostra momento que Vanderlei foi empurrado para longe do curso / Crédito: Divulgação/ Youtube/ Olympics

 

Apesar do obstáculo, Vanderlei estava determinado a dar o seu melhor, e continuou correndo. Com a ajuda de alguns outros atletas que viram o episódio, o brasileiro continuou liderando a maratona durante dez minutos antes de dois outros corredores conseguirem ultrapassá-lo. 

Apesar da injusta intervenção de alguém que deveria estar apenas assistindo a corrida, e do maratonista ter acabado chegando em terceiro lugar, ele comemorou mesmo assim, fazendo seu tradicional gesto de “aviãozinho” que gostava de simular quando tinha uma vitória. 

 "Na verdade, naquele ano havia um sonho que eu sempre alimentei, que era o de conquistar uma medalha olímpica. Não importava a cor. Então, quando cheguei ao término da prova no Estádio Panathinaikos e senti que já tinha ganhado o bronze, esqueci daquilo que tinha ocorrido no quilômetro 35”, comentou Vanderlei na época, segundo divulgado pelo seu site oficial. 

“A minha conquista foi maior que a decepção de não ter ficado com o ouro. Para falar a verdade, eu nem estava mais preocupado com aquilo que o cara tinha feito. Nunca vou reclamar da vida. Eu só tenho que agradecer a Deus por tê-la me dado", concluiu ainda o maratonista. 

Sua ação inspiradora fez com que recebesse uma premiação ainda mais exclusiva que as da olimpíada: ele foi escolhido pelo Comitê Olímpico Internacional para ganhar a medalha Pierre de Coubertin como forma de reconhecimento pelo seu espírito olímpico. Com isso, Vanderlei ainda se tornou o único atleta latino-americano a receber essa honrada condecoração.

Fotografia de Vanderlei acendendo pira olímpica nas Olimpíadas Rio 2016 / Crédito: Getty Images 

 

Sua importância no mundo do esporte foi tanta que ele foi até mesmo escolhido para acender a pira olímpiada da cerimônia de abertura das últimas olimpíadas, de 2016, que foram sediadas no Brasil. 

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