Espetáculos faziam parte da política do "Pão e Circo", sendo uma forma de entretenimento público nas grandes cidades romanas
Luiza Lopes Publicado em 13/11/2024, às 18h00 - Atualizado em 14/11/2024, às 18h36
Após 24 anos desde o sucesso de "Gladiador" (2000), a sequência de Ridley Scott chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 14. A trama de “Gladiador 2” se passa 20 anos após os eventos do original, com Lucius (Paul Mescal), agora adulto, se tornando um gladiador implacável.
O filme, que repete as cenas eletrizantes do primeiro longa, segue a jornada dele após ser capturado pelos exércitos dos co-imperadores Caracalla (Fred Hechinger) e Geta (Joseph Quinn), liderados pelo general Marcus Acacius (Pedro Pascal), na Numídia, África do Norte.
Para o historiador Rodrigo Rainha, o filme e sua continuação refletem uma visão contemporânea do passado, oferecendo uma narrativa histórica estilizada. "Embora não se trate de uma reconstrução rigorosa, a obra é baseada em pesquisas que cruzam informações históricas relevantes", destaca em entrevista ao Aventuras na História.
“Na Roma Antiga, os combates de gladiadores aconteciam não só no Coliseu, mas em várias arenas distribuídas pelo Império, inclusive em cidades como Pompeia”, afirma.
A composição dos gladiadores "também era variada", afinal, não se tratava apenas escravos, mas também homens livres e ex-prisioneiros de guerra, muitos deles, inclusive, guerreiros ou líderes capturados.
Além disso, Rainha pontua que o público via os gladiadores como figuras ambivalentes, “tanto marginais quanto ícones de virilidade e força”.
“Eles eram ícones de virilidade. Muitas vezes você tinha ideia de vários relatos de figuras importantes, mulheres, homens romanos, que iam para poder ter a possibilidade do sexo com aquele sujeito, com a ideia da grande virilidade que, pela força, pela violência, pelos músculos, aquilo representaria”.
Ao mesmo tempo, eles eram a escória do mundo romano. Não é o escravismo moderno, mas ainda é escravo, ainda é trabalho compulsório, ainda é trabalho sobre imposição. Então, eles eram grandes figuras de um espetáculo onde a marginalidade era posta em perspectiva”, acrescenta.
Segundo o historiador, os espetáculos faziam parte da política do "Pão e Circo", uma forma de entretenimento público nas grandes cidades romanas, que envolvia não só combates, mas uma ampla variedade de eventos.
“Você tinha nas grandes cidades problemas sociais que se marcavam e, historicamente, a necessidade de entreter esse público. Tem muitas formas de entretenimento ao longo da História. Enforcamentos e mortes muitas vezes eram uma forma de entretenimento, por exemplo. E, durante estes momentos de 'catarse coletivo', eram distribuídos pão e bebidas", explica.
No entanto, pensadores e filósofos romanos, como os estoicos, condenavam a crueldade desses espetáculos e defendiam a dignidade humana contra tais práticas. “Sempre existiram os adversários da prática, sempre existiram os adversários desses círculos associados ao espetáculo da violência”, ressalta.
No auge do Império Romano, “filósofos como Marco Aurélio também questionaram a necessidade de tais exibições de violência”, abrindo caminho para uma marginalização gradual das arenas.
Além disso, a crescente influência do cristianismo no império, "formalizada pela conversão do imperador Constantino após a vitória na Batalha da Ponte Mílvio", intensificou essa mudança.
A nova religião oficial do império promovia uma ética que condenava o uso de seres humanos para entretenimento violento, embora outras tentativas de reviver essas práticas tenham surgido, especialmente sob o governo de Juliano, o Apóstata, que buscou retornar a antigos costumes.
Segundo o historiador, ao longo do século V as arenas foram caindo em desuso, refletindo a transformação cultural do império e a fragmentação do próprio território. Com o avanço de povos que possuíam outras formas de entretenimento, o espetáculo dos gladiadores foi progressivamente extinto.
A dissolução do Império Ocidental, em 476, consolidou a queda das arenas. Nos territórios do Império Romano Oriental, conhecido como Império Bizantino, os combates gladiadores eram vistos com uma nostalgia cada vez menor, simbolizando a transição para um novo período em que a violência pública passava a ser lembrada como uma relíquia brutal do passado.
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