Imagem de propaganda nazista mostra crianças com deficiência - Divulgação/Memorial do Holocausto dos EUA
Holocausto

Pessoas com deficiência: as vítimas pouco lembradas do Holocausto

Apesar de pouco lembradas, as pessoas com deficiência foram as primeiras vítimas dos nazistas, tendo sido excluídas, esterilizadas e mortas

Giovanna Gomes Publicado em 06/10/2024, às 11h00

Embora muitas vezes esquecidas na memória do Holocausto, as pessoas com deficiência foram as primeiras vítimas do nazismo. Consideradas "indesejáveis", elas enfrentaram campanhas de eliminação sistemática, que incluíam assassinatos e esterilizações forçadas.

Para justificar esses atos cruéis, os nazistas usavam termos degradantes como "comedores inúteis" e "vidas indignas de serem vividas", retratando-as como um "fardo" para a sociedade, explica o artigo "Pessoas com deficiência foram vítimas do Holocausto, excluídas da sociedade alemã e assassinadas por programas nazistas". 

Essa desumanização serviu para manipular a opinião pública, legitimando a segregação em instituições e, no fim, o extermínio dessas pessoas. A narrativa nazista afirmava que os recursos da sociedade deveriam ser destinados a quem "realmente merecia", enquanto aqueles considerados incapazes eram descartados sem piedade.

Segregação

Até o início do século 20, as pessoas com deficiência que viviam na Alemanha estavam, em sua maioria, integradas na sociedade. De acordo com o artigo, uma pesquisa realizada pelo governo nacional na década de 1920 revelou que apenas uma pequena parte dessas pessoas residia permanentemente em instituições, e, quando o faziam, geralmente era durante a juventude, para fins de educação ou reabilitação.

Por exemplo, enquanto 17,5% das pessoas cegas viviam em escolas especializadas, a grande maioria (80,4%) vivia na comunidade. De maneira semelhante, um terço das pessoas com deficiência intelectual ou psicológica também vivia fora das instituições.

Além disso, uma rede de organizações lideradas por pessoas com deficiência se dedicava a garantir sua inclusão social e o acesso ao trabalho. Grupos como a Associação Alemã de Acadêmicos Cegos, fundada em 1916, e a Liga de Autoajuda dos Deficientes Físicos, criada em 1919, ofereciam treinamento e oportunidades de emprego, promovendo a autonomia dessas pessoas.

Imagem de propaganda nazista mostrando homens deficientes / Crédito: Divulgação/Memorial do Holocausto dos EUA

 

Essa trajetória de inclusão, porém, foi interrompida com a ascensão dos nazistas ao poder em 1933, já que uma das primeiras medidas do regime foi excluir deficientes de programas governamentais, como os empréstimos matrimoniais, que ofereciam incentivos financeiros para recém-casados.

A partir daí, iniciou-se a segregação dessas pessoas em instituições, na quais muitas foram forçadas a trabalhar até serem assassinadas.

Campanha de ódio

Além disso, uma campanha de ódio implacável foi iniciada, com cartazes, panfletos e exposições nas escolas e bibliotecas, promovendo a superioridade ariana e desumanizando os chamados "inaptos".

Pessoas feitas prisioneiras em campo de concentração nazista / Crédito: Getty Images

 

Nesse contexto, a Lei para a Prevenção de Filhos com Doenças Hereditárias, que tornava a esterilização compulsória para pessoas com deficiência, foi promulgada em julho de 1933. 

"Esta nova lei fornece uma base para a esterilização involuntária de pessoas com deficiências físicas e mentais ou doenças mentais, Roma (ciganos), 'elementos antissociais' e pessoas negras", explica a Enciclopédia do Holocausto (Holocaust Encyclopedia).

A única maneira de evitar a esterilização era comprometer-se a viver em uma instituição. Com o tempo, tornou-se cada vez mais perigoso para pessoas com deficiência serem vistas em público ou tentarem trabalhar.

"Algumas pessoas surdas e deficientes foram submetidas à esterilização e ao aborto forçados, e muitas foram assassinadas", explica o Holocaust Memorial Day Trust.

Casamentos proibidos

Em 1935, um mês após o casamento entre "arianos" e judeus ser proibido, o matrimônio entre "arianos" e pessoas com deficiência foi banido. No mesmo ano, essas pessoas foram impedidas de frequentar a escola após o ensino fundamental, e logo foram completamente excluídas do sistema educacional, a menos que estivessem em uma instituição.

Campro de concentração de Auschwitz / Crédito: Getty Images

 

Programas de extermínio

O programa Aktion T4, que visava adultos com deficiência, resultou no assassinato dessas pessoas em câmaras de gás. Embora seja o programa mais notório, não foi o primeiro nem o único a visar pessoas com deficiência.

"O programa se concentrou em pessoas com deficiências que viviam em casas de repouso ou hospitais estatais. Médicos e enfermeiros nessas instituições foram solicitados a preencher um questionário sobre cada paciente individual. A equipe nas instituições foi informada de que o questionário era para coletar estatísticas para o governo. O verdadeiro propósito da pesquisa, estabelecer vítimas, foi ocultado", detalha o The Holocaust Explained.

O assassinato de crianças com deficiência começou em 1939 e rapidamente se tornou parte do procedimento padrão em hospitais na Alemanha e Áustria.

À medida que o Holocausto progredia, as pessoas com deficiência também foram vítimas de outros programas de extermínio nazistas. Além disso, muitas foram deportadas para campos de concentração ou guetos, sendo que 3.200 cegos foram enviados somente de Theresienstadt.

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