Khalaf viveu uma perturbadora saga como escrava sexual do Estado Islâmico, até conseguir fugir em um momento decisivo
Giovanna de Matteo Publicado em 06/12/2020, às 09h00
Era agosto de 2014, quando Farida Khalaf, de uma minoria étnica chamada yazid e que na época tinha apenas 17 anos, passou por um sequestro organizado por terroristas membros do grupo Estado Islâmico.
Ela ainda morava com a família em uma região montanhosa do Iraque, em Kocho, quando viu seu sonho de se tornar professora de matemática sendo destruído. A moça não estava preparada, mas acabou sendo raptada pelos homens extremistas, e vendida como escrava sexual na cidade de Raqqa, na Síria.
Em entrevista ao JN em 2018, Khalaf relembrou seus dias de cativeiro. Por lá ela viveu um período de quatro meses de terror e desesperança, onde o desespero a levou a tentar suicídio em diferentes momentos.
Segundo o seu relato, ela passou por torturas que incluíam principalmente espancamento e agressões físicas, que lhe causou ferimentos tão graves que por cerca de dois meses ficou paralisada, sem conseguir se levantar e andar.
Hoje em dia, por conta das maldades que passou, ela sofre de uma sequela que lhe deixou cega de um olho. Ela também dividia o espaço com outras mulheres e crianças. Relembrando o momento, ela conta que viu todas as atrocidades contra elas acontecerem na sua frente.
Imagens de estupro, violência, tortura e violação passavam pelos seus olhos todos os dias, e quando tentava defender alguma delas, também era gravemente punida.
Quando questionada pelo veículo sobre como superou e venceu as adversidades daquele lugar, ela diz que a fé foi o que garantiu esperança: "... tive fé e lembrei-me das palavras do meu pai: dizia que se fosse forte conseguiria enfrentar todos os problemas. Enfrentei-os, superando as sucessivas violações e as atrocidades para com todas as crianças".
Tudo ou nada
Seu pai, por sua vez, foi morto antes de ela ser sequestrada, por conta de seu envolvimento com o exército iraquiano. Desse modo, ela como filha de um "opositor" do Estado Islâmico, percebeu que seria a próxima da família a ser morta, se não fugisse logo daquele lugar em que estava aprisionada.
Um dia, por um descuido da segurança, ela conseguiu ligar para seu tio. Naquele momento, qualquer decisão seria definitiva para se livrar daqueles horrores. E a oportunidade se deu através do telemóvel de um dos chefes do grupo terrorista, que ela havia conseguido roubar.
Conseguindo entrar em contato, revelou que estava viva e que voltaria para casa. Diante da surpresa, o tio não acreditou de primeira que estava mesmo falando com sua sobrinha, pois acreditava que ela já estava morta.
Depois de ter dado a sua localização para o familiar, ele constatou que seria quase impossível de fugir, contudo, as possibilidades não desanimaram a jovem que passou por momentos de desespero. Assim, ela iniciou rapidamente um plano de fuga.
A fuga
Na mesma noite, escapou ao lado de outras cinco outras meninas, sendo que uma delas tinha apenas 10 anos de idade. Elas correram para fora do local, fugindo pelo deserto sírio até o amanhecer, quando se depararam com uma casa abandonada. Foi nesse momento que decidiram parar para renovar as energias e evitar possíveis capturas.
Depois do descanso, Farida percebeu a existência de uma habitação familiar. Quando contatou os moradores locais, eles ofereceram apoio para todas, inclusive uma estadia de três dias. O fim do pesadelo finalmente estava próximo.
Em seguida, a família chamou alguns contrabandistas que também ajudou-as a regressar para o Iraque.
Quando finalmente conseguiu voltar para sua casa, encontrou seu tio e irmão. Infelizmente, nunca mais pôde ver seu pai. Além disso, ela explicou que a maioria de seus amigos desapareceu, e alguns continuam presos.
Em liberdade após tantos anos de horror, hoje ela é ativista e autora do livro "A menina que venceu o Estado Islâmico", onde narra sua experiência no cativeiro do EI.
Ao JN, ela disse que seu grande objetivo atualmente é denunciar as práticas do grupo extremista e, segundo suas próprias palavras: "passar pelo maior número de países para encontrar apoio para resgatar as mulheres e as meninas das mãos do Estado Islâmico. Já foram descobertas mais de 47 valas comuns de yazidis e há centenas de pessoas a viver há três anos em campos de refugiados sem condições. Vou lutar para que consigam a liberdade e quero muito levar o Estado Islâmico à Justiça."
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