Mesquita icônica tinha mais de 800 anos; mas entidade terrorista culpa os EUA pela destruição
A mesquita Al-Nuri, em Mosul, era tão icônica que deu à cidade o seu apelido em árabe: al-Hadba, "o corcunda". É assim que os habitantes carinhosamente se referiam a um de seus minaretes, de 45 metros, que, já no século 14, nos relatos do viajante Ibn Batuta, era inclinado como hoje. Havia até uma lenda para explicar a inclinação: o profeta Maomé teria passado voando por ali em sua viagem ao Céu, fazendo a torre se curvar em respeito.
Em tempos recentes, porém, ela ganhou fama por uma razão muito menos simpática. A mesquita foi onde Abu Bakr al-Baghdadi líder do Daesh - o infame Estado Islâmico - fez em 2014 sua única aparição televisionada, afirmando que era o "Califa" - isto é, o líder de todos os islâmicos do mundo.
Ontem, após 841 anos de existência, ela deixou de ser. Isto é o que sobrou dela, em foto aérea do Exército do Iraque:
A mesquita em destroços após o bombardeio / Reuters
O Estado Islâmico não é estranho à destruição de patrimônio histórico, colecionando um grande currículo que incluiu a tentativa de dinamitar as ruínas da civilização de Palmira, na Síria, e diversas mesquitas xiitas. Pode soar estranho eles destruírem uma mesquita com supostamente tanto significado para eles próprios, mas o caso é que, dentro do radicalismo salafita, apreciar um prédio histórico pode ser visto como uma forma de idolatria (mais detalhes no link abaixo).
Mas esta, eles não assumem. Em um comunicado oficial, culparam os Estados Unidos pela destruição da mesquita e seu minarete. Imediatamente os militares dos EUA negaram. "Nós não atacamos essa área", diz o coronel das Forças Armadas dos EUA John Dorrian, à Reuters.
De acordo com o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, a destruição da mesquita pelo Daesh é uma declaração oficial de derrota. Desde novembro do ano passado, o governo do Iraque e a organização terrorista travam a Batalha de Mosul, pelo controle da cidade. Que, pelas informações que chegam, o Estado Islâmico está perdendo.
A tristeza dos iraquianos se deve principalmente porque na próxima semana, dia 25 ou 26, acontece o Eid al-Fitr, festival que marca o fim do Ramadã (o mês de jejum muçulmano), a mesquita tem extrema importância na celebração. "Este é um crime contra o povo de Mosul e todo o Iraque, é um exemplo de por que essa brutal organização deve ser aniquilada", diz Joseph Martin, general do exército das forças armadas dos Estados Unidos, à Al Jazeera.