Em 2010, o jornal oficial do Vaticano divulgou que a Igreja Católica finalmente, depois de mais de 40 anos, perdoou os Beatles; mas como começou confusão?
Éric Moreira Publicado em 30/03/2024, às 10h00 - Atualizado em 01/04/2024, às 18h21
Entre os anos de 1960 e 1970, o mundo da música presenciou um fenômeno, até então, nunca visto, que superaria qualquer outra figura musical e, além disso, influenciaria para sempre bandas de vários gêneros: os Beatles.
Com uma carreira relativamente breve, encerrando-se 10 anos após a formação, a banda teve tempo suficiente para conseguir, em todos os cantos do mundo, conquistar uma legião de fãs. Eles até mesmo foram agraciados com medalhas da Ordem do Império Britânico, em 1965, diretamente pela rainha Elizabeth II.
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Formado por John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison, o grupo lançou 12 álbuns de estúdio e mais de 200 músicas. Isso sem destacar que a revista Time os incluiria na lista das 100 pessoas mais importantes do século 20.
Com tanto sucesso e atenção, os Beatles não conquistaram apenas fãs. Graças a uma fala polêmica de John Lennon em 1966, o quarteto de Liverpool acabou conquistando o desgosto de uma instituição — e de muitos de seus fiéis — poderosa: a Igreja Católica. Entenda!
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Naquele ano, John Lennon fez a polêmica afirmação em entrevista ao jornal londrino The Evening Standard. Ele disse pensar que os Beatles seriam mais populares que Jesus. Bem, não surpreende que essa fala tenha enfurecido muita gente.
O cristianismo irá desaparecer. Vai diminuir e encolher. [...] Hoje, [os Beatles são] mais populares que Jesus. Não sei quem vai desaparecer primeiro, o rock'n'roll ou o cristianismo", disse Lennon na ocasião.
Rapidamente, essa fala seria publicada descontextualizada em uma revista dos Estados Unidos, e vários grupos cristãos decidiram por boicotar o grupo. Por exemplo, algumas rádios decidiram não mais tocar músicas dos Beatles; alguns "ex-fãs" queimavam discos publicamente; até mesmo um membro da Ku Klux Klan criticou a fala de Lennon, segundo a Rolling Stone Brasil.
Para tentar aliviar essa tensão, o empresário Brian Epstein organizou, pouco depois da fala infeliz de John Lennon, uma série de coletivas de imprensa nos Estados Unidos, antes de uma turnê da banda. Em uma das entrevistas, o cantor pediu desculpas pela fala, e se justificou:
"Não estava dizendo como somos melhores ou maiores, ou nos comparando com Jesus Cristo, como uma pessoa ou Deus [...] Estava conversando com um amigo e usei a palavra ‘Beatles’ como algo remoto — ‘Beatles’ como as outras pessoas nos veem. Disse como [a banda] tem mais influência nos jovens em comparação com qualquer outra coisa, incluindo Jesus. Disse dessa forma e fui mal interpretado", disse na ocasião.
No entanto, embora a justificativa tenha aliviado a tensão entre os Beatles e muitos de seus fãs, a Igreja Católica levou bem mais tempo para aceitá-la.
Ao passo que chamou a banda até mesmo de "demoníaca" com o tempo, em 12 de abril de 2010, o jornal oficial do Vaticano, L'Osservatore Romano, publicou não só uma reportagem em que elogiava os Beatles, como também alegava que o comentário ficou no passado, e que Lennon estava perdoado.
Neste ano, vale mencionar, fora relembrado os 30 anos da morte de John Lennon, assassinado nos EUA por Mark David Chapman.
É verdade, eles usaram drogas; levados pelo sucesso, tiveram vidas dissolutas. Até mesmo chegaram a dizer que eram maiores que Jesus. Mas, ao ouvir as suas músicas, tudo isso parece distante e sem sentido. Suas belas melodias, que mudaram a música pop para sempre e seguem nos despertando diferentes emoções, seguem intactas, como pequenas pedras preciosas", publicou o jornal.
No entanto, um dos Beatles ainda vivo, Ringo Starr, criticaria a publicação do jornal do Vaticano em entrevista à CNN. "O Vaticano disse sermos satânicos ou possivelmente satânicos - e mesmo assim perdoaram a gente? Provavelmente, têm mais assuntos para falar além dos Beatles", alegou.
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