Vladimir Herzog (à esqu.) e cena de Ainda Estou Aqui (à dir.) - Arquivo Nacional e Divulgação
Ainda Estou Aqui

Filho de Vladimir Herzog elogia 'Ainda Estou Aqui': 'Homenagem'

Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog, fala sobre a importância do longa para dar visibilidade à luta de famílias vítimas da repressão

Gabriel Marin de Oliveira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 12/11/2024, às 16h30

O lançamento do filme 'Ainda Estou Aqui', dirigido por Walter Salles, reacendeu a discussão sobre a violência da ditadura militar no Brasil. Baseado na história de vida de Marcelo Rubens Paiva, o longa retrata a luta da família após o assassinato do patriarca.

Em entrevista exclusiva à VEJA, Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, também vítima da ditadura, compartilhou suas impressões sobre o filme e a importância de manter viva a memória das vítimas.

"É uma grande homenagem às heroínas da ditadura, como a Eunice [Paiva], e também para toda a família", afirma Ivo. Ele destaca que o filme, ao mesmo tempo em que homenageia as vítimas, serve como um alerta sobre a falta de compromisso do Estado brasileiro com a memória e a justiça.

"É quase um processo de tortura prolongada infinita", lamenta Ivo. "A gente está no terceiro mandato do Lula, e o governo proibiu que o estado lembrasse dos 60 anos do golpe de 64, sendo que ainda há muita história que precisa ser contada e muita Justiça que precisa ser feita."

O filho de Vladimir Herzog critica a ineficiência dos órgãos governamentais responsáveis por investigar e reparar os crimes da ditadura. "A Comissão de Mortos e Desaparecidos, que era uma promessa de campanha de Lula, demorou mais de um ano para ser restituída. Mas foi só no papel, porque não existe verba", denuncia.

Ivo ressalta o papel fundamental do cinema e da arte em denunciar as atrocidades do passado. "A arte ajuda a dar visibilidade a temas inerentes à sociedade, mas não tem essa obrigação. A beleza da arte denuncia os horrores que a humanidade comete, mas a responsabilidade por esses horrores, em última instância, é do Estado", afirma.

Caso pessoal

O caso de seu pai, Vladimir Herzog, serve como exemplo da impunidade que persiste no país. "A primeira sentença, de 1978, do juiz Márcio Moraes, ordenava que o Estado investigasse as circunstâncias da morte dele, mas isso nunca foi feito. Não foi nem contestado, só transitou em julgado. É uma ordem judicial que não foi cumprida até hoje", revela Ivo.

Ao falar sobre o impacto da perda do pai em sua família, o entrevistado destaca a importância de manter viva a memória e de não permitir que a história seja esquecida. "Não é agradável falar da morte do meu pai, mas a gente fala por que é importante. Se o estado brasileiro não fala, e a família também não falar, aí é que vão se esquecer mesmo", afirma.

Ivo finaliza a entrevista ressaltando a importância de continuar investigando a violência da ditadura. "A partir do momento em que o Estado brasileiro investiga e conta essa história — e eventualmente pede perdão e reconhece que foi um erro -, cria-se o caminho para que essas atrocidades não voltem a acontecer."

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