O conselho do colégio deliberou remoção do afresco, que exibe indígenas e negros em situação de opressão
Joseane Pereira Publicado em 03/07/2019, às 08h00
Ao caminhar pelos corredores do Colégio George Washington, em São Francisco, é possível observar cenas que retratam o passado das Américas, incluindo a vida do primeiro presidente dos EUA. Entretranto, o afresco Life of Washington, construído em 1936 pelo artista russo Victor Arnautoff, está com os dias contados: em votação, membros do conselho escolar decidiram remover a pintura das paredes, empreendimento que levará anos para ser concluído.
Imagens degradantes
Com 480 m² e um total de 13 painéis, o mural inclui cenas de um negro escravizado trabalhando para George Washington. Outra cena, uma das mais polêmicas, mostra um colonizador branco de pé sobre um nativo americano morto. Demonstrar o implacável genocídio de comunidades tradicionais e a violência contra os negros era intenção de Arnautoff, que trabalhou orientado pelo famoso artista mural Diego Riviera, conhecido por demonstrar injustiças sociais através da arte.
A intenção do artista era criticar o primeiro presidente dos EUA, mostrando sua confiança na escravidão e a brutalidade contra indígenas ocorrida historicamente. A representação violenta dividiu opiniões dos membros da escola e da comunidade artística: enquanto uns optaram pela remoção das imagens degradantes, outros afirmam que os horrores da história norte-americana devem ser mostrados.
Para os últimos, cobrir o mural seria uma forma de censura artística e esconderia a violência histórica perpetrada contra nativos americanos e afro-americanos. As pinturas seriam uma forma de demonstrar o outro lado da História, escondido atrás dos discursos de vitória e progresso.
Outros, como a professora de Estudos Indianos Americanos na California State University, Joely Proudfit, apontam que apesar de ter sido inovador em sua época, o mural não trás qualquer tipo de reparação ou força para as comunidades oprimidas, cuja experiência é diretamente afetada. “Pense em todas as famílias, as crianças que passaram por lá. Que imagens eles veem? Indígenas mortos para a esquerda e afro-americanos em cativeiro para a direita”, afirmou ela.
Na década de 1960, estudantes já haviam pedido a remoção da obra. À época, o artista afro-americano Dewey Crumpler teria pintado murais em resposta, retratando latinos, nativos indígenas, afro-americanos e asiáticos em posição de resistência, superando a opressão e exibindo capacitação.
Recentemente, Crumpler apoiou os murais de Arnautoff em seu canal do YouTube, dizendo: “A história é cheia de desconforto, mas é exatamente disso que os seres humanos precisam para garantir a mudança. O que mudaria se nós víssemos apenas os aspectos positivos da natureza humana, e não sua amplitude total? ”
Reparação histórica
A remoção do mural acompanha uma série de esforços que o estado de Washington vem fazendo para atingir o objetivo de reparar injustiças históricas. Em 2018, uma estátua de bronze retratando um nativo americano aos pés de um missionário católico foi removida pelas autoridades municipais. No início de Junho, o governador da Califórnia, Gavin Newsom, emitiu um pedido oficial de desculpas para o massacre sistêmico dos nativos americanos.
Esses esforços mostram que existem inúmeras maneiras de retratar a História, corrigindo-a para não causar mais danos a comunidades marginalizadas. Quanto ao espaço vago no colégio, Proudfit acredita que será a oportunidade de inserir obras de arte que elevem as comunidades marginalizadas, ou que sejam construídas por seus representantes: "Serão feitos novos afrescos. Para mim, a reparação permite que a Primeira Nação e as primeiras pessoas que ocuparam esse território sejam ouvidas de uma vez por todas”.
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