Dois dos três filhos homens do casal tiveram mortes trágicas, gerando boatos de uma maldição bizarra sobre a família imperial brasileira
Vanessa Centamori Publicado em 09/08/2021, às 08h00
Fazia pouco tempo desde que Dona Leopoldina havia dado à luz a princesa Maria da Glória, em 4 de abril de 1819. No entanto, logo ela descobriu que, mais uma vez, estava grávida. Desta vez, seria um menino: o primeiro homem, para a alegria do pai, D. Pedro I.
Na época, um herdeiro significava grande felicidade para a coroa. No entanto, a gravidez não estava se desenrolando da melhor forma. O novo filho poderia resultar, mais uma vez, em um parto doloroso, nas mãos do cirurgião real Doutor Picanço, que era o parteiro oficial da imperatriz consorte. O pior, de fato, estava para ocorrer.
Um parto jamais foi realizado — na realidade, as dores foram ainda mais intensas. Isso pois não aconteceu uma parição natural, mas uma cirurgia para a retirada do bebê já morto, que faleceu ainda no útero da mãe.
Tal infortúnio ocorreu no dia 26 de abril de 1820, quando o pequeno príncipe Miguel de Bragança veio ao mundo já sem vida. Mesmo morto, ele seria considerado Príncipe da Beira, título herdado da irmã, Maria da Glória (Princesa da Beira).
No entanto, na prática, o título para o natimorto não serviria de nada. Outra homenagem a ele foi a honraria de Infante de Portugal, que honrou sua pobre alma, jamais nascida para governar.
O destino do próximo filho de Leopoldina com D. Pedro I foi bem parecido. Ele também ganharia o título de Príncipe da Beira. Só que teve a sorte de nascer com vida e foi batizado, como de costume, com um nome gigantesco: João Carlos Pedro Leopoldo Borromeu de Bragança.
O neném, de certa forma, seria vítima das agitações pré-independência, que explodiram no Brasil. O bebê estava com saúde fragilizada logo no início de sua vida. Como resultado da efervescência política, foi levado às pressas em uma fuga inevitável junto de sua irmã, Maria da Glória, e da mãe, Leopoldina (na ocasião, grávida da princesa Januária).
A soberana e seus filhos partiram do Rio de Janeiro em direção à Fazenda Imperial de Santa Cruz. A razão da pressa era que a imperatriz tinha sido ameaçada pelo General d’Avilez, comandante de tropas portuguesas acampadas no Rio.
O militar lutava para que D. Pedro I voltasse à Lisboa e reclassificasse o Brasil em status de colônia, conforme era vontade da corte portuguesa. Acabou, no entanto, fazendo o governante lamentar a perda do filho.
Isso pois, durante a fuga do recém-nascido com Leopoldina, a criança enfrentou um Sol infernal de 36ºC. Como resultado, a saúde de João Carlos foi ladeira abaixo. O garoto faleceu, tragicamente, no dia 4 de fevereiro de 1822, com somente 11 meses de vida.
A culpa caiu não só sob a pressão do general d’Avilez, que causou a fuga, como também sob uma ama que teria falhado em tratar a criança. Mais uma vez, acontecia uma perda infeliz.
O triste fim dos filhos de D. Pedro I criou um padrão consecutivo de duas mortes precoces. Após o episódio, Leopoldina permaneceu no Brasil, junto de sua família. Seu marido cedeu para o lado dos brasileiros, resultando no importante Dia do Fico, no qual ele declarou, em 9 de janeiro de 1822: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico".
Alguns anos depois, em 2 de dezembro de 1825, nasceu finalmente o herdeiro do trono, D. Pedro II. Como estratégia política do pai para colocá-lo no poder, mais tarde ele teria a maioridade decretada, mesmo que o jovem ainda tivesse apenas 14 anos. Foi coroado como Imperador do Brasil em 18 de julho de 1841.
Curiosamente, D. Pedro II também perderia 2 filhos homens de modo bem precoce. Foram eles Dom Afonso, que morreu em 1847, aos 2 anos, após ter convulsões enquanto brincava na biblioteca do palácio. Depois, outro menino, Pedro Afonso, morreria na manhã do dia 9 de janeiro de 1850. Assim como o irmão, ele teve fortes convulsões, mas, desta vez, em decorrência de uma febre, que também afetou a Princesa Isabel.
Enquanto Isabel melhorou, o garoto morreu de repente, com pouco mais de um ano. Aquilo abalou muito a mãe, Teresa Cristina, mas, mais especialmente D. Pedro II. Ele ficou tão devastado que nunca mais teve filhos com a esposa, deixando de ter relações sexuais com ela. “[Ele ficou] profundamente abalado, emocional e intelectualmente”, descreveu o escritor Roderick J. Barman.
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