Por muitos séculos, se dizia que o sucesso de certas figuras vinha de um acordo macabro. Entenda a origem dessa história
Tiago Cordeiro Publicado em 13/12/2019, às 08h00
Robert Leroy Johnson era fraco no violão. Tocava mal, por mais que treinasse. Adolescente, procurou a encruzilhada formada pelo cruzamento das estradas 61 e 49, no Mississipi. Encontrou um homem negro alto, que lhe ofereceu uma troca: a alma pelo talento musical.
Após isso, viria a ser um dos maiores cantores de blues de todos os tempos. Revolucionou o gênero e influenciou gente como os guitarristas Eric Clapton e Jimmy Page — que, aliás, também ficou famoso pelo flerte com o diabo que sua banda, o Led Zeppelin, teria iniciado nos anos 1970.
Robert Johnson é um dos casos mais conhecidos de pacto com o diabo. Ele morreu em 1938, com apenas 27 anos, de causas desconhecidas — há quem diga que o tinhoso tenha cobrado a fatura cedo, mas é mais plausível que tenha sido envenenado por um marido irritado.
A lenda do pacto com o diabo é peculiar no sentido de sempre se aplicar a figuras reais. O músico é só uma entre muitas pessoas que tiveram seu sucesso atribuído a um contrato macabro — outras incluem do virtuoso violinista Nicollò Paganini (1782-1840) até, em círculos evangélicos brasileiros, Xuxa Meneghel.
O caso mais antigo conhecido é o de Teógilo de Adana (?-538), que teria vendido a alma para subir na hierarquia cristã. Ao se tornar bispo, teria se arrependido e tentado voltar atrás.
A figura do diabo, da maneira como ficou consolidada no imaginário ocidental, foi construída ao longo da Idade Média. A cor vermelha, o rabo, o tridente, o pé com casco, nada disso está na Bíblia ou outros textos do judaísmo e do cristianismo.
A ideia de que o capeta é um rei poderoso, que comanda o inferno e faz de tudo para aumentar o número de adeptos entre os humanos levou muita gente para a fogueira nos territórios controlados pelos europeus entre os séculos 12 e 18. E a ideia de que seria possível barganhar com o rei do inferno ganhou sua versão mais épica com o doutor Johannes Georg Faust.
No fim do século 16, começaram a circular na Europa diferentes textos contando a história do médico e alquimista alemão, que nasceu em 1480 e morreu em 1540. Ele teria se tornado um mago poderoso, mas também foi perseguido por culpa da fama de ser sodomita e de revirar cadáveres (o que médicos de então realmente faziam – era como se aprendia anatomia).
Fausto morreu em decorrência de uma explosão em seu laboratório – seu corpo apareceu tão mutilado que só aumentou a lenda de que o demônio teria arrancado a alma dele à força.
Em 1604, uma das versões de sua história foi consolidada pelo escritor Christopher Marlowe. Dois séculos depois, a peça em dois atos Fausto, de Johann von Goethe, veio a público em 1808 – como em nenhuma outra versão, o médico acaba salvo de ir para o Inferno.
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