Ganhador do Oscar melhor filme estrangeiro é um retrato ácido da ditadura militar argentina
Texto Alexandre Carvalho Publicado em 11/10/2020, às 09h00
Nunca houve no Brasil um filme que tocasse nas feridas da Ditadura Militar da maneira contundente como o faz A História Oficial, produção argentina que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro.
A começar pela urgência do longa-metragem: o lançamento aconteceu em 1985, quando a Argentina ainda estava em transição de volta para um regime democrático. Justamente nesse período tão próximo do trauma coletivo, o filme não teve medo de falar de prisioneiros políticos, torturados e assassinados.
Nem das consequências desse terrorismo de Estado para a psique dos “cidadãos de bem”. Condenado à prisão perpétua por seus crimes contra a humanidade, o general-ditador Jorge Rafael Videla assumiu ter decidido que “7 mil ou 8 mil pessoas deveriam morrer para que se vencesse a guerra contra a subversão”.
As estatísticas das organizações de Direitos Humanos falam em mais gente: 30 mil. Números revoltantes que acabaram mobilizando grupos como o das Mães da Praça de Maio – mulheres que se manifestavam levantando grandes fotos de seus filhos e filhas “desaparecidos” pela repressão.
O drama do filme
Muitas, sem esperança de revê-los, buscavam o paradeiro de seus netos – as crianças que sumiam junto com os perseguidos. A História Oficial conta justamente o drama de um casal de classe média em que a esposa (Norma Aleandro) descobre que os pais biológicos de sua filha adotada eram desaparecidos políticos.
E fica pior: seu marido sabia do arranjo e era um colaborador do regime. A mulher, professora de História, fica abalada com a revelação. E aos poucos emerge de sua alienação burguesa para sofrer os dilemas de uma mãe amorosa, que agora tem de lidar com a verdadeira avó da criança.
O vexame dos militares argentinos na Guerra das Malvinas (1982) contribuiu para que as Forças Armadas saíssem da ditadura marcadas pela derrota – e para que Videla fosse condenado.
Um conjunto de circunstâncias que viabilizou um filme desses, no calor do momento, enquanto, no Brasil, ditadores e assassinos pagos pelo governo federal foram poupados por uma anistia “ampla, geral e irrestrita”.
Esses panos quentes permitiram aqui, entre outras barbaridades, que um homicida como o torturador Carlos Brilhante Ustra fosse exaltado, em nossos dias, em pleno Congresso Nacional – pelo deputado que em breve seria eleito presidente da República.
Serviço
A História Oficial, Argentina, 1985
Direção: Luis Puenzo
Onde ver: Netflix
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Assista ao trailer do filme
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