Ilustração do tratamento manicomial do século 20 - Getty Images
Psiquiatria

Como fazíamos sem psiquiatria?

Tratamento doméstico era história de horror

Nara Albuquerque Publicado em 07/11/2018, às 06h00

Ao longo do século 20, ex-psiquiatras como Thomas Szazs, pai da antipsiquiatria, e filósofos como Michel Foucault consideraram a prática uma forma de controle social, que trata como doença o que seriam apenas visões de mundo dissidentes. Ainda que tais críticas sejam ainda hoje um assunto em voga, o fato é que a vida dos doentes antes da psiquiatria era sórdida, brutal e curta.

Nos primórdios, doenças mentais eram consideradas fruto de possessão demoníaca. Essa ideia foi abandonada já no século 5 a.C. Hipócrates foi o primeiro a descartar a influência dos espíritos nos problemas mentais. Ainda assim, os hospícios surgiram apenas na Idade Média. Sua função não era tratar. O fato é que as "terapias" da época não serviam para nada. Eram apenas um jeito de tirar os loucos das ruas.

Os hospícios eram lugares pavorosos, onde os internos ficavam amarrados às paredes ou presos em gaiolas, movendo-se em sua própria imundície. "Antes do século 19, cuidar dos insanos era assunto de família. E tratamento doméstico era uma história de horror", diz o historiador e psiquiatra Edward Shorter, da Universidade de Toronto. As famílias mantinham seus parentes acorrentados ou enjaulados, sofrendo surras e torturas quando não se comportavam.

A coisa só começou a melhorar com a Revolução Francesa, quando Philippe Pinel foi apontado como chefe de enfermaria do Hôpital Bicêtre, o maior hospício de Paris. Um desconhecido médico de província, Pinel soltou os pacientes das correntes e acabou com os tratamentos baseados em sangrias, ventosas e purgantes. Em vez disso, passou a conversar com eles e desenvolveu sua própria teoria sobre os transtornos mentais, causados por incidentes como pancadas no cérebro e problemas como alcoolismo, derrames ou eventos traumáticos. Era o nascimento da psiquiatria, batizada oficialmente em 1808 pelo alemão Johann Christian Reil.

 

 

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