Conheça as muitas variações do monstro temido e celebrado por culturas separadas por oceanos
Marcelo Testoni Publicado em 05/05/2019, às 17h00
Dragões são uma estranha coincidência do folclore mundial. Povos separados por continentes parecem ter chegado independentemente à ideia de um réptil gigante, voador e capaz de falar. Seria pura coincidência?
A tese mais comum é que os fósseis de dinossauros tenham sido a inspiração. Há 40 mil anos, as sociedades primitivas já topavam com eles. Mas talvez a fonte seja bem mais familiar: existe uma igreja na Polônia, em Cracóvia, com os “ossos do dragão Wawel”. Visivelmente, são costelas de baleia.
Mas Cracóvia fica a centenas de quilômetros do mar. Para eles, esses ossos, provavelmente trazidos por viajantes do litoral, eram tão exóticos quanto os dos dinossauros.
A palavra dragão vem do grego drakón ("serpente"). E como o nome de uma criatura comum foi parar num monstro talvez também tenha a ver com as baleias. Vistas por cima dos navios, elas podem parecer serpentes monstruosas. As lendas de serpentes marinhas, transplantadas para a terra, se tornaram os dragões.
Confira algumas das criaturas lendárias.
Tialong (207 a.C)
Long é “dragão” em chinês, e tian, “celestial”. Dragões chineses são criaturas esguias e que se movem como serpentes pelo ar, flutuando, sem asas. Este dragão em particular teria sido avistado pelos sacerdotes antigos puxando a carruagem dos deuses, perto das estrelas. Um guia dos antepassados reais que se manifestava sob a forma de uma serpente flutuante, em espiral e com quatro patas. Entre suas atribuições, a principal seria a de proteger a dinastia imperial. Nem todo dragão chinês é benévolo: o rei-dragão Ao Kuang causava todo o tipo de desastre e exigia sacrifícios humanos.
Zmey Gorynych (C. 1100)
De acordo com a mitologia eslava, zmeys eram seres semelhantes à hidra grega, com três cabeças, mas com poderes para voar, cuspir fogo e assumir a forma humana. O mais famoso dessa linhagem era o Gorynych, que foi morto pelo herói russo Dobrynya Nikitich após ter raptado uma nobre donzela. Na Sérvia, fugindo ao padrão europeu, os zmeys eram bons e afastavam as tempestades.
Ladon (700 A.C.)
Segundo o poeta grego Hesíodo, o réptil de 100 cabeças guardava o pomar de maçãs de ouro da deusa Hera. Ele tinha olhos de fogo e cada cabeça sua falava uma língua diferente. Em uma das versões da lenda de Hércules, foi morto pelo herói no trabalho de
roubar as maçãs. Incorporado à cultura romana, inspirou estandartes militares e a lenda da constelação de Draco.
Coca (C. 1200)
O dragão lendário combatido por São Jorge. Para os portugueses, um monstro com uma
longa e retorcida cauda, que habitava o Rio Minho. Já a versão dos espanhóis voava sobre o mar e devorava aldeões. Ainda hoje, na Festa da Coca, em Monção, Portugal, uma versão mecânica é “morta” por um cavaleiro fazendo as vezes do santo. É a origem da Cuca, outra pronúncia de seu nome – Monteiro Lobato fez do dragão um jacaré para abrasileirar.
Leviatã (500 a.C.)
De acordo com a Bíblia, havia um monstro marinho que destruía embarcações e às vezes era identificado como uma enorme serpente ou um crocodilo. Além de forte, tinha o corpo impenetrável. Na Babilônia, ficou associado à figura de Tiamat, deusa dos mares.
Quetzalcóatl (C. 810)
Os astecas e os maias (que o chamavam de Kukulkan) cultuavam como divindade um réptil emplumado e voador. Segundo sua crença, podia se transformar em gente e garantir a prosperidade das lavouras. Em 1975, seu nome foi associado a uma espécie de pterossauro – a maior criatura a já voar, com uma envergadura de até 14 metros.
Tarasca (C. 1300)
Uma lenda cristã fala sobre esse dragão, que tinha seis patas troncudas como as de um urso, casco de tartaruga, cauda de escorpião e cabeça de leão. Vários habitantes da região de Provença tentaram derrotá-lo, incluindo o rei, sem sucesso. Até que surge Santa Marta – a irmã de Lázaro, aquele que é ressuscitado por Jesus na Bíblia. Ela amansa a tarasca com orações e a conduz para a cidade, onde é morta sem resistência.
Os cidadãos se convertem imediatamente e, sentindo-se culpados por matarem a fera indefesa, rebatizam sua cidade para Tarascon, como até hoje.
Serpe (C. 1500)
Até o século 16, era somente uma variação de dragão. Depois ganhou identidade própria, com apenas duas patas, sem produzir fogo e incapaz de falar. Mas não sem prestígio: aqui no Brasil, uma serpe adornava o cetro de dom Pedro II.
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