"Senhor Deus, vamos viver, eu te imploro, eu quero viver!", escreveu a menina judia em seu diário
Renia Spiegel nasceu no dia 18 de junho de 1924, em Uhryńkowce, atualmente localizada na Ucrânia. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua família foi duramente perseguida pelos soldados nazistas. Entre seus 15 e 18 anos, a judia dedicou-se a escrever em seu diário os horrores que presenciou na guerra.
A vila a qual a jovem nasceu pertencia a Segunda República Polonesa. Renia e sua irmã mais nova, Ariana, estavam no apartamento de seus avós, localizado na Przemyśl, quando o Pacto Molotov-Ribbentrop foi assinado em agosto de 1939. Em seguida houve a invasão nazista e as irmãs foram separadas de sua mãe.
Em 1939, Renia passa a narrar suas experiências de ser uma adolescente judia durante a Segunda Guerra. A jovem relembra ainda sua relação com seus pais Bernard Spiegel e Róza Maria Leszczyńska, além da sua infância em uma fazenda, localizada perto da antiga fronteira com a Romênia.
Quando o gueto de Przemyśl foi criado, Renia e outros 24 mil judeus foram obrigados a se mudarem para o local. Em 1940, ela passou a frequentar a escola da região e começou a a namorar Zygmunt Schwarzer, filho de um grande médico judeu. Duas semanas depois o rapaz a convidou para morar com seus pais, no sótão da família.
“Deus Todo-Poderoso, pela enésima vez que eu me humilho na sua frente, ajude-nos, salve-nos! Senhor Deus, vamos viver, eu te imploro, eu quero viver! Eu vivi tão pouco da vida. Não quero morrer. Tenho medo da morte. É tudo tão brutal, mesquinho, sem importância, tão pequeno”, disse a jovem em seu diário.
No dia 30 de julho de 1942, Renia e seus sogros foram executados a tiros na frente de sua casa. Os pais e irmã da jovem sobreviveram. Para preservá-la, esconderam seu diário por anos, até que sua sobrinha Alexandra Renata Bellak, encontrou a obra e começou a traduzi-lá para o inglês.
Com quase 700 páginas a obra original foi feita a partir de um caderno escolar simples. Em seus escritos, Renia conta sobre o seu dia a dia escolar, a relação familiar, a dor de ser separada de sua mãe, seu namoro com Zygmunt Schwarzer e o medo dos nazistas.
“Meu querido diário, meu bom e amado amigo! Passamos por momentos terríveis juntos e agora o pior momento está sobre nós. Eu poderia sentir medo agora. Mas Ele não nos deixou, e nos ajudará hoje. Ele vai nos salvar. Ouça, ó, Israel, salve-nos, ajude-nos. Você me manteve a salvo de balas e bombas, de granadas. Ajude-me a sobreviver! E você, minha querida mamãe, reze por nós hoje, reze muito”, faz seu último desabafo.
Além disso, a obra apresenta desenhos e poemas feitos pela jovem. Em julho de 1942, Zygmunt descobriu o diário da namorada e anotou os seus últimos momentos de vida. “Três tiros! Três vidas perdidas. Tudo o que consigo ouvir são tiros e tiros”, descreve o jovem, lamentando a morte de sua amada.