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Vitrine / Crimes reais

Filho de Sam, o serial killer mais temido de Nova York nos anos 70

Conheça um dos serial killers mais famosos dos Estados Unidos

Lucas Peçanha Publicado em 09/02/2024, às 16h30

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Conheça um dos serial killers mais famosos dos Estados Unidos - Créditos: Reprodução/Amazon
Conheça um dos serial killers mais famosos dos Estados Unidos - Créditos: Reprodução/Amazon

Durante pouco mais de um ano, a cidade de Nova York, nos Estados Unidos, foi aterrorizada por aquele que viria a se tornar um dos mais emblemáticos serial killers da história do país. Nascido em 1953, Richard David Falco foi fruto de uma traição de sua mãe, Betty Broder, com um homem chamado Joseph Kleinman, também casado. Intimada por Joseph para abortar a criança, Betty optou por dar continuidade à gravidez, registrando o seu marido, Anthony Falco, como o pai biológico. 

Com apenas uma semana de vida, Richard foi entregue para adoção por Betty e Anthony a um orfanato, onde foi adotado pelo casal de lojistas, Nathan e Pearl Berkowitz, que mudaram o nome do garoto para David Berkowitz e levaram-no para morar no Bronx. E assim se iniciava a história de um dos maiores nomes do true crime.

Um garoto problemático

Segundo o jornalista John Vincent Sanders, Berkowitz se saía muito bem na escola e possuía uma inteligência acima da média. Contudo, as aulas passaram a não interessá-lo mais, e daí em diante passou a dar bastante trabalho para sua família adotiva. O garoto, que já se mostrava ser uma criança violenta, passou a cometer vários delitos, como matar animais e causar incêndios.

Durante a juventude de Berkowitz, ele sofreu um acidente ao ser atropelado e ter um traumatismo craniano. Supostamente, seus pais chegaram a consultar psicólogos e psiquiatras sobre o comportamento do garoto. Porém, ele nunca chegou a ser submetido a nenhum tipo de tratamento. 

Quando tinha 14 anos, sua mãe, Pearl, veio a falecer de câncer de mama. A tragédia piorou consideravelmente a convivência do garoto com seu pai adotivo, Nathan, com quem já não se relacionava muito bem. Nathan casou-se novamente tempos depois, e Berkowitz não gostava nem um pouco da mulher, pois, segundo ele, ela tinha interesse em ocultismo e bruxaria.

Na adolescência, Berkowitz passou a lamentar ainda mais a carência de uma vida social como a de seus colegas, que frequentavam festas e já namoravam. Ele, a propósito, não se dava nada bem com as mulheres, e isso o incomodava profundamente. Afinal, segundo o próprio, o sexo era o “caminho da felicidade”, e em sua concepção estava sendo privado disso. Privado de ser feliz.

Cansados dos constantes problemas com o filho, Nathan e sua esposa resolveram se mudar para a Flórida, deixando David sozinho. Solitário, o garoto resolveu alistar-se ao exército, servindo na Coréia do Sul e sendo dispensado em 1974 com honrarias. De volta ao Bronx, ele se inscreveu em uma faculdade comunitária e trabalhou temporariamente como motorista de táxi e também como carteiro.

Naquele mesmo ano, Berkowitz desenterrou algo oculto de seu passado. Seus pais haviam contado que sua mãe biológica havia falecido ao dar a luz à ele, e acabou por descobrir que ambos haviam mentido durante todo aquele tempo. Betty Broder, sua mãe, estava viva. Mas Berkowitz mal sabia a decepção que teria mais adiante. 

Rejeição

Até o momento que descobriu a verdade, Berkowitz se culpava constantemente pela morte de sua mãe que, até o momento, achava que tinha morrido durante seu parto. Saber do paradeiro da mãe acendeu uma chama de esperança em sua vida, pensando que poderiam reatar os laços e finalmente terem uma convivência de mãe e filho - e não é o que acaba ocorrendo.

Após algumas visitas, Betty revelou ao filho sobre a traição que havia cometido e a verdade sobre o seu verdadeiro pai, resultando no distanciamento definitivo de Berkowitz com sua mãe e mantendo contato apenas com sua meia-irmã, Roslyn Falco.

Toda aquela frustração foi a gota d’água para afundar de vez o psicológico de Berkowitz. Tendo sido rejeitado pelas suas figuras paternas, e até mesmo pelas mulheres ao longo de sua adolescência, Berkowitz se sentiu sozinho como nunca antes. A rejeição o cercava desde seu nascimento, e sentia uma raiva que precisava ser externalizada a qualquer custo… e assim fez, da sua maneira.

O “fantasma do Bronx”

Após desistir dos estudos e começar a trabalhar como carteiro e taxista, Berkowitz alugou um apartamento no Bronx. Solitário em sua raiva e tristeza após a discussão com sua mãe, ele era bastante grosseiro e problemático com a vizinhança. 

Berkowitz deixou seu lado piromaníaco ser mostrado mais uma vez, quando ateou fogo por diversos lugares em Nova York. Com quase 1,5 mil incêndios criminosos cometidos pelas suas mãos, ele se autodenominava “fantasma do Bronx” em seus diários, onde registrava seus pensamentos e anotava as datas e endereços de seus feitos. Muitos especialistas alegaram que Berkowitz gostava de incendiar os lugares para obter a sensação de controle que tanto o carecia.

Na véspera de Natal daquele mesmo ano, Berkowitz deixou os incêndios de lado e passou a adotar uma nova abordagem. Perto do condomínio onde morava, esperou a noite cair, pegou uma faca de caça e esfaqueou duas jovens que andavam pela região. Ambas conseguiram sobreviver ao ataque, então Berkowitz resolveu trocar seu modus operandi para conseguir assassinar suas próximas vítimas de maneira mais eficaz.

Calibre .44

Após a primeira tentativa de assassinato, mudou-se do Bronx para uma casa na cidade de Yonkers, que ficava nos arredores de Nova York. Lá, adquiriu uma nova fonte para sua raiva: o cachorro de Sam Carr, seu vizinho, que latia e uivava ininterruptamente durante a noite. Segundo Berkowitz, em depoimentos prestados anos à frente, um demônio se comunicava por meio do cão e ordenava-o a cometer os crimes, além de deixá-lo extremamente irritado com seus latidos constantes.

Ao viajar para Houston, no Texas, para visitar um antigo amigo da época do exército, comprou uma Charter Arms Bulldog de calibre .44, um revólver bastante potente para curtas distâncias e que viria a se tornar o seu novo xodó para seus futuros assassinatos. 

Em 29 de julho de 1976, dirigindo um Ford Galaxie, Berkowitz rondava pelo Bronx durante a madrugada quando se deparou com duas jovens conversando dentro de um carro parado. Estacionou a duas quadras de onde estavam as garotas, e foi em direção a elas. Próximo do carro, tirou seu revólver de um saco de papel e disparou várias vezes antes de fugir do local. Donna Lauria, uma das jovens, morreu na hora e a outra, Jody Valenti, levou um tiro em sua coxa e conseguiu sobreviver, fornecendo posteriormente à polícia uma descrição do criminoso.

Após seu primeiro assassinato, Berkowitz atacou outras duas vezes: uma contra um homem e sua amiga, e outra contra uma dupla de amigas. Ambos os casos, novamente, com as vítimas dentro de seus carros. O homem em questão, Carl Denaro, foi atingido na cabeça e precisou implantar uma placa de metal em seu crânio. Já com a dupla de amigas, uma delas, Joanne Lomino, chegou a ficar paraplégica em decorrência dos disparos.

Em 17 de abril de 1977, Valentina Suriani e Alexander Esau foram mortos, cada um com dois tiros na cabeça. Na cena do crime, foi encontrada uma carta do próprio Berkowitz endereçada para o chefe de polícia Joseph Borrelli. “Fico magoado quando dizem que odeio as mulheres. É mentira! Mas eu sou um monstro, eu sou o Filho de Sam!”, dizia um trecho da carta. No mesmo mês, também enviou uma carta para seu vizinho, Sam Carr, o ameaçando em razão do seu cachorro que tanto o incomodava. 

A partir daí, Berkowitz passou a mandar cartas para a polícia desejando sorte nas buscas para encontrá-lo, e assinava-as como “Filho de Sam”, como seria agora apelidado. Antes, as autoridades e a mídia o chamavam de “Assassino do Calibre .44”, por conta do tipo de projétil utilizado para matar suas vítimas. 

O Verão de Sam

No verão de 1977, Nova Iorque testemunhou o verão mais quente de sua história, e era aterrorizada pelo caos após os assassinatos, fazendo as pessoas se trancarem em suas casas durante a noite. Ao analisarem certa semelhança no perfil das vítimas (geralmente jovens com cabelos escuros), muitas mulheres passaram a tingir os cabelos ou a comprar perucas loiras para tentarem escapar da mira de Berkowitz. 

No período que ficou conhecido como o “Verão de Sam”, a polícia expandiu a força-tarefa responsável por encontrar o assassino para 300 agentes, tornando-se a maior caçada humana que Nova Iorque já tinha presenciado.

Na noite de 31 de julho daquele mesmo ano, Stacy Moskowitz e Robert Violant foram as últimas vítimas de Berkowitz. Encontravam-se no interior de um estacionamento quando foram alvejados, ambos na cabeça. Robert perdeu um de seus olhos e teve sua visão no outro gravemente prejudicada. Stacy veio a falecer 39 horas após o incidente.

Após o crime, a polícia recebeu o telefonema de uma possível testemunha. A pessoa em questão alegou ter visto uma figura suspeita empunhando um objeto escuro perto da cena do crime. Além disso, a figura em questão jogou uma multa de trânsito pela janela de seu carro. Ao rastrear a placa do carro, descobriram que se tratava de um Ford Galaxie em nome de David Berkowitz. 

Além da multa, Sam Carr entregou a carta ameaçadora de Berkowitz à polícia, resultando na prisão do homem. A abordagem policial ocorreu quando David entrou em seu veículo portando seu revólver calibre .44, guardado em um saco de papel. Berkowitz não resistiu à prisão, e supostamente caçoou os policiais pela demora para encontrá-lo. 

O Filho de Sam

Após sua prisão, ele explicou que escolheu pelo nome "Filho de Sam" porque alegava receber comunicações do próprio demônio por meio do cão de estimação de Sam Carr. Dessa forma, afirmava que todas as mortes eram resultado de ordens transmitidas pelo labrador retriever de seu vizinho. “Sam fez isso. Ele me fez agir assim. Eu fiz por ele, por sangue.”, disse Berkowitz.

Ao revistar a casa de Berkowitz, encontraram diversos desenhos satânicos pelas paredes da casa, além de diários que registravam os crimes cometidos ao longo dos meses. Apesar de todas as declarações dignas de uma pessoa desequilibrada, Berkowitz foi considerado apto para ser julgado. No fim, ele se declarou culpado de todos os crimes e foi condenado a passar 300 anos na prisão. 

Após quinze anos de boa conduta na prisão, durante uma entrevista subsequente, David revelou que um culto satânico ao qual havia se associado o coagiu a cometer todos os delitos. Alterando sua versão dos eventos, declarou ter sido responsável por apenas três dos homicídios, enquanto todos os outros crimes teriam sido cometidos por outros membros do culto. Alegou ainda que confessou a autoria de todos os crimes durante seu julgamento como uma estratégia para se desvincular do culto satânico e se proteger dos outros membros da seita. 

Durante determinado momento, ele confessou às autoridades que os demônios que havia mencionado não passavam de invenções suas para justificar seus crimes.

Redenção?

Atualmente, Berkowitz continua preso em uma penitenciária no Condado de Ulster, em Nova Iorque. Segundo o sistema judiciário dos Estados Unidos, ele nunca entrou com pedidos para um regime semi-aberto, ou para ser beneficiado com liberdade condicional pois, segundo o que se diz, permanece bastante ocupado com suas responsabilidades dentro da prisão, desempenhando funções na capela do estabelecimento penitenciário e no setor de saúde mental. 

Em 2006, publicou um livro intitulado “Filho da Esperança”, onde contava a sua história de vida. Além do mais, criou um site chamado Arise and Shine, onde reúne algumas entrevistas cedidas por ele, registros de diário e um pedido de desculpas. 

Após Berkowitz receber grandes quantias de dinheiro pela publicação de sua história, foi criada a lei “Filho de Sam”, que concede permissão ao estado de confiscar fundos obtidos pelo criminoso durante um período de cinco anos, com o objetivo de utilizá-los para indenizar as vítimas.


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