"Devo dizer que o homossexualismo sempre me causou certa repugnância. Nunca me senti à vontade diante de um homossexual", disse o poeta em uma entrevista para Maria Lúcia do Prazo, em 1984
Considerado um dos poetas mais influentes do século 20, Carlos Drummond de Andrade já deu entrevistas em que afirmava considerar a homossexualidade como um desvio de personalidade e problema de ordem médica.
Em 1984, seu amigo mais próximo, o médico Pedro Nava se suicidou após ser chantageado por um garoto de programa. Na época, a imprensa escondeu os verdadeiros motivos que ocasionaram a morte, pois para eles feriam os padrões morais da sociedade. Somente anos mais tarde a verdadeira motivação do suicídio foi revelada.
Declarações homofóbicas
Embora Carlos Drummond de Andrade tenha escrito o poema “A um Ausente” em homenagem ao amigo, já deu declarações controversas ao longo de sua vida. Em 1984, um mês após a morte de seu amigo, o poeta foi entrevistado pela doutoranda em comunicação Maria Lúcia do Prazo, que na época estava pesquisando sobre a temática. Ele declarou ser contra e não se sentir à vontade.
“Devo dizer que o homossexualismo sempre me causou certa repugnância, que se traduz pelo mal-estar. Nunca me senti à vontade diante de um homossexual. Com o tempo, havendo agora uma abertura imensa com relação ao desvio da homossexualidade, o homossexual não só ficou sendo uma pessoa com autorização para ir e vir como tal, mas chega ao ponto de isto ser exaltado como riqueza de experiência, como acrescentamento da experiência masculina”, disse o escritor.
No ano seguinte, em entrevista para a IstoÉ, Drummond declarou acreditar que o homossexualismo é uma doença. O poeta disse ainda que o fato de não concordar é um dos motivos pelo o qual o tema apareceu somente uma vez em suas obras, no poema Rapto, do livro Claro Enigma.
"É desvio, é um problema de ordem médica, que pode ser tratado ou não, pode ser remediado ou não, conforme condições peculiares do indivíduo. Não é aquilo que antigamente se chamava pecado. Por mais que se façam essas experiências, a relação homem-mulher é ideal, é a mais perfeita do mundo, não tem substitutivo, não”, afirmou Carlos Drummond de Andrade.
A resposta do Grupo Gay da Bahia
Em resposta a declaração desrespeitosa de Drummond, o Grupo Gay da Bahia enviou uma carta ao poeta manifestando repúdio e indignação ao discurso de ódio do poeta. Junto à carta havia um abaixo-assinado, redigido pelo antropólogo Luiz Motto, com as assinaturas de diversas pessoas contra as declarações ofensivas.
“Não há perfeição em ser branco nem em ser preto. Essas coisas, tipo raça, religião, preferência sexual, são privativas de cada ser humano, nem aos poetas autorizando-se decretar onde está a perfeição”, disse o grupo.
Embora o escritor tenha mantido o documento preservado em seu acervo pessoal, a carta nunca foi respondida por ele.
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