Filha de um poderoso sultão, a jovem tinha uma inteligência impressionante, mas mal imaginava o sofrimento que a esperava
Casado com a concubina Jilfidan, o sultão Sayyid Said bin Sultan Al-Busaid era o homem mais respeitado em Zanzibar e Omã, onde governava. Cercado por riquezas e regalias, o líder teve um total de 36 filhos, todos herdeiros de suas fortunas.
Nascida em agosto de 1844, em Zanzibar, Sayyida Salme — ou Salama bint Said — foi a última dos descendentes do sultão. Como a mais nova de todos os irmãos, a princesa adorava estudar e cresceu sabendo falar árabe e suaíli fluentemente.
Em meados de 1851, enquanto morava com seu irmão Majid bin Said de Zanzibar, ela ainda aprendeu a cavalgar e atirar e, mais tarde, descobriu sozinha a arte da escrita — algo bastante incomum para mulheres da época.
Apesar de estudiosa e muito inteligente, a bela princesa sequer esperava por todos os conflitos que teria de superar. Sua vida, logo depois da morte do sultão Said, foi preenchida por conflitos, fugas e longos períodos de luto.
Castelo de luto
Em outubro de 1856, o sultão morreu, aos 65 anos. Com a tristeza de perder o pai, Sayyida também recebeu o atestado de maioridade, mesmo tendo apenas 12 anos, e a herança do governante — uma plantação e quase 5,5 mil libras.
Com o fim da dinastia, dois irmãos da jovem assumiram os territórios comandados por Said. De um lado, Sayyid Thuwaini bin Said al-Said ficou responsável por Muscat e Omã e, de outro, Majid tornou-se Sultão de Zanzibar.
Ainda assim, a situação realmente mudou quando a mãe de Sayyida faleceu, deixando três plantações para a filha mais nova, em 1859. Com a morte da mulher, Majid e Barghash bin Said, dois irmãos da garota, entraram em conflito pelo poder.
Menina inocente
Durante toda a disputa, a pequena Sayyida viu-se em meio à um contexto que ela não entendia muito bem e sequer queria fazer parte. Por esse motivo, ainda que gostasse muito de Majid, ficou do lado de Barghash, já que sua irmã preferida fez o mesmo.
Aos 15 anos, a menina, que era facilmente influenciável, seguiu os passos da mais velha e passou a trabalhar como secretária do partido de Barghash. Todo o apoio, contudo, não foi o suficiente e o conflito logo acabou, tendo Majid como vitorioso.
Como consequência de seus atos, Barghash foi exilado e seus apoiadores tiveram de fugir para não sofrerem punições parecidas. Assim, Sayyida mudou-se para Kisimbani — pouco mais tarde, ela voltou para sua cidade e fez as pazes com Majid.
Amor e família
Vivendo em Stone Town, Sayyida conheceu Rudolph Heinrich Ruete, um comerciante alemão por quem ela rapidamente se interessou. Em meados de 1866, a jovem de 22 anos engravidou do companheiro e os dois decidiram se casar.
A fim de escapar de possíveis retaliações pela gestação, a jovem fugiu para a colônia britânica de Aden e converteu-se ao cristianismo. Pouco depois, em maio de 1867, Sayyida e Rudolph finalmente se casaram e a jovem passou a se chamar Emily Ruete.
Saudosa de seu passado, ela revelou em cartas para uma de suas irmãs que nunca realmente seguiu os mandamentos cristãos. Sem acatar alguns dos costumes de sua nova religião, ela manteve-se muçulmana, mesmo que em segredo.
Vida de sofrimento
No verão de 1867, Emily e seu marido decidiram mudar-se para a Alemanha e, no meio do trajeto, o pequeno herdeiro do casal acabou falecendo. Nascido em dezembro de 1866, o menino não resistiu à viagem e deu seu último suspiro em terras francesas.
Em luto profundo, os Ruete estabeleceram-se em Hamburgo, onde conquistaram a própria casa e passaram a fazer parte da sociedade alemã. Juntos, o casal teve mais três filhos, um menino e duas garotas, nascidos entre 1868 e 1870.
No mesmo ano em que a última menina veio ao mundo, Rudolph foi vítima de um acidente de bonde, deixando Emily sozinha com as três crianças. Sem qualquer fonte de renda, a família, então, ficou desamparada.
Luta e superação
Foram mais de dez anos de sufoco até que Emily se lembrasse de um de seus hobbies favoritos: a escrita. Não demorou até que ela publicasse as 'Memórias de uma princesa árabe de Zanzibar' — a primeira autobiografia de uma mulher árabe já registrada.
Com a obra, Emily conseguiu recuperar o status social com o qual estava acostumada e, ao lado dos filhos, visitou sua amada Zanzibar por mais duas vezes. Entre 1889 e 1914, ela conquistou suas próprias casas no Líbano e em Israel.
Por fim, aos 79 anos, Emily foi vítima de uma grave pneumonia e não resistiu aos sintomas, falecendo em 1924, na Alemanha. Sua história e legado, então, ficaram eternizados na obra que ela mesma fez questão de escrever e publicar.
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