Os animais microscópicos tem uma expectativa de apenas alguns dias de vida, mas passaram milênios preservados no gelo da Sibéria
Nematoides são criaturas simples. Pertencentes ao filo dos Nematelmintos, se tratam de pequenos vermes de formato cilíndrico, alongado e afinado nas pontas. São animais mais conhecidos por suas espécies parasitárias, como as lombrigas.
No último mês de julho, por sua vez, um par de nematoides ficou famoso após protagonizarem um curioso experimento científico: eles foram trazidos de volta à vida após nada menos que 46 mil anos adormecidos.
Os microscópicos animais haviam sido encontrados no permafrost (nome dado a um tipo de solo que passa o ano todo congelado) da Sibéria, uma região que passa pela Rússia e pelo Cazaquistão. Eles estavam enterrados a 40 metros da superfície, conforme informado pela BBC.
Outro detalhe impressionante é que, para reviver os vermes, a equipe internacional responsável pelo experimento não precisou fazer nenhum processo complexo — bastou hidratá-los com água.
Os nematoides, que eram de uma espécie até então desconhecida pela ciência (nomeada de Panagrolaimus kolymaensis), viveram durante o Paleolítico Médio, tendo sido capazes de sobreviver aos séculos que separaram essa época da atual por por terem entrado em um estado de latência conhecido como criptobiose.
Durante o fenômeno, o metabolismo de um organismo é temporariamente suspenso, e ele é capaz de suportar condições extremas, tal como a ausência de oxigênio e as temperaturas baixíssimas que caracterizam o permafrost siberiano.
Vale apontar que, no passado, outros nematoides já foram reanimados após longos períodos de criptobiose, porém não existe nenhum registro anterior de um que tenha ficado tanto tempo neste estado de latência.
A sobrevivência em ambientes extremos por períodos prolongados é um desafio que apenas alguns organismos são capazes de enfrentar. Não se sabe bem quais vias moleculares e bioquímicas são utilizadas por tais organismos criptobióticos e por quanto tempo eles podem suspender a vida", afirmaram os autores do estudo no artigo científico que publicaram a respeito no Plos.org.
Ainda de acordo com a BBC, Philipp Shciffer, que é um dos cientistas por trás da pesquisa, se mostrou empolgado com as implicações da descoberta:
Ninguém pensava que esse processo pudesse levar milênios, 40.000 anos ou até mais (...) É incrível que a vida possa recomeçar depois de tanto tempo", comentou ele.
Processos como esse ainda significam que indivíduos capazes de criptobiose pertencentes a espécies consideradas até então extintas poderiam teoricamente recomeçar linhagens após hiatos milenares.
Outro detalhe interessante é que os pesquisadores conseguiram detectar quais os genes que permitiram aos vermes estudados ficarem em estado latente por tanto tempo — e esses mesmos genes podem ser encontrados em alguns nematelmintos contemporâneos.
Já o casal de vermes que ressuscitou no laboratório após 46 mil anos congelados na Sibéria morreu após apenas alguns dias, uma vez que eles têm uma expectativa de vida bem curta. Antes de perecerem, porém, eles reproduziram, dando origem a diversos descendentes que serão alvo de estudos futuros.