Ao presenciarem seus pais sendo mortos durante a guerra, jovens se rebelaram contra a ideologia nazista e foram duramente perseguidos pelas tropas do Führer
Com o objetivo de doutrinar jovens para disseminar seus ideais nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, Adolf Hitler fundou a Juventude Hitlerista. Na associação, crianças e adolescentes aprendiam sobre artes e esportes, mas de forma censurada e não havia a possibilidade de não se inscrever. Insatisfeitos com esta política, um grupo de jovens se uniu contra o sistema.
Independentemente da classe social ou gênero, crianças com menos de 14 anos eram obrigadas a se afiliarem ao Grupo da Juventude Alemão. Entre os 14 e 18 anos, eles passavam a servir ao movimento Juventude Hitlerista, mas caso alguém recusasse a proposta, o governo poderia ameaçar suas famílias.
Estima-se que mais de 90% de crianças alemãs tenham feito parte desse grupo, até que na década de 1930, a porcentagem caiu. Jovens começaram a resistir quando presenciaram seus pais sendo mortos na guerra e passaram a criticar as metodologias governamentais.
Os adolescentes revolucionários romperam laços com o Estado, isto é, culturalmente e politicamente. Conhecidos como piratas edelvais, era comum deixar seus cabelos crescerem e ouvir música americana, como forma de rebeldia.
Em julho de 1943, o Partido publicou um relatório a fim de desmoralizar a resistência juvenil. “Esses adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos, andam tarde da noite com instrumentos musicais e jovens do sexo feminino. Como esse riff raff está em grande parte fora da Juventude Hitlerista e adota uma atitude hostil em relação à organização, eles representam um perigo para outros jovens”, trecho retirado do relatório.
Os piratas edelvais montaram a resistência nas cidades de Colônia e Essen, áreas pertencentes à classe trabalhadora. Os militantes eram constantemente perseguidos pela Gestapo — polícia secreta alemã.
A SS — organização paramilitar ligada ao partido nazista — declarou estes jovens como inimigos do Estado. Caso algum membro da organização fosse capturado, os policiais tinham o direito de espancá-los e até mesmo raspar seus longos cabelos.
Em represália, os piratas promoveram ataques organizados em fábricas de munições. Na época foram noticiados como fugitivos e desertores do exército nazista. Rapidamente o grupo anti-Hitler cresceu e inspirou outros jovens.
Na mesma época foi fundada a Swing Youth, também conhecida como Jazz Youth. Composta por adolescentes de classe média alta, o grupo tinha como objetivo apreciar o jazz — estilo musical predominante na cultura norte-americana.
Os membros da Swing Youth tinham condições financeiras para pagar registros de contrabando, estilos de roupas caras e equipamentos de áudio modernos. Como forma de represália, a Gestapo reprimiu reuniões públicas e implantou o toque de recolher.
Segundo um relatório apresentado à Juventude Hitlerista, em fevereiro de 1940, os desertores seriam uma ameaça para a sociedade, por conta de seus estilos musicais com influências externas.
“A música era inglesa e americana. Apenas a dança do balanço e o jitterbugging ocorreram. Os dançarinos fizeram uma visão assustadora. Nenhum dos casais dançava normalmente e às vezes dois garotos dançavam com uma garota. Quando a banda tocava uma rumba, os dançarinos entraram em um êxtase selvagem. Todos tremeram no palco como animais selvagens”, trecho retirado do relatório.
O oficial da SS, Heinrich Himmler, ordenou que qualquer pessoa que fosse pega ouvindo jazz deveria de ser espancada. Em outubro de 1944, o general mandou capturar 13 militantes, entre eles sete integrantes piratas. Os prisioneiros foram enforcados em praça pública.
Diversos piratas foram enviados para campos de reeducação ou de trabalhos forçados e foram rotulados como criminosos pelos tribunais alemães.
Em 2005, o país os considerou como combatentes da resistência e homenageou cinco sobreviventes. Os piratas edelvais viraram símbolo de luta e militância anti-nazista entre a juventude alemã, que despreza toda forma de opressão e ditadura.