Em uma sala fria, Nicolau II e sua família foram sentenciados à morte e fuzilados em um episódio curto, mas terrível
Com o poder dos bolcheviques crescendo a cada dia na Rússia, o czar Nicolau II e sua família foram levados para a inconfundível Casa Ipatiev, em Ecaterimburgo. Na época, todavia, a propriedade foi apelidada estrategicamente de Casa da Proposta Especial.
Segundo o historiador David Bullock, foi nesse mesmo período que os bolcheviques passaram a acreditar que os checoslovacos tinham o objetivo de libertar os Romanov. Por isso, inclusive, eles teriam acelerado a execução da família do último czar da Rússia.
Acontece que, para os bolcheviques, a família de Nicolau II e o próprio imperador poderiam representar uma esperança para o Exército Branco, composto por uma aliança entre anticomunistas — o czar poderia, inclusive, ser considerado o legítimo governante da Rússia pelas nações europeias caso continuasse vivo.
Foi nesse contexto quase explosivo que a família Romanov acabou executada no dia 17 de julho de 1918, há exatos 103 anos. Naquela madrugada, o czar Nicolau II, sua esposa e todos os seus herdeiros protagonizaram um 'fuzilamento' assustador e absoluto.
Em seu livro ‘Os últimos dias dos Romanov’, a autora Helen Rappaport revela alguns dos detalhes mais sórdidos da execução da família do czar. No total, foram cerca de 70 balas disparadas — sete para cada atirador — em um período de curtos 20 minutos.
Tudo começou, segundo a autora, por volta da meia noite do dia 17 de julho. Apressado para acabar com os prisioneiros, o comandante Yakov Yurovsky exigiu que o Dr. Eugene Botkin, médico dos Romanov, acordasse toda a família e os vestisse apropriadamente.
A desculpa dada por Yurovsky era de levar Nicolau II e seus herdeiros para um local seguro, que, na verdade, era apenas uma sala de 30 m2. Para os Romanov, restava esperar por um caminhão de transporte, que os tiraria dali — mas já sem vida.
Após alguns minutos de mistério, Yurovsky irrompeu pela porta dupla do aposento e sentenciou Nicolau II, lendo a ordem de condenação redigida pelo Comitê Executivo do Ural. O czar não conteve sua surpresa, mas mal teve tempo de fazer alguma pergunta.
Percebendo a situação em que se encontravam, a czarina Alexandra e a grã-duquesa Olga tentaram fazer um sinal da cruz, mas não conseguiram terminar suas rezas. Com as armas apontadas para a família, Yurovsky ordenou que o fuzilamento começasse.
Foram 20 minutos de puro terror, com dezenas de tiros sendo disparados à queima roupa. Tamanho era o estrondo das balas que algumas famílias que dormiam nos quartos adjacentes acabaram acordando no meio da madrugada.
Nicolau II foi morto instantaneamente, com tiros contra seu peito. Alexei, que tinha 13 anos, foi assassinado com apenas dois tiros fatais na cabeça. Alexandra e algumas de suas filhas, no entanto, não foram vítimas do fuzilamento, mas sim de uma baioneta.
As grã-duquesas Tatiana (21), Anastásia(17) e Maria (19), por exemplo, carregavam diversos diamantes em suas vestimentas, que teriam protegido seus corpos das balas. Ainda assim, por mais que estivessem agachadas contra a parede, Maria e Anastásia foram mortas em segundos, enquanto Tatiana levou um tiro na cabeça.
Anna Demidova, a empregada de Alexandra que acompanhava toda a cena, também não faleceu apenas com os tiros. Ela foi, na verdade, colocada contra a parede e morta pelas costas, levando diversas investidas de uma irredutível baioneta. Olga, a filha mais velha do imperador, por sua vez, também foi atingida na cabeça, aos 22 anos.
Logo que todos os membros da família e seus empregados foram dados como mortos, as portas da sala foram abertas, para que a fumaça da pólvora se dissipasse. Os corpos fuzilados, então, foram colocados em um caminhão, que os levou até sua cova.
No meio do transporte, Yurovsky descobriu que Pyotr Ermakov e seus soldados estavam embriagados e que haviam trazido apenas uma pá para o enterro da família do czar. Para piorar, o caminhão ainda ficou atolado em uma área pantanosa da região.
Por isso, inclusive, todos os corpos foram enterrados nas proximidades da linha férrea Gorno-Uralsk. A vala onde os cadáveres foram sepultados tinha cerca de 60 cm de profundidade e, para que os Romanov não fossem reconhecidos, seus corpos foram mergulhados em ácido sulfúrico e cobertos por cal virgem. Era o fim definitivo do czar.