Episódio complicou ainda mais a relação entre os EUA e URSS
A década de 1960 foi um dos períodos mais tensos quando falamos de ameaça nuclear. União Soviética e Estados Unidos estavam no auge da corrida nuclear e ambos já tinham capacidade de destruir o mundo com o arsenal que acumulavam.
Não podia haver momento pior para que um plano de espionagem americano fosse descoberto. Em maio de 1960, um avião espião U-2, pilotado por Francis Gary Powers, foi abatido pelos soviéticos e Powers foi preso.
O presidente Nikita Khruschev exigiu desculpas, condecorou os pilotos que haviam abatido o U-2 e sugeriu que qualquer ato de espionagem dos americanos em território soviético seria tomado, a partir dali, como um ato de guerra.
O ex-presidente americano Dwight Eisenhower reagiu afirmando que o avião fazia pesquisas meteorológicas.
Num documento datado de apenas 17 dias antes do incidente e classificado com o inconfundível carimbo Top Secret, no entanto, Eisenhower mostrava-se animado com a ideia de sobrevoar o espaço aéreo russo e espionar as suas
instalações militares.
“Khruschev poderá ficar intrigado com nossos conhecimentos, mas não poderá nos acusar de espionagem. Ficará de mãos atadas. Não terá provas”, escreveu o ex-presidente americano.
O nome de seu interlocutor, porém, foi apagado das transcrições. Powers foi detido em uma solitária como preso político e condenado a dez anos de reclusão. Acabou solto dois anos depois, trocado pelo ex-espião russo Rudolf Abel, capturado em território americano.
O episódio ajudou a complicar a relação entre as duas nações e preparou o terreno para o azedume geral que viria um pouco depois, com o impasse cubano.
*Esse é um dos trechos da reportagem 'A ameaça constante do apocalipse nuclear', da edição 227. Confira outro aqui.