Novo filme de Martin Scorsese investiga uma série de assassinatos de indígenas em Oklahoma na década de 1920
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 01/10/2023, às 13h00 - Atualizado em 20/10/2023, às 17h05
O ano de 2023 está relativamente próximo de seu fim, mas os amantes de cinema ainda não podem ter um descanso. Isso porque, na última quinta-feira, 19, chegou aos cinemas, o filme 'Assassinos da Lua das Flores', dirigido e co-roteirizado pelo brilhante cineasta Martin Scorsese.
Diretor e um dos principais cineastas vivos, o novo filme é aguardado por muitos. A razão para isso: após sua estreia no Festival de Cinema de Cannes deste ano, o projeto foi aclamado como "magnífico".
DiCaprio, no longa, vive Ernest Burkhart, marido de uma mulher chamada Mollie Burkhart (Lily Gladstone), uma nativa americana, cuja família teve grande importância na resolução de uma série de assassinatos de indígenas da tribo Osage em uma Oklahoma da década de 1920. Além dele, também fazem parte do elenco grandes nomes como Jesse Plemons, Robert De Niro e o recém-vencedor do Oscar de melhor ator, Brendan Fraser.
"O ano é 1920, na região norte-americana de Oklahoma. Misteriosos assassinatos acontecem na tribo indígena de Osage, uma terra rica em petróleo. O caso foi investigado pelo FBI, a agência que tinha acabado de ser criada na época. Os assassinatos dados a partir de circunstâncias misteriosas na década de 1920, assolando os membros da tribo Osage, acaba desencadeando uma grande investigação envolvendo o poderoso J. Edgar Hoover, considerado o primeiro diretor do FBI", explica a sinopse.
Uma curiosidade sobre o novo filme de Martin Scorsese, no caso, é que é inspirado no livro não ficcional 'Killers of the Flower Moon: The Osage Murders and the Birth of the FBI' ('Assassinos da Lua das Flores: Os Assassinatos de Osage e o Nascimento do FBI', em tradução para o português), publicado em 2017 e escrito pelo jornalista David Grann. Confira a seguir um pouco da história real que inspirou o longa:
Localizada originalmente nos vales dos rios Ohio e Mississippi, nos Estados Unidos, a nação Osage — também conhecidos como 'NiuKonska', que significa "filhos das águas médias" — sofreu especialmente com o deslocamento forçado de nativos americanos promovido pelo governo do país na década de 1920.
Com o tempo, os Osage conseguiram se estabelecer em um 'território indígena', onde hoje fica o estado de Oklahoma, ao comprar legalmente as terras da reserva. E isso descambaria em um dos mais terríveis períodos da história dos Estados Unidos, com o massacre em série de vários indígenas.
Antes disso, em 1906, James Bigheart — principal chefe da nação — conseguiu, junto ao advogado meio-nativo John Palmer, negociar com o governo dos Estados Unidos um acordo que daria a cada Osage direito de participação no fundo mineral da tribo. Anos depois, isso seria extremamente importante, quando naquela região foram encontrados campos de petróleo.
Com grandes lucros provenientes das perfurações da terra em busca do "ouro negro", os membros da nação Osage se tornaram algumas das pessoas per capita mais ricas do mundo. E isso, por sua vez, foi o que levou muita gente mal-intencionada até o local.
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Todo o terror que acometeria os Osage começou em 1921, quando dois membros da nação, Anna Brown e Charles Whitehorn, foram vítimas de assassinato com apenas poucos dias de diferença, e em circunstâncias semelhantes: baleados e encontrados em áreas rurais isoladas. Pouco depois, um primo de Anna, Henry Roan, também seria morto.
Ao todo, conforme noticiado pela Entertainment Weekly, 24 pessoas foram assassinadas na região, no que os Osage começaram a chamar de "Reinado do Terror". As mortes ocorriam por execução a tiro, envenenamento, ou então algumas pessoas simplesmente desapareciam e nunca mais foram vistas. Até mesmo cães que eles tinham para segurança foram mortos.
O livro de David Grann, por sua vez, acompanha justamente Mollie Burkhart, uma mulher Osage que teve quatro familiares — três irmãs e a mãe — mortos, entre eles a própria Anna Brown, sua irmã.
Após a morte de Brown, Mollie decidiu contratar, por conta própria, investigadores para tentar descobrir a identidade dos assassinos da irmã e, possivelmente, dos outros mais de 20 Osages mortos.
Foi só no verão de 1925, porém, que o chefe da Bureau of Investigation, uma nova agência de segurança do governo — que mais tarde se tornaria o FBI —, J. Edgar Hoover, pediu a ajuda do agente Tom White no caso.
Filho de um xerife do Texas, Tom White começou sua carreira prendendo ladrões de cavalos e gangues de bandidos comuns da época. Porém, por mais que parecesse inexperiente em casos como dos Osage, ele obteve sucesso.
Meses depois, ele e sua equipe descobriram que os responsáveis pelas mortes foram William Hale, um rico e influente fazendeiro da região e tio de Mollie, junto a Ernest Burkhart, marido dela. E para ainda mais surpresa, descobriram que eles planejavam que Mollie também morresse.
No dia 4 de janeiro de 1926, William Hale e Ernest Burkhart foram finalmente presos, graças à testemunha de criminoso preso chamado Blackie Thompson. Além disso, o marido de Mollie também confessou seu papel no crime, e ainda revelou outro nome envolvido com um dos assassinatos: John Ramsey.
William Hale seria, então, indiciado a uma pena de 18 anos na prisão federal de Leavenworth, no Kansas — esta, por sua vez, dirigida pelo próprio Tom White. Em 1947, porém, ele recebeu liberdade condicional.
Burkhart foi liberto dez anos antes, mas logo voltou para atrás das grades, após roubar um banco, e passou seus últimos anos de vida morando com o irmão, Bryan. Já Mollie, separou-se de Ernest ainda durante o julgamento, casou-se novamente em 1928 e, em 1937, morreu aos 50 anos.