O último desejo de Charles Byrne foi desrespeitado por seus próprios amigos
Charles Byrne foi um homem irlandês que se tornou uma celebridade em Londres durante o século 18 devido à sua estatura impressionante: ele tinha nada menos que 2,3 metros de altura.
A característica física resultou então no apelido "Gigante irlandês", e permitiu que ganhasse a vida fazendo apresentações para as multidões de curiosos que queriam uma chance de vê-lo de perto.
No entanto, Byrne não pôde aproveitar sua fama por muito tempo, tendo chegado na Inglaterra aos 19 anos, e falecendo aos 22. Ele sofria com tuberculose e alcoolismo, mas segundo um estudo divulgado pela Universidade de Cambridge em 2013, a causa de sua morte precoce teria sido justamente o impacto que a altura inusual provocava em seu corpo.
O mistério da estatura "de gigante" do irlandês seria solucionado mais de um século após seu perecimento, quando os restos mortais do homem foram analisados pelo cirurgião Harvey Cushing, conforme registrado pelo The New York Times.
Após analisar o interior do crânio de Byrne, o profissional de saúde identificou a presença de um tumor benigno na glândula pituitária do homem. Vale mencionar que essa estrutura é responsável por liberar, entre outros hormônios, o GH, que estimula nosso crescimento durante a juventude.
A condição teria feito com que a glândula do irlandês liberasse quantidades excessivas do hormônio, fazendo com que ele desenvolvesse gigantismo e acromegalia. Seria essa, portanto, a explicação para o fato de seus ossos serem muito maiores que os de uma pessoa comum.
Outro detalhe de relevância é que hoje sabemos que a maioria daqueles com acromegalia possuem um tumor benigno em sua pituitária. Dessa forma, a existência do 'Gigante Irlandês' poderia ter sido explicada mesmo que não tivéssemos acesso a seu cadáver. Caso o último desejo do homem houvesse sido atendido, aliás, é o que teria ocorrido.
Segundo repercutido pela CNN, existem registros mostrando queCharlesByrne pediu a seus amigos que seguissem um procedimento em específico após sua morte: ele queria que seu corpo fosse colocado em um caixão de chumbo e então jogado dentro do oceano.
O motivo para isso é que o homem, embora não se importasse de ser observado por curiosos em vida, não queria que a situação persistisse depois que falecesse. Ele queria evitar se tornar uma exposição de museu.
Mais especificamente, Bryne não queria ser exibido por John Hunter, um anatomista britânico da época que era conhecido por colecionar restos mortais de indivíduos considerados 'incomuns', usando por vezes de meios questionáveis para adquirir esses esqueletos.
Todavia, em uma reviravolta cruel de eventos, Hunter descobriu a respeito do pedido do Gigante Irlandês, e subornou seus amigos para conseguir ficar com o cadáver. Três anos mais tarde, os ossos se tornariam parte da coleção do Hunteriam Museum, a entidade fundada pelo anatomista.
Byrne era dominado pelo medo de Hunter, que usou ladrões de túmulos ('ressurreicionistas') para fornecer a ele corpos exumados não autorizados. Por causa da reputação de Hunter de coletar espécimes incomuns para seu museu particular, Byrne estava preocupado que Hunter quisesse seu corpo para dissecação (um destino reservado para criminosos executados) e exibição provável", explicou um artigo de 2011 publicado no British Medical Journal.
Atualmente, o Hunterian Museum está finalizando uma reforma que o manteve fechado durante cinco anos, e sua reabertura contará com uma mudança importante: após mais de 200 anos, a instituição decidiu que finalmente irá respeitar o desejo do Gigante Irlandês, e não mais irá expor seus ossos aos olhos do público.
Durante o período de fechamento do Museu, o Conselho de Curadores da Coleção Hunterian discutiu as sensibilidades e as diferentes opiniões em torno da exibição e retenção do esqueleto de Charles Byrne. Os curadores concordaram que o esqueleto de Charles Byrne não será exibido no reconstruído Hunterian Museum, mas ainda estará disponível para pesquisas médicas de boa-fé sobre a condição de acromegalia e gigantismo da hipófise", afirmou o museu em um comunicado repercutido pela CNN.
Assim, o esqueleto de Byrne não terá seu sonhado enterro no mar, mas pelo menos poderá descansar em paz longe das paredes de um museu, como queria seu dono.