Central na narrativa de 'Ainda Estou Aqui', família do escritor Marcelo Rubens Paiva inspirou novo sucesso cinematográfico brasileiro; confira!
Publicado em 27/11/2024, às 20h33 - Atualizado às 20h35
Um dos filmes mais comentados do ano, 'Ainda Estou Aqui' chegou nos cinemas de todo o mundo no começo deste mês de novembro e, desde suas primeiras exibições em festivais de cinema pelo mundo, conquistou o público.
Dirigido por Walter Salles, o filme se inspira no livro de mesmo nome escrito por Marcelo Rubens Paiva, que retrata a história de sua própria família durante a brutal ditadura civil-militar brasileira.
No centro da narrativa está Eunice Paiva (mãe do autor e interpretada por Fernanda Torres em sua juventude, e Fernanda Montenegro na velhice), esposa do ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello) e mãe de cinco filhos, cuja vida sofreu um enorme revés depois que seu marido desapareceu em 1971, e busca cada vez mais informações sobre o paradeiro do companheiro.
Veja a seguir o que aconteceu com cada membro da família Paiva, retratada no filme, na vida real:
+ Ainda Estou Aqui: 5 coisas para saber antes de assistir ao filme
Protagonista em 'Ainda Estou Aqui', Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva ingressou na faculdade de direito, formando-se aos 48 anos e trabalhando principalmente como ativista da causa indígena. Ela teve importância ao ser membro fundador do Iama, o Instituto de Antropologia e Meio Ambiente, atuando na ONG entre 1987 e 2001.
Ela foi uma das principais vozes a favor da promulgação da Lei 9.140/95, que reconhece as pessoas desaparecidas durante a ditadura militar, que tiveram participação em atividades políticas, como mortas. E foi assim que, apenas em 1996, conseguiu o atestado de óbito de seu marido, Rubens Paiva.
Mas a luta ainda não havia acabado. Após décadas de força e insistência, ela conseguiu solicitar que o Estado emitisse o documento, e somente em novembro de 2012, 41 anos após o desaparecimento de Rubens, ela conseguiu encontrar a primeira prova objetiva de que seu marido foi assassinado: uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do DOI-Codi.
Em 2004 ela foi diagnosticada com Alzheimer, e conviveu com a doença em seus últimos 14 anos de vida. Eunice faleceu no dia 13 de dezembro de 2018, aos 86 anos, em São Paulo, segundo o portal Splash, do UOL.
Em 2014, o Ministério Público Federal denunciou cinco militares pelo sequestro, cárcere privado, homicídio qualificado, fraude processual e ocultação de cadáver de Rubens Paiva. No entanto, os acusados alegaram que os crimes foram abrangidos pela Lei de Anistia, de 1979, e dessa forma nenhum deles foi punido.
Morto pelos militares, ele teria sido enterrado no Alto da Boa Vista, eventualmente transferido para a Praia do Recreio e, anos depois, lançados ao mar.
Autor de 'Ainda Estou Aqui' (publicado em 2015), Marcelo Rubens Paiva hoje tem 65 anos e, em sua juventude, formou-se em rádio e TV pela USP, e teoria literária pela Unicamp.
Quando tinha 20 anos, em dezembro de 1979, ele sofreu um acidente ao pular em um lago durante uma festa: quebrou uma de suas vértebras. Desde então, Marceloperdeu os movimentos do corpo. Foi após esse acidente que, em 1982, publicou seu primeiro livro, 'Feliz Ano Velho', em que relata sua vida após o acidente, e menciona memórias sobre o desaparecimento do pai.
O filho de Eunice trabalhou como roteirista de TV, sendo responsável por dois quadros no Fantástico e no Zorra Total, da TV Globo, além de ter sido apresentador e diretor. Ele também tem dois filhos, Joaquim e Sebastião, nascidos em 2011 e em 2018, frutos de seu relacionamento com a filósofa Silvia Feola.
Filha mais velha de Eunice e Rubens,Vera nasceu em 1953 e hoje tem 71 anos. Ao longo de sua vida, ela se formou em psicologia na USP, e atua como professora titular pela instituição desde 1987, no Departamento de Psicologia Social do Instituto de Psicologia, com pesquisas voltadas principalmente ao estudo psicossocial da desigualdade e da sexualidade.
Segunda filha de Eunice e Rubens, nascida apenas dois anos depois de Vera, MariaEliana Paiva tinha 15 anos quando sua mãe foi presa na ditadura, e ela foi levada junto.
"Fiquei 24 horas presa. Me mostraram um trabalho de escola meu sobre a Tchecoslováquia e me acusaram de ser comunista. Me apalparam, bateram na minha cabeça. Uma hora, quebrei o pau com eles, comecei a falar que aquilo era ilegal, que eu era menor de idade. Me soltaram na Praça Saenz Peña", explicou ela ao O Globo.
Ela também formou-se pela USP, e hoje é educadora artística e jornalista.
Hoje com 67 anos, Ana Lúcia Paiva é matemática e empresária. Em entrevista ao jornal O Globo, ela descreveu o filme como uma forma de "vingança" contra o que aconteceu com seu pai, além de reforçar que sempre quis saber mais detalhes sobre o que aconteceu com ele.
"Eu me senti vingada por esse filme. É uma palavra horrível, né? Uma amiga disse para eu usar outra palavra. Quer saber? Torturaram e mataram o meu pai, olha a vida que a minha mãe teve, que a gente teve. E olha como eu estou me vingando: com um filme!"
O mundo todo está vendo a nossa história, a história que a gente precisou esconder da vida toda, que o Brasil escondeu. Agora, eu quero saber em detalhes: o que aconteceu com o meu pai, como o mataram e o que fizeram com o corpo. Eu quero saber", prosseguiu na fala.
Caçula da família Paiva, Maria Beatriz tem 64 anos, apenas um ano mais nova que Marcelo, e é psicóloga e professora. Na época em que os arquivos sobre seu pai foram recebidos pela Comissão da Verdade, ela morava na Suíça e trabalhava na embaixada do Brasil em Berna, capital do país.
'Ainda Estou Aqui' está disponível nos cinemas de todo o Brasil, e é um dos principais candidatos nacionais ao Oscar 2025.