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Matérias / Guerras

Confira as 20 batalhas que mudaram o mundo

Os conflitos que mais marcaram os rumos da história e suas consequências para a humanidade

Ricardo Lobato Publicado em 05/08/2023, às 17h00 - Atualizado em 09/11/2023, às 15h44

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Montagem de mapa antigo com itens de guerra, soldados e líder nazista - Pikisuperstar, via Freepik e Domínio Público
Montagem de mapa antigo com itens de guerra, soldados e líder nazista - Pikisuperstar, via Freepik e Domínio Público

Ao olhar os inúmeros conflitos ocorridos ao longo da História, temos como ponto de partida a Batalha de Megido (século 15 a.C.), que opôs os egípcios a uma coalização canaanita. Apesar de não figurar entre as “Top 20”, e de não ser exatamente a mais antiga conhecida, merece uma menção especial, pois é a primeira com registros historiográficos e arqueológicos.

Já alguns dos embates mais emblemáticos travados pelo homem, como a Guerra de Troia, narrada por Homero em 'Ilíada', por exemplo, merecem cautela nesta lista por terem como característica o exagero e a liberdade romântica – afinal, muitos deles são escritos pelos vencedores.

Assim, para trazer uma reportagem precisa, nada mais justo do que recorrer àqueles que pavimentaram este caminho anteriormente, tendo a tarefa de definir as maiores batalhas da história. É válido citar autores como Richard Overy, Nigel Cawthorne, Saul David, Sir John Keegan e Ricardo Bonalume Neto – este último brasileiro é uma exceção neste universo, em que há a preponderância de europeus e estadunidenses.

De modo a equilibrar o texto, há batalhas que fogem ao “clássico” e se aproximam da nossa realidade, como a de Tuiuti (24 de maio de 1866), até hoje o maior e mais sangrento em bate campal na América do Sul. Assim, nosso ponto de partida, entre os mais de 4 mil anos de batalhas, será a Grécia, com o conflito que marca o eterno embate entre Ocidente e Oriente e que dá nome a uma das provas mais tradicionais das Olimpíadas: Maratona.

Batalhas do mundo antigo

Um dos principais embates das Guerras Médicas ou Greco Persas (500 a 448 a.C.) foi a Batalha de Maratona (setembro de 490 a.C.), cujo pano de fundo foi a expansão do Império Aquemênida (ou Primeiro Império Persa) pela Ásia Menor em direção ao que hoje é a Grécia, na época um emaranhado de Cidades Estado – sendo as mais famosas Atenas e Esparta.

Imortalizado na literatura ocidental por barrar o avanço de um grande império vindo do Oriente e, embora tenha sido um embate entre os conflitos que levaram meio século, é um marco na história mundial não só por Atenas, uma potência naval, ter vencido os persas em terra, mas também pelo grande desafio físico atribuído ao ateniense Fidípedes, também conhecido como Térsipo, que, já no início da batalha, foi incumbido pelo general Milcíades de correr até Esparta para pedir ajuda.

Cerca de 200 quilômetros separavam Maratona de Esparta e o corredor percorreu tudo em um dia.

Os espartanos prometeram assistência, porém apenas no final de seu feriado religioso. Como não poderia esperar, Milcíades bolou um plano arriscado, baseado no contato direto e preciso contra o inimigo. O forte dos persas eram os arqueiros e a cavalaria, já os gregos eram famosos pela formação de infantaria, os hoplitas, uma tropa de choque com armaduras pesadas e lanças de mais de 2,5 metros.

Milcíades sabia que precisava cercar os persas, de modo que não pudessem disparar suas flechas e atacar com seus cavalos, e assim foi.

Em um ataque de “tudo ou nada”, os hoplitas gregos cercaram o enorme exército persa que, com suas principais armas inutilizadas pela proximidade do combate, foram massacrados. Ao final, coube ao mesmo Fidípedescorrer 42 quilômetros até Atenas para dar a boa notícia e tranquilizar a população. “Alegrai-vos, atenienses, nós vencemos!”, disse ele, caindo morto devido ao esforço. A Grécia estava a salvo, por ora. Mas não seria o fim da rivalidade entre gregos e persas.

Mesmo depois de te rem afastado a ameaça de conquista da Grécia pela Ásia, e se dedicado a combaterem entre si – naquilo que ficou conhecido como Guerra do Peloponeso (431 a 404 a.C) –, abrindo as portas da conquista da Grécia pela Macedônia, os agora novos senhores, os macedônios, também se voltariam contra os persas.

O ponto nevrálgico viria justamente com aquele que se notabilizou como um dos maiores conquistadores de todos os tempos: Alexandre, O Grande, e sua vitória na Batalha de Gaugamela (1º de outubro de 331 a.C.).

Aprendiz do filósofo Aristóteles e apaixonado pelas façanhas dos heróis mitológicos como Aquiles e Hércules, foram a genialidade e a confiança do jovem general que definiram este combate – ou seja, se em Maratona foi a coragem diante do inimigo e o sacrifício físico que garantiram a vitória, em Gaugamela foi a liderança do comandante.

Ilustração da Batalha de Maratona - Crédito: Getty Images

Mesmo dispondo de uma força menor, a disciplina e o elo que Alexandre despertava em seus homens deram fim ao domínio persa na Ásia. Já os persas, ao verem seu rei, Dario III, fugirem meio ao avanço dos falangistas macedônios, se desmotivaram – a batalha estava perdida para eles. Alexandre não apenas acabou com uma antiga ameaça para a Grécia (e para o Ocidente), como conquistou a vastidão de terras a Leste que antes pertenciam ao poderoso império persa.

O comandante era agora o homem mais rico do mundo conhecido. Entretanto, após mais algumas campanhas e com uma morte prematura, com pouco mais de 30 anos, a supremacia helenística começou a se fragmentar – um prenúncio à ascensão de um império que até hoje é sinônimo de grandeza: Roma.

Batalhas dos Césares

Enquanto Alexandre marchava com seus exércitos pela Ásia, Roma ainda lutava para se firmar como uma potência local na Península Itálica. Mas não demoraria àquela pequena cidade conquistar tudo em seu caminho.

Primeiro uma república, depois um império, Roma teve um personagem que influenciaria o mundo como ninguém: Caio Júlio César ou, simplesmente, César. Seu nome é até hoje associado ao poder, tendo inclusive batizado os monarcas alemães (kaisers) e os russos (czares ou tzares).

Dos muitos feitos em sua carreira, foi a vitória de César na Batalha de Alésia (setembro de 52 a.C.) que fez com que ele e Roma se destacassem. A vitória em Alésia marcou o fim de mais de dez anos de campanha e a dominação romana na Gália, atual França. Além de um comandante militar notável, César foi um estadista que inspirava seus homens nos momentos mais difíceis.

Tendo do outro lado Vercingetórix, um rival à altura – o grande responsável por unir as tribos gálicas –, o general romano precisou de habilidade política e diplomática para vencerem Alésia.

Sua estratégia em isolar os gauleses numa cidade foi essencial para a vitória na campanha, porém, sem seu jogo político em ganhara confiança dos inimigos de Vercingetórix, de modo a contornar as baixas de suas fileiras e anistiar alguns gauleses que haviam mudado de lado, não teria conseguido vencer a batalha.

A vitória lhe renderia diversas homenagens em Roma, transformando o homem em lenda histórica e marcando, pouco a pouco, o fim da República Romana, cuja morte até pode ter vindo com o César “Ditador Perpétuo”, mas esta seria sucedida por um Império, onde Roma alcançaria seu auge.

Todavia, se Alésia deu aos romanos um ímpeto expansionista, a Batalha da Floresta de Teotoburgo (setembro do ano 9) freou, pelo menos momentaneamente, a sede por novas vitórias. Três legiões inteiras do poderoso exército de Augusto, o primeiro imperador romano (um nobre da linhagem de César), foram perdi das no confronto contra as tribos germânicas na floresta que dá nome à batalha.

Além dos inúmeros erros de cálculo e, inclusive (ou principalmente) políticos do administrador romano da região, Públio Quintílio Varo, a batalha tem três elementos de destaque.

Ilustração da Batalha da Floresta de Teotoburgo - Crédito: Getty Images

O primeiro é que o líder dos chamados “bárbaros” era Armínio, um príncipe germânico criado como romano que depois se rebelou contra Roma. O fato de Armínio conhecer as táticas romanas foi um ativo para os “bárbaros”. O segundo foi a estratégia de guerrilha empregada. Sabendo que seriam massacrados diante da disciplina tática dos romanos em um combate em campo aberto, Armínio optou por emboscá-los na floresta, pois em marcha estariam mais lentos, vulneráveis e teriam menos espaço para suas características formações de batalha.

O terceiro e mais importante foi que a derrota em Teotoburgo e a captura dos estandartes pelo inimigo– uma vergonha para a tropa – prenunciou o fim de Roma. Mesmo que o Império tenha ruído em definitivo apenas em 476 d.C. (justamente nas mãos de Odoacro, um germânico), o massacre de suas legiões fez com que Augusto se detivesse no Reno. A não colonização da margem oriental do rio preservaria as tradições germânicas e estabeleceria um distanciamento cultural que persiste na Europa até os dias de hoje.

Batalhas de dois mundos

A Roma do Ocidente pode ter caído em 476, mas sua contraparte oriental, também conhecida como Império Bizantino, continuou firme até1453. Neste período o mundo conhecido viu muitas guerras e, portanto, muitas batalhas. Um tipo de rivalidade específico norteou a maior parte delas, a velha rixa entre Ocidente e Oriente.

Apesar de os povos do “Velho Mundo” terem tido guerras locais, foram os conflitos de europeus contra asiáticos que produziram os maiores embates – sendo sua maior consequência a descoberta de “novos mundos”.

Depois de diversas invasões bárbaras e da luta de impérios para ocupar o vácuo deixado por Roma (muito sangue correu para que isso acontecesse), por volta do ano 1080 a situação era de “calmaria” na Europa. Tudo mudaria coma chegada do papa Urbano II ao poder, em 1088. Após promover reformas internas na Cúria Romana, em 1095 convocou os cristãos para uma guerra contra os muçulmanos em nome da libertação da Terra Santa.

Em troca do apoio dos nobres europeus, prometeu a salvação a todos os que “empunhassem uma espada contra os pagãos”, dando início às Cruzadas (1096 a 1291). Na primeira delas (1096 a 1099), os cruzados conquistaram Jerusalém, tendo sucesso em campanhas secundárias pelo Oriente Médio pelos quase cem anos seguintes.

Mas tudo mu daria na Batalha de Hattin (30 de junho a 4de julho de 1187), um ponto de virada na história das guerras e na história humana, pois a astúcia do sultão aiúbida, Saladino, derrotou os exércitos cruzados e iniciou a sequência de vitórias que levariam à expulsão dos cristãos da Terra Santa em 1291.

Saladino tem o mérito de ter usado o terreno a seu favor e de não ter subestimado o inimigo, pelo contrário, estudou cada detalhe do exército que combateria e explorou as fraque zas dos cristãos.

Estes, por sua vez, assoberbados, se deixaram envolver por uma suposta superioridade frente a um inimigo que consideravam inferior. Hattin deu a vitória a Saladino e ainda, com a derrota da maior parte das forças cristãs na Terra Santa, possibilitou que o sultão conquistasse Jerusalém.

Além de mostrar que nunca se deve subestimar o adversário, a conquista de uma força muçulmana não só reacenderia a rivalidade entre Ocidente e Oriente, como também inspiraria, séculos de pois, outro sultão, o otomano Mehmet II, em sua vitória na Batalha de Constantinopla.(06 de abril a 29 de maio de 1453). Mehmet era um grande admirador das façanhas militares do passado. Além de Saladino, tinha verdadeira admiração, inclusive, por heróis ocidentais, como Alexandre e César.

Acreditava ser o escolhido para concretizar aquilo no que seu pai havia fracassado, dando fim ao domínio bizantino da Anatólia. Por séculos, as muralhas de Constantinopla seguraram os invasores, garantindo a sobrevivência da “Segunda Roma”. Mas Mehmet tinha algo que nenhum dos demais que tentaram subjugar a cidade possuía: a bombarda, um dos primeiros canhões conhecidos. Ouso dela combinado com outras técnicas de com bate demonstra as inovações nas batalhas.

Não fosse seu poder de fogo, junto à determinação inabalável do líder otomano, Constantinopla dificilmente teria caído e a história mundial seria diferente. O fim da Roma do Oriente marca também o fim da Idade Média.

Devido ao intercâmbio dos bizantinos com russos de um lado e italianos do outro, a fugados sobreviventes contribuiu com a ascensão de Moscóvia no Oriente e com o Renascimento Italiano no Ocidente. Contudo, o acontecimento mais simbólico da queda da cidade foi o fim da entrada de especiarias das Índias.

Desde a Antiguidade, por meio da Rota da Seda, Constantinopla era uma porta para os bens do Oriente chegarem à Europa. Com a vitória otomana na batalha, os europeus se viram forçados a encontrar novas rotas para o comércio das valiosas mercadorias. A solução foi se lançarem a os mares, naquilo que ficou conhecido como as Grandes Navegações.

Além de novas rotas para o Oriente, chegaram à América e o conta to com os locais não foi pacífico. A Batalha de Tenochtitlán (30 de junho a1º de julho de 1521) é exemplo disso. Parte da saga da conquista espanhola do atual México, ela marca a fuga dos espanhóis da capital do Império Asteca.

Ilustração da Batalha de Constantinopla - Crédito: Getty Images

Depois de uma acolhida (os astecas achavam que os espanhóis eram deuses, pois suas armaduras e cavalos, desconhecidos nas Américas, assemelhavam se a profecias antigas), os desentendimentos fizeram com que começasse um conflito que culminou com a evasão desesperada dos espanhóis.

O episódio ficou conhecido como “a noite triste”, pois se diz que o comandante espanhol Hernán Cortés teria sentado numa árvore e chorado a morte de seus homens. Entretanto, a fúria com que viria a enfrentar os astecas na sequência se tornaria uma marca da dominação das Américas.

Para mais, como se não bastas se os europeus possuírem pólvora e aço – algo que lhes dava notável superioridade frente às armas dos povos nativos –, as doenças trazidas do mundo antigo contribuíram para a dominação europeia naquele que passou a ser chamado de “Novo Mundo”. Enquanto se ocupavam da América, o “Velho Mundo” continuava em ebulição. Desde a tomada de Constantinopla, os otomanos conquistavam tudo em seu caminho. Os Bálcãs já estavam praticamente dominados e, a não ser por poucas ilhas, a Grécia já estava subjugada.

Ao se dirigirem para Chipre, os otomanos acenderam um alerta em Roma, pois o papa Pio V sabia que a queda da ilha praticamente inviabilizaria a navegação cristã no Mediterrâneo. Além de enfrentarem os otomanos, a Igreja ainda lutava contra a Reforma Protestante no Norte da Europa.

Assim, era necessário todo esforço possível para preservar a cristandade. O papa, então, conseguiu reunir uma força das diversas nações cristãs e enfrentar os otomanos no mar.

A Santa Aliança, também conhecida como Liga Santa, rumou para o encontro da frota turca, e o desfecho deste conflito foi a Batalha de Lepanto (07 de outubro de 1571), o maior combate naval desde a Antiguidade.

Além de reunir uma força multinacional cristã enquanto os povos lutavam entre si por terras no Novo e no Velho Mundo, ela conseguiu afundar o ímpeto naval otomano em meio às águas que, segundo relatos, ficaram vermelhas de tanto sangue derramado. Não foi o fim da expansão otomana, mas a derrota dos turcos deu novo fôlego ao Ocidente.

Batalhas napoleônicas

Pouco mais de dois séculos separam Lepanto de outro embate que mudou o mundo. A humanidade viu muitos conflitos nesses 200 anos, mas foi a ascensão de Napoleão Bonaparte no rebuliço da Revolução Francesa (1789 a 1799) que colocou um fim à Idade Moderna e iniciou a Idade Contemporânea. Dos muitos episódios militares envolvendo Napoleão – Guerras da Primeira Coalizão (1792 a 1797), Guerras da Segunda Coalizão (1798 a 1802) e Guerras Napoleônicas (1803 a 1815) – duas batalhas entram nesta reportagem.

É claro que embates como Austerlitz (1805), Moscou (1812) e Borodino (1812) merecem destaque, mas foi na Batalha de Trafalgar (21 de outubro de 1805)e na Batalha de Waterloo(18 de junho de1815) que o ímpeto de Napoleão foi freado no mar e em terra, respectivamente. Trafalgar marca a ascensão definitiva da Royal Navy (a Marinha de Guerra Britânica) ea representação dramática de um comandante que deu tudo de si, inclusive a própria vida, em troca da vitória.

Contra a maior e mais poderosa armada franco-espanhola, o almirante Horatio Nelson, algoz de Napoleão na guerra naval, dispôs seus navios em uma estranha formação de fila indiana. A estratégia era simples, mas arriscada. Nelson estava disposto a expor a proa de seus navios ao fogo inimigo para penetrarem suas linhas de defesa e só então os navios ingleses abririam fogo, só que na popa dos franceses e espanhóis – a parte mais vulnerável aos tiros de canhão.

A manobra causou confusão na esquadra inimiga e os tiros a curta distância dos ingleses deixaram mais de 6 mil mortos e feridos do outro lado, contra 1500 do seu.

A morte do comandante em batalha ajudou a imortalizar Trafalgar. Era o fim do sonho de dominação naval de Napoleão, mas não sua derrota definitiva. Esta viria após muitas vitórias e reveses, dez anos depois, em Waterloo. Após voltar do primeiro exílio, Napoleão reuniu uma força de 73 mil homens e marchou para enfrentar as forças da Sétima Coalizão (ingleses, prussianos e demais aliados).

Em um intrincado jogo de xadrez, o imperador francês foi batendo um a um seus adversários. Mas do outro lado havia um comandante inglês rival à altura.

O Duque de Wellington expunha se aos tiros inimigos e dava ordem pessoalmente a seus quadrados de infantaria – a formação inglesa de “fortaleza humana”. Ao final do embate, depois de intrincadas manobras, Napoleão percebeu que o jogo chegara ao fim e retirou se do campo. Na linguagem militar antiga, isso significava não ter mais o que fazer, e assim foi. A derrota de Napoleão pôs fim ao seu império.

E embora as demais potências europeias tenham tentado reconstruir a dinâmica de poder pré- Revolução, os mais de 30 anos de guerra ha viam deixado uma marca. De rivais milenares, ingleses e franceses passaram a ser aliados e o estilo de guerra de Napoleão cruzou oceanos, sendo copiado inclusive na América do Sul.

Uma batalha no Conesul

A representante sul-americana nesta lista é a Batalha de Tuiuti (24 de maio de 1866), o maior e mais sangrento embate campal já visto na América do Sul. Geralmente esquecida na história, ela faz parte da Guerra do Paraguai (1865 a 1870), também chamada de Guerra da Tríplice Aliança, e merece seu destaque por ter alterado por completo a balança geopolítica na América do Sul.

Em um século que começa com Napoleão marchando sobre a Europa e que tem os Estados Unidos se firmando como nação na Guerra Civil Americana (1861 a 1865),a Guerra do Paraguai teve como protagonistas, de um lado brasileiros, argentinos e uruguaios e, do outro, os paraguaios. A sede expansionista do ditador do Paraguai, Francisco Solano López, que iniciou o conflito ao invadir o Brasil, encontrou seu fim em Tuiuti. Na história das guerras há sempre uma batalha decisiva.

Aquela em que a situação muda de lado e, mesmo que não venha pôr fim ao conflito, faz com que os ventos da vitória mudem de direção. Para a Tríplice Aliança, este é o simbolismo de Tuiuti. Apesar de os paraguaios terem desferido o assalto inicial, foi a supremacia da artilharia brasileira e o contra ataque disciplinado dos Aliados que garantiram a vitória.

De proporções épicas, Tuiuti fez com que dali em diante o Paraguai apenas se defendesse, mas sem ter a iniciativa. A batalha também marcou a ascensão do Brasil como uma potência regional que dispunha de um corpo armado moderno para os padrões da época. Só que, dali em diante, com a chegada da Era Industrial, o mundo veria um novo tipo de guerra: aquela que viria para pôr fim a todas as guerras.

Batalhas modernas

Imagine toda a população masculina adulta desaparecer de uma cidade em apenas um dia. Isso aconteceu em 1º de julho de 1916, na estreia da Batalha do Somme (1º de julho a 18 de novembro de 1916), quando o exército britânico perdeu 19.240 homens – até hoje o maior número de mortos em um só dia. Ao soar do apito, homens de diferentes classes sociais tiveram suas vidas ceifadas pelo fogo de metralhadoras e da artilharia alemã, fazendo com que uma geração inteira fosse apagada de diversas cidades inglesas.

A Revolução Industrial, que começara no século 18 com a máquina a vapor, produzia agora metralhadoras, canhões, fuzis de repetição, tanques de guerra e gases letais. Se armas deram a vantagem à Europa, aos Estados Unidos e ao Japão, permitindo que conquistassem o mundo dos povos nativos na segunda metade do século 19, agora que os dois lados do conflito as possuíam, o resultado, chamado de “Guerra Moderna” era pura carnificina.

A Batalha do Somme, uma das várias fúteis travadas na Primeira Guerra Mundial (1914 a1918), simboliza a insanidade de se mandar milhares para a morte certa por alguns palmos de terreno. O resultado foi mais de 1 milhão de baixas e pouca mudança no status quo da guerra, que acabaria apenas em 1918. Mas, se o Somme foi a insanidade militar, um episódio no conflito seguinte seria a crueldade personificada. A Batalha de Guernica (26 de abril de 1937) entra na lista pelo simbolismo que ela passou a ter para a história humana.

Soldados durante a Batalha do Somme - Crédito: Getty Images

Imortalizada na obra homônima de Pablo Picasso, o bombardeio da cidade basca pela Legião Condor – nazistas lutando ao lado das tropas de Francisco Franco – não foi uma batalha, mas uma carnificina cometida contra civis indefesos. Durante toda a história das guerras, as maiores vítimas foram sempre os civis. Se no passado estes eram afetados pelos cercos às cidades e fortalezas, no século 20, com a guerras e espalhando para além do campo de batalha, sua situação ficou ainda mais precária.

Campanhas inteiras passaram a ser executa das contra alvos não militares, como o caso de Guernica, e a humanidade chegou a uma encruzilhada moral que, a despeito de tratados e convenções, continua a ser uma situação sem solução.

Guernica – e a Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939) como um todo – foi apenas o prelúdio daquele que viria a ser o maior e mais mortífero conflito já travado no planeta: a Segunda Guerra Mundial.

Batalhas da Segunda Guerra

Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha marchou sobre a Polônia e a terra tremeu. Era o início do conflito mais sangrento da humanidade: a Segunda Grande Guerra. Entre 1939 e 1942, a Alemanha Nazista e seus aliados (especialmente a Itália fascista e o Japão) conquistaram tudo em seu caminho, mas em agosto de 1942 a sede expansionista do Eixo foi freada em uma cidade no Sul da atual Rússia, Stalingrado – onde ocorreu a primeira das quatro batalhas da Segunda Guerra Mundial que figuram em nossa lista.

A Batalha de Stalingrado (23 de agosto de1942 a 03 de fevereiro de 1943), o maior e mais mortífero embate da história, com saldo final de mais de 1.2 milhão de mortos, foi o episódio que mudou o curso da guerra, pois, apesar das perdas soviéticas terem sido maiores que as alemãs, os nazistas nunca mais se recuperariam do choque da perda de um exército inteiro naquela cidade às margens do Volga.

Cinco meses depois, na fútil tentativa de recobrarem a dianteira, reuniram uma colossal força de blindados para um embate campal decisivo: a Batalha de Kursk (05 a 13 de julho de 1943)resultou no maior combate de tanques da história, e no momento em que o Alto Comando em Berlim percebeu que a guerra estava perdida. Stalingrado acendeu o sinal de alerta e Kursk foi a virada. Dali em diante, apesar de todo o sangue que ainda seria derramado nos dois anos seguintes, a Alemanha perdeu a iniciativa e só restava se defender.

Este é o caso da batalha que ficou conhecida como o Dia D (06 de junho de 1944), a maior operação combinada (terra, ar e mar) da história das guerras, o golpe de misericórdia na Muralha do Atlântico de Hitler e o início da Batalha da Normandia (1944). Ainda levaria onze longos meses até a capitulação da Alemanha, mas a abertura de uma frente ocidental na Europa aliviou a carga do Exército Vermelho na frente oriental, permitindo que este tomasse Berlim em 1945.

O Dia D entrou para a História como “o mais longo dos dias” e é até hoje um feito militar sem igual. Finda a guerra na Europa, ainda faltava der rotar o Japão. E foi na Batalha de Okinawa (1º de abril a 02 de julho de 1945) que os Estados Unidos perceberam que o ataque às ilhas japonesas não seria algo fácil. Okinawa é parte do arquipélago que forma o Japão e sua defesa foi brutal.

Soldados durante a Batalha de Okinawa - Crédito: Domínio Público

O saldo de mais de 50 mil baixas estadunidenses somadas aos mais de 100 mil com batentes japoneses mortos ou feridos, além de 150 mil civis vitimados, fez com que o presidente Harry S. Truman desse o aval para que a “arma da morte” fosse lançada, arrasando Hiroshima e Nagasaki. Além de “poupar” a vida de seus soldados, o uso da bomba atômica foi um alerta para Stalin, que tinha acabado de tomar a Manchúria dos japoneses.

A paz trazida pela derrota do Eixo não dura ria muito, pois a vitória Aliada havia elevado os EUA e a União Soviética à condição de superpotência. Evitando um embate direto entre os gigantes, o que se viu foi uma guerra indireta entre capitalistas e comunistas.

Batalhas quentes da Guerra Fria

Travando um conflito indireto por meio de seus aliados ou países satélites, os EUA e a URSS forneceram assistência militar a inúmeras batalhas durante a Guerra Fria (1945 a1991). Um embate símbolo desta “queda de braço” é a Batalha de Dien Bien Phu (13 de março a 07 de maio de 1954). Parte das guerras de descolonização e o ponto nevrálgico da Primeira Guerra da Indochina (1946 a 1954), Dien Bien Phu opôs os norte vietnamitas e os guerrilheiros vietminha os franceses.

Um “misto de Alésia com as trincheiras da Gran de Guerra” é o que os franceses tentaram fazer. A estratégia de colocar uma fortaleza bem no meio das linhas de suprimento do inimigo, ao passo que eles próprios seriam supridos pelo ar, era aparentemente brilhante.

Mas os generais franceses superestimaram o gênio do general Võ Nguyên Giáp. Não acreditavam que os vietnamitas fossem capazes de mover pesadas peças de artilharia em meio à vegetação densa da selva, porém foi o que fizeram.

A guarnição entrincheirada não foi capaz de fazer frente ao poder de fogo do inimigo. A derrota em Dien Bien Phu foi uma comoção nacional e minou o moral dos combatentes franceses. Logo, os colonizadores se retirariam, mas o Vietnã ainda teria um longo caminho até a paz. Por falar em paz, se lembrarmos da importância da Terra Santa na história das batalhas, em pleno século 20, a paz ainda estava longe de ser alcançada na região.

A Guerra dos Seis Dias (05 a 10 de junho de 1967) foi uma série de vitórias rápidas de Israel, sendo a ocupação da margem oriental pelas forças hebreias a mais significativa entre elas. O episódio é importante, pois até hoje traz repercussões com as Nações Unidas condenando a ocupação – além de marcar o controle completo da Cidade Santa por um exército hebreu em mais de mil anos.

Soldados e civis durante o período da Guerra dos Seis Dias - Crédito: Getty Images

A nova fase das batalhas

A Guerra Fria acabou oficialmente com o fim da URSS em 1991. Entretanto, o conflito direto entre o Ocidente e o Oriente nunca veio. As mu danças geopolíticas dos anos 1990 elevaram os EUA à condição de potência inconteste e precipitaram o mundo unipolar. A guerra se fragmentou ainda mais e as batalhas se tornaram assimétricas e localizadas, parte de um contexto maior conhecido como Guerra ao Terror (2001 a 2021).

Contudo, nunca tendo sido batida no campo de batalha, a Rússia se reergueu das cinzas da URSS e retomou seus tatus quo de grande potência Enfraquecido após a Crise do Subprime (2008) e anos de guerras no Oriente Médio, o poderio norte americano passou a ser contestado, dando origem ao mundo multipolar em que vivemos. A Europa ainda mantém um poder militar considerável, mas novos/velhos atores, como China, Índia, Arábia Saudita e Irã passaram ater cada vez mais protagonismo.

Retornando ao “centro do sistema”, novos conflitos passaram a ter Estados nacionais como antagonistas. Pondo fim ao paradigma de uma Europa sem guerras no pós 1945, a última batalha da lista– talvez a mais importante, pela atualidade – é a Batalha de Bakhmut (1º de agosto a 21 de maio de 2023).

Parte do conflito russo ucraniano iniciado no ano passado, Bakhmut surpreendeu os analistas ocidentais dado a escalados combates. Com mais de 100 mil baixas de ambos os lados, linhas de trincheira como as da grande guerra e ataques de artilharia e aviação sucedidos por cargas de infantaria, este conflito demonstra que as batalhas mudaram, e seguem mudando, o mundo.