Revelado no começo de 2021, o objeto de 5.000 anos impressiona
Um grupo de arqueólogos escavava uma sepultura megalítica, Tholos de Montelirio (Espanha) datada da Idade do Cobre (2900/2800 a.C) quando fizeram uma descoberta notável. A novidade foi divulgada no começo de 2021. Durante a escavação foi encontrada uma adaga com cerca de 5.000 anos e talhada em cristal de rocha.
Além de toda a sofisticação ao nível do aspeto tecnológico o material escolhido é pouco utilizado dada a rareza e o difícil manuseamento. Até à data, se trata da arma pré-histórica mais sofisticada encontrada em território ibérico.
Ao divulgarem o achado através de um artigo científico publicado na Quaternary International, a equipe de arqueólogos frisou que “A fabricação do punhal de cristal de rocha deve ter sido baseada em um acúmulo de conhecimento e habilidade empíricas transmitidos da produção de lâminas de adaga de pedra, bem como do know-how de rocha-cristal de pequenos objetos bifaciais foliáicos”.
A lâmina foi projetada para ser encaixada numa alça feita em marfim, material que também é cacterizado pela raridade.
A adaga não foi um achado isolado, mas, pelo contrário, fazia parte de um cenário complexo e rico. Junto a ela, foram ainda descobertas 10 pontas de flechas e duas lâminas assim como um núcleo intacto, tudo do mesmo material.
Dentro do monumento megalítico jaziam os restos mortais de 25 indivíduos juntamente com peças de joalheria, ovos de avestruz e variadas peças em cerâmica. Há ainda registo de presas de elefante depositadas no mesmo local.
Dada à riqueza das descobertas é de se supor que este era um local de enterramento destinado à elite.
Exatamente como explicam os profissionais envolvidos no estudo, “ (…os achados), presumivelmente refletem presentes funerários que eram exclusivamente acessíveis às elites do referido período histórico. O cristal de rocha, por outro lado, deve ter um propósito simbólico como matéria-prima com significados e implicações particulares. Na literatura há vários exemplos de culturas em que este material é associado com a representação da vida, às habilidades mágicas e à conexão com os antepassados”.
Joana Freitas é formada em história na vertente de arqueologia pela faculdade de letras da Universidade do Porto e tem por áreas de maior interesse a evolução humana e a pré-história. Fora do campo de formação tem como disciplinas preferidas a antropologia e a paleontologia que no fundo complementam a sua formação de base.
Gosta de conhecer outros lugares, principalmente as suas pessoas, ler e escrever. Embora tenha participado em diversas escavações de vários períodos históricos de diversos países, o local arqueológico que mais marcou o seu percurso e onde esteve presente em várias campanhas diferentes foi castanheiro do vento, um recinto pré-histórico em Vila Nova de foz Côa, em Portugal.