De acordo com Hallie Rubenhold, a versão oficial é fruto do sexismo da época e depois
Letícia Yazbek e Thiago Lincolins Publicado em 18/09/2018, às 13h00 - Atualizado em 19/10/2018, às 10h24
A história de Jack, o Estripador, está cercada de mitos – o maior deles a respeito de quem foi o assassino, com um suspeito até entre a realeza, e sequer foi mesmo uma pessoa só. O fato é que ao menos cinco mulheres (oficialmente; o total que pode chegar a oito) foram brutalizas e deixadas com as vísceras expostas em pouco mais de dois meses no outono de 1888, driblando a melhor polícia do mundo da época, a Scotland Yard.
130 anos depois, a historiadora britânica Hallie Rubenhold luta para desfazer o que vê como uma injustiça e equívoco. No recém-lançado The Five (“As Cinco”), Rubenhold explica que a visão sexista e classista dos policiais e da imprensa envolvidos na trama acabaram criando uma imagem errada das vítimas.
Em todos as ocorrências, as mulheres são retratadas como prostitutas - assim, Jack ficou conhecido como um “assassino de meretrizes”. Basta procurar qualquer artigo sobre a história (inclusive o nosso): todas as mulheres mortas por Jack são representadas como prostitutas miseráveis, a maioria já entradas na meia-idade.
Segundo Rubenhold, pelo menos três das vítimas trabalhavam como empregadas domésticas. Uma delas havia se mudado da Suécia para Londres, em busca de melhores oportunidades de trabalho, e gerenciava uma cafeteria ao lado do marido. Não há qualquer evidência de que elas recebiam dinheiro em troca de sexo.
Mary Jane Kelly, outro alvo de Jack, já havia atuado na profissão. Mas não se sabe se ela ainda estava na ativa no momento em que foi assassinada. “Elas eram pobres, mulheres da classe trabalhadora - uma delas fazia parte da classe média, na verdade. Eram casadas e tinham filhos”, afirma a historiadora.
Na visão dos homens britânicos do século 19, uma mulher, pobre, andando sozinha à noite num bairro degradado como Whitechapel só poderia ser prostituta. Não havia muito o que investigar. E assim elas foram chamadas nos documentos da polícia, replicados pela imprensa e os historiadores. Segundo Rubenhold, enquanto as pessoas estavam entretidas em descobrir a verdadeira identidade de Jack, as vítimas foram deixadas de lado, explicadas de forma preguiçosa, apressada e preconceituosa. “São cinco mulheres que foram completamente desumanizadas por 130 anos pela nossa cultura. Precisamos corrigir isso.”