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Notícias / Brasil

Substância alucinógena retirada de sapo teria sido usada em rituais de grupo xamânico

Participantes alegam surtos psicóticos e outros efeitos adversos após uso de substância que foi usada sem aviso prévio por instituto xamânico

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
[email protected]

Publicado em 22/05/2023, às 10h07

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O sapo Bufo alvarius - Holger Krisp via Wikimedia Commons
O sapo Bufo alvarius - Holger Krisp via Wikimedia Commons

Participantes de um ritual realizado por um grupo que se define como xamânico alegam que, sem aviso prévio, foram submetidos a sessões com uma substância psicodélica proibida no Brasil. 

Relatos apontam que sessões realizadas pelo Instituto Xamanismo Sete Raios, com sede em São Paulo, usam o veneno de um sapo nomeado de "Bufo alvarius" para aprofundar a jornada espiritual dos participantes.

Conhecido popularmente como bufo, o veneno 5-MeO-DMT trata-se de um psicodélico usado em cerimônias religiosas no exterior, mas que está na lista de substâncias proibidas no Brasil pela Anvisa. 

O uso de substâncias alucinógenas como a 5-MeO-DMT, retirada do sapo Bufo alvarius, é crime, uma vez que tal prática é proibida no país", aponta a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça. 

Os efeitos

Uma das vítimas submetidas ao uso do alucinógeno, a advogada Gabriela Augusta Silva, de Goiás, relatou ao G1 que, após o ritual com o bufo, passou a sofrer com crises de pânico e ansiedade, problemas respiratórios, surtos psicóticos e pensamentos suicidas. 

A sessão que Gabriela participou teria acontecido em outubro de 2021. A advogada aponta que após a inalação da substância, chegou a perder a consciência. Ela só acordou cerca de 30 minutos depois, mas afirma jamais ter sido a mesma pessoa. 

Conforme seu relato, Gabriela buscava uma maneira de enfrentar o luto pela morte de seu irmão, vítima de um acidente de carro em 2017, e também uma maior conexão com Deus. Ela diz que jamais teve problemas relacionados a saúde mental, mas que chegou a ser internada em um hospital neurológico e a tomar remédios controlados após a sessão. 

Droga ilegal 

De acordo com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça, "o uso de substâncias alucinógenas como a 5-MeO-DMT, retirada do sapo Bufo alvarius, é crime, uma vez que tal prática é proibida no país".

Além de Gabriela, outras pessoas acusam o Instituto de Vivências Xamânicas Xamanismo Sete Raios de promover sessões com a substância sem alertá-los sobre a proibição do bafo ou até mesmo seus possíveis danos colaterais. As vítimas também alegam não terem assinado nenhum termo de responsabilidade e de não receber acompanhamento após as sessões. 

Pelo fato do alucinógeno ser proibido no país, a Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para apurar o grupo Xamanismo Sete Raios pelo possível crime de tráfico de drogas. 

O Grupo Xamanismo Sete Raios

Por meio de nota enviada ao G1, a equipe de advogados do grupo Xamanismo Sete Raios se manifestou em relação às acusações. Confira abaixo a nota na íntegra!

"Através de suas advogadas, o Instituto de Vivências Xamânicas Xamanismo Sete Raios, vem esclarecer que:

O Instituto de Vivências Xamânicas Xamanismo Sete Raios, fundado em São Paulo, é uma associação religiosa, legalmente constituída e em respeito a Resolução n.5 de 2004, do Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas. Idealizado e fundado pelo Terapeuta Holístico Felipe Rocha (CRTH4074), o Instituto já realizou dezenas de encontros em contexto religioso e ritualístico, nos quais a cultura dos povos originários e as práticas tradicionais de autoconhecimento são enaltecidas dentro do ambiente urbano. A instituição jamais teve ou tem como objetivo incentivar ou promover o uso social ou terapêutico de substâncias ou, ainda, a substituição de práticas de saúde, tratando-se exclusividade de abordagem de caráter ritualística e religiosa, com finalidades espirituais.

A título de esclarecimento, no final do ano de 2019, o Instituto recebeu a visita de um líder espiritual mexicano que trouxe a substância 5-MeO-DMT, extraída do sapo Bufo Alvarius, utilizada tradicionalmente em rituais religioso naquele país e sendo uma substância também presente na Ayahuasca, cuja prática ritualística e religiosa é devidamente reconhecida pelo Estado brasileiro. O referido líder espiritual conduziu então dois rituais com a substância mencionada com a presença de membros do Instituto, sendo que à época dos eventos, os representantes do Instituto não tinham conhecimento da discussão acerca legalidade do Bufo Alvarius no Brasil. Após esses encontros e o aprofundamento do estudo sobre a substância, o Instituto não teve mais qualquer associação a rituais como esses.

É fundamental esclarecer que alguns membros do Instituto, de forma independente, deram continuidade aos estudos e rituais individuais com o Bufo Alvarius, cujos efeitos terapêuticos vêm sendo amplamente estudados pela comunidade científica, no Brasil e no mundo. Esses rituais não tinham vinculação com as atividades do Instituto Xamanismo Sete Raios, tampouco com suas práticas religiosas.

Na sua posição de estudioso das substâncias psicodélicas e do seu reconhecido potencial terapêutico, o dirigente do Instituto se utiliza do termo “Medicina” para se referir às substâncias naturais utilizadas em contexto ritualístico. Inclusive, o termo “medicinas da floresta” é o termo largamente utilizado pela comunidade indígena e seus estudiosos e por grupos religiosos ligados ao Xamanismo.

O Instituto está ciente das descabidas alegações feitas por um grupo específico de pessoas, que, vale mencionar, possuem todos vínculos amorosos e/ou familiares e que participaram ativamente e voluntariamente não só nos rituais mencionados, como em outros e nas próprias atividades do Instituto. Inclusive, as pessoas citadas já haviam participado de rituais com Ayahuasca anteriormente à relação com o Instituto, sendo descabidas as alegações de desconhecimento.

A pessoa de Gabriela Silva, que agora pretende se apresentar como vítima, era cliente do dirigente do Instituto, na sua condição de terapeuta integrativo devidamente credenciado e habilitado. Por esta razão, após a alegada experiência da denunciante como Bufo Alvarius, Felipe entrou pessoalmente em contato com ela para orientá-la, postura que foi validada e agradecida pela advogada. Vale ressaltar que qualquer argumentação de desconhecimento da Lei por parte dela deve ser rechaçada, uma vez que, como mencionado, é advogada, devidamente habilitada pela OAB/GO, com especialização na renomada Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e diante de sua profissão e especialização, jamais poderia alegar desconhecimento da Lei. Seu companheiro, Rafael Verçosa, foi membro e facilitador de rituais, inclusive, sendo fato que conheceu Gabriela durante um dos rituais e foi a pessoa que a incentivou a participar da prática religiosa como Bufo Alvarius.

O Instituto afirma que as pessoas mencionadas deram início a uma lamentável perseguição religiosa contra as práticas de fé do Xamanismo Sete Raios, e que essa atitude criminosa será oportunamente denunciada à Justiça. Há provas de que tanto a Gabriela quanto seu companheiro, Rafael Verçosa, aderiram a um conservadorismo religioso feroz, que culminou com uma série de acusações inverídicas contra o Instituto e suas práticas religiosas. Além disso, há indícios também de uma tentativa de concorrência empresarial - que vale dizer, é inexistente, tendo em vista a diferença entre a natureza jurídica das organizações -, uma vez que o casal possui uma empresa - com fins lucrativos - que explora vivências na Amazônia, com povos originários, denominada “Retiros com Propósito”. Nesse sentido, eles também procuraram um dos membros do Instituto para levar o Bufo Alvarius para essas vivências, em Goiás, tudo conforme provas produzidas e que serão oportunamente apresentadas à Justiça.

O Xamanismo Sete Raios é uma fundação religiosa que reverencia e apoia diretamente a cultura originária e os povos da Amazônia, num trabalho de fortalecimento da sabedoria ancestral - há séculos perseguida e vilipendiada pelo conservadorismo religioso. A denunciante claramente está utilizando a estrutura judiciária e os veículos de mídia para empreender uma cruzada pessoal contra uma instituição religiosa, motivada por questões de ordem pessoal e por restrições de crença. No mais, toda e qualquer falsa acusação será tratada devidamente perante à Justiça."