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Rembrandt misturou sulfeto de arsênio em quadro, aponta pesquisa

Pesquisa publicada recentemente revelou que o artista utilizou pigmentos de sulfeto de arsênio em 'A Ronda Noturna', sua obra mais famosa

por Giovanna Gomes
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Publicado em 01/08/2024, às 11h52

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Quadro 'A Ronda Noturna' (1642), de Rembrandt - Divulgação
Quadro 'A Ronda Noturna' (1642), de Rembrandt - Divulgação

Uma pesquisa realizada pelo museu Rijksmuseum em parceria com a Universidade de Amsterdã revelou que o artista holandês Rembrandt utilizou pigmentos de sulfeto de arsênio em sua obra mais famosa, "A Ronda Noturna" (1642).

A pesquisa, iniciada em 2019, sugere que o artista criou a ilusão de um fio de ouro nos bordados do gibão do tenente Willem van Ruytenburch, a figura central vestida de amarelo.

"Pensávamos que Rembrandt havia usado pigmentos naturais de sulfeto de arsênio, como o auripigmento (amarelo) e realgar (vermelho) para o efeito dourado do colete do tenente van Ruytenburch", explica Fréderique Broers, uma das autoras do estudo, junto com Nouchka de Keyser, de acordo com o portal O Globo.

Contudo, a partir do uso de técnicas de espectroscopia, microscopia e raios X em amostras obtidas em 2019 foi possível notar a presença de pararealgar (formado como alteração do realgar) e pararealgar semi-amorfo. Este último deve ter sido obtido aquecendo ou tostando o primeiro, resultando em um sulfeto de arsênio artificial.

Apesar do fato de, na época, os pigmentos serem aplicados a frutas e flores das naturezas-mortas, a descoberta indica que Rembrandt inovou ao usá-los em retratos. Isso amplia a gama de materiais que se acreditava estarem disponíveis para artistas do século 17 em Amsterdã, assim como adiciona cores à paleta do pintor.

A pesquisa, publicada na revista "Heritage Science", revela que a terminologia dos pigmentos pode ser confusa, pois nomes diferentes foram usados ao longo do tempo e em diferentes países.

Com técnicas analíticas específicas, foi possível diferenciar as moléculas dos pigmentos. Os pigmentos eram muito tóxicos em forma de pó, mas se estabilizavam quando misturados com óleo de linhaça para obter tinta.

De acordo com Broers, pararealgar costuma aparecer nas pinturas antigas porque o realgar se degrada nesse composto com o tempo. No entanto, em "A Ronda Noturna", o pararealgar está distribuído junto com o pararealgar semi-amorfo de forma homogênea e sem alterações, sugerindo que Rembrandt os usou deliberadamente para criar o efeito de reflexo dourado na roupa do tenente, recriando um tecido luxuoso que capturava a luz da composição.

Não está claro, segundo os pesquisadores, se o artista comprou a mistura de vermelho e amarelo já pronta ou se a fez em seu ateliê. Uma vez que os Países Baixos não possuem recursos minerais significativos, acredita-se que esses materiais chegavam através de rotas comerciais na Alemanha, Viena e Veneza, e o artista podia comprá-los em Amsterdã. Assim, o uso de sulfitos de arsênio naturais e artificiais pode ter sido mais comum do que se pensava no Século de Ouro da pintura holandesa.

Além disso, Rembrandt também tinha acesso a bermelhão (sulfeto de mercúrio) e cores terra conseguidas com ferro, mas estes careciam da profundidade conseguida com sulfeto de arsênio.

Combinações de materiais

Os artistas do século 17 podiam consultar manuais que explicavam as combinações de materiais para pintar e como dispor as diferentes camadas. Embora desconhecessem os detalhes das reações químicas, sabiam que o sulfeto de arsênio não deveria ser misturado com chumbo para evitar escurecimento.

O estudo inclui uma revisão de fontes históricas, constatando o uso de pigmentos similares em uma natureza-morta de Willem Kalf, contemporâneo de Rembrandt e também residente em Amsterdã.