No ano de 2017, foi encontrado o primeiro esqueleto completo no Cemitério dos Pretos Novos, no Rio de Janeiro
Uma equipe de arqueólogos que escavava o sítio arqueológico Cemitério dos Pretos Novos, na atual região portuária do Rio de Janeiro, realizou uma importante descoberta no ano de 2017. Os profissionais localizaram, na época, o primeiro esqueleto completo de uma pessoa escravizada que morrera cerca de dois séculos antes.
No passado, escravizados que não resistiam à longa jornada a bordo dos navios negreiros e vinham a óbito eram jogados no local sem qualquer zelo.
O terreno foi redescoberto em 1996 e, posteriormente, foi transformado no Instituto de Pesquisa e Memória dos Pretos Novos (IPN).
As escavações, lideradas pelo arqueólogo Reinaldo Tavares se deram em uma área de 2 metros quadrados, em um dos poços de observação do cemitério.
Conforme informações da Agência Brasil, a descoberta ocorreu após sete meses desde o início das atividades.
Os pesquisadores ficaram muito impressionados com o fato dos restos mortais pertencerem a uma mulher, já que, segundo Tavares, somente 9% dos africanos escravizados trazidos ao Brasil seriam do sexo feminino.
Ela era jovem, tinha por volta de vinte anos de idade no momento de sua morte e teria morrido ainda no início do século 19.
Ao esqueleto, os arqueólogos deram o nome de Josefina Bakhita, em homenagem à primeira santa africana da Igreja Católica.
Os profissionais destacaram que o esqueleto foi encontrado entrelaçado aos restos mortais de várias outras pessoas, o que indica que os corpos eram empilhados de qualquer maneira, sem o menor respeito pelos indivíduos que partiram.
Conforme as escavações avançam, porém, os especialistas podem recuperar um pouco de suas histórias, há tanto tempo esquecidas.
“O indivíduo passa a contar a sua história. Não são somente ossos esparsos e quebrados, como até então havíamos encontrado. Agora estamos encontrando os indivíduos. Isso é muito importante, porque, pela primeira vez, estamos encontrando os africanos que chegaram ao Rio de Janeiro”.
De acordo com a fonte, o cemitério funcionou entre os anos de 1769 e 1830, tendo sido redescoberto em 1996, quando Merced Guimarães, proprietária da casa que fora construída sobre ele, encontrou restos mortais durante uma reforma.
“No início a gente achou que eram pessoas da casa que haviam sido enterradas ali. Aí a gente ficou pensando [no que fazer] e fomos até o Centro Cultural José Bonifácio [municipal, dedicado à preservação da cultura afro-brasileira]. Lá eles falaram que aqui era o antigo cemitério dos escravos”, declarou Guimarães.