Estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) analisou vestígios de animais em sambaquis nos litorais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Uma pesquisa inédita realizada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) revelou que baleias, pinguins e leões-marinhos estavam entre os principais animais caçados pelos povos que habitaram o litoral sul do Brasil entre 4,2 mil e mil anos atrás. O estudo em questão analisou vestígios de animais em sambaquis nos litorais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Embora o consumo de peixes e moluscos por essas populações ancestrais já fosse bem documentado, a nova pesquisa destaca a diversidade da dieta e da cultura desses grupos. Os resultados foram publicados na edição de segunda-feira, 13, da revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências”.
De acordo com a revista Galileu, o estudo analisou cerca de 4 mil vestígios dos chamados tetrápodes, localizados em dez sítios zooarqueológicos e armazenados em museus de arqueologia da região, com o objetivo de investigar se os pescadores-coletores-caçadores caçavam animais vertebrados de quatro patas, como mamíferos, anfíbios, répteis e aves, durante o Holoceno – época geológica iniciada há cerca de 12 mil anos.
Os pesquisadores identificaram 46 táxons, unidades de agrupamento biológico, sendo a maioria de animais marinhos, principalmente cetáceos e baleias. As espécies mais comuns foram os pinguins-de-Magalhães e as baleias-francas-austrais. Em menor quantidade, também foram encontrados tetrápodes terrestres, como a anta sul-americana.
Segundo a fonte, os sambaquis continham restos de animais de diversos ambientes, como praias, mangues, pântanos e florestas. A variedade de vestígios indica métodos oportunistas e estratégicos de caça e pesca, especialmente no caso dos pinguins-de-Magalhães, que migram da Patagônia para a costa brasileira entre março e setembro.
De acordo com o pesquisador da Ufes Augusto Mendes, autor do artigo, saber sobre os hábitos culturais dos povos que ocuparam o território brasileiro no passado permite entender a biodiversidade da época.
Os vestígios de animais no sambaqui são resultados das práticas simbólicas e cotidianas dos sambaquieiros, como dieta e rituais funerários”, diz o pesquisador.
Vale destacar que, além da alimentação, os animais caçados podiam servir de matéria-prima na confecção de artefatos e ornamentos a partir dos ossos, por exemplo.
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