O presidente Jair Bolsonaro criou uma comissão de análise para impedir temas indesejados no exame
Na primeira prova do Enem ocorrida no governo de Jair Bolsonaro, conteúdos sobre a Ditadura Militar deixaram de marcar presença - o que não ocorria há dez anos. Segundo levantamento feito pela Folha de São Paulo, a última vez em que o período de 1964 a 1985 não foi abordado foi 2009.
Em anos anteriores, documentos como o discurso de João Goulart na Central do Brasil ou charges de Henfil foram disponibilizados para questões da prova de Humanas e Linguagens.
Mesmo em 2011, quando a Ditadura não foi diretamente abordada, houve uma questão sobre a relação entre direita conservadora e o Centro Popular de Cultura na época que antecedeu o Golpe.
Giba Alvarez, professor do Cursinho da Poli-USP, também enfatizou a ausência de questões sobre a Era Vargas, as mais comuns na prova.
Segundo ele, essas distinções são marcas do trabalho da comissão do Inep criada para realizar uma triagem ideológica: “fica evidente a retirada de temas que pudessem gerar polêmicas. Com isso, virou uma prova ideológica”.
O presidente Jair Bolsonaro já havia criticado a comissão do Enem devido a uma questão que fazia referência a um dialeto usado por gays e travestis. Na ocasião, ele afirmou que tomaria “conhecimento da prova” antes da aplicação, o que não compete ao presidente da República.
A triagem ideológica foi realizada pela comissão formada em março pelo Inep, cujos procedimentos não foram divulgados ao público.