Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Notícias / Arqueologia

Novo estudo sugere que comunidades celtas da Grã-Bretanha eram matriarcais

Uma análise genética de dezenas de esqueletos da Idade do Ferro revelou que a antiga sociedade celta era organizada em torno das mulheres; entenda!

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 16/01/2025, às 13h41

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Antiga sepultura celta escavada em Dorset, no Reino Unido - Divulgação/Bournemouth University
Antiga sepultura celta escavada em Dorset, no Reino Unido - Divulgação/Bournemouth University

Desde 2009, pesquisadores britânicos escavam um antigo cemitério celta conhecido como Duropolis, que foi usado antes e depois da Conquista Romana na região, em 43 d.C.. E uma análise genética realizada recentemente em esqueletos ali desenterrados possibilitou uma descoberta impressionante referente à sociedade celta que viveu na Grã-Bretanha: ela era matriarcal.

A partir da análise do DNA de dezenas de sepulturas, os pesquisadores determinaram a existência de uma comunidade cuja linhagem poderia ser rastreada até uma mulher, além de pontuar que homens se juntavam ao grupo após o casamento, em vez de mulheres se deslocarem.

Esta é a primeira vez que este tipo de sistema foi documentado na pré-história europeia", afirma Lara Cassidy, geneticista humana do Trinity College Dublin e principal autora do estudo, em declaração. "E ele prevê o empoderamento social e político feminino. É relativamente raro em sociedades modernas, mas pode não ter sido sempre o caso".

No estudo, publicado no periódico Nature, Cassidy e sua equipe analisaram os genomas de 57 pessoas enterradas em Duropolis, para investigar mais sobre a estrutura social dos Durotriges, uma tribo celta que viveu na região entre 100 a.C. e 100 d.C.. O estudo é uma colaboração entre pesquisadores do Trinity College Dublin e da Bournemouth University.

Vale mencionar que, historicamente, não se sabe muito sobre o povo que viveu na Grã-Bretanha antes dos romanos. Júlio César até chegou a escrever sobre a tribo Iceni, que inclusive foi governada por uma mulher chamada Boadiceia, e também percebeu que mulheres celtas podiam se casar com vários homens. Porém, foi somente com evidências arqueológicas que estudiosos modernos puderam atestar o alto status e algumas mulheres, como sepultamentos femininos com itens de prestígio.

"Além da arqueologia, o conhecimento da Grã-Bretanha da Idade do Ferro veio principalmente de escritores gregos e romanos, mas eles nem sempre são considerados os mais confiáveis. Dito isso, seus comentários sobre as mulheres britânicas são notáveis ​​à luz dessas descobertas. Quando os romanos chegaram, ficaram surpresos ao encontrar mulheres ocupando posições de poder. Duas das primeiras governantes registradas foram rainhas — Boadiceia e Cartimândua — que comandavam exércitos", explica o Dr. Miles Russell, da Universidade de Bournemouth, em comunicado.

Antiga sepultura celta escavada / Crédito: Divulgação/Bournemouth University

Primeiro, os pesquisadores sequenciaram os genomas dos indivíduos ali enterrados, e a partir disso perceberam que 85% daquelas pessoas eram relacionadas entre si. Mais especificamente, mais de dois terços desses parentes compartilhavam uma rara linhagem de DNA mitocondrial, a U5b1, bem como também apresentavam alta diversidade do cromossomo Y.

A partir desses indícios, foi possível afirmar que a maioria daquelas pessoas compartilhava dos mesmos ancestrais maternos, mas não os paternos.

Estrutura social

Com os dados, a equipe de pesquisa conseguiu formular uma árvore genealógica daquele grupo, que começa com uma mulher fundadora e suas quatro filhas, que formaram uma linhagem que abrangeu ao menos dois séculos e várias gerações. Como a maioria dos membros ali enterrados que não compartilhavam o mesmo DNA mitocondrial — transmitido sempre pela mãe — eram homens, as suspeitas foram de que os homens que se casavam com aquelas mulheres e adentravam na comunidade.

"Usando dados genéticos, encontramos múltiplas incidências de pais, um dos quais tinha duas filhas adultas com a mesma mãe. É altamente provável que esses indivíduos fossem considerados maridos de mulheres na comunidade", explica Lara Cassidy ao Live Science por e-mail.

Além disso, também foi possível inferir que, como os homens não tinham evidências de parentesco recente entre si, os antigos celtas "tinham um profundo conhecimento de suas próprias genealogias, o que pode ter sido usado para orientar acordos matrimoniais entre um conjunto de grupos relacionados na região local", conforme pontuam os autores no estudo.

Sepultamento de mulher celta da Idade do Ferro enterrada com um espelho e joias, encontrado em Langton Herring, no Reino Unido / Crédito: Divulgação/Bournemouth University

Outro aspecto destacado no estudo é que análises de mais de 150 sítios arqueológicos da Idade do Ferro encontrado pela Europa apresentavam baixa diversidade genética mitocondrial, e alta diversidade do cromossomo Y. Por isso, os pesquisadores acreditam que grupos celtas espalhados por toda a Grã-Bretanha deviam ser organizados em torno de importantes linhagens maternas, em sociedades matriarcais.

Leia também:Boadicea, a avassaladora vingança da rainha celta