Grupo foi trazido do Maranhão para trabalhar em uma plantação de cana-de-açúcar em Ituverava, no interior de São Paulo
Segundo informações do G1, na última terça-feira, 13, o Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou 22 trabalhadores que viviam em condições semelhantes à escravidão em uma fazenda na zona rural de Ituverava, que fica a mais de 410 quilômetros de São Paulo.
A investigação aberta pelo MPT começou após o órgão receber uma denúncia anônima. De acordo com o que foi apurado, os trabalhadores foram atraídos em março deste ano enquanto ainda viviam em sua cidade natal, em Vitória do Mearim (MA).
A oferta passada ao grupo seria para trabalhar com o corte em um canavial. Segundo apuração do MPT, foi prometido aos trabalhadores que eles receberiam 130 reais por dia, sem nenhum tipo de desconto. Porém, a realidade era completamente diferente.
Além de cada um receber pouco mais da metade do valor prometido, R$70 por dia, o grupo também foi cobrado pela viagem que tiveram que fazer do Maranhão para o interior de São Paulo.
"Nós estamos indo embora porque fomos enganados. O cara enganou nós, aí passamos por um período de dificuldade tão grande que nem comida a gente tinha", disse um dos trabalhadores, Denilson Romão, ao G1.
A situação dos trabalhadores ficou ainda pior em relação a moradia e a alimentação. Isso porque, como explica o MPT, eles viviam em apenas duas casas. Denilson, por exemplo, compartilhava uma moradia com outras dez pessoas, em um espaço que tinha apenas dois quartos.
Sem nenhuma cama no local, eles tinham que dormir no chão — ou em estofados sujos —, espalhados pela cozinha, sala e até mesmo na cozinha. A casa também não tinha chuveiro e tampouco água aquecida.
"Estava dormindo todo mundo no chão frio. Todo mundo aqui é casado, tem filho, e chegar em um ponto deste é complicado", explica Romão. "Era só este banheiro. O resto tomava banho na pia, onde a gente lavava as roupas."
Antes de serem enviados de volta para o Maranhão, ainda na madrugada, o grupo parou para fazer uma última refeição. O que mais surpreendeu, neste momento, é que eles tiveram que dividir o arroz e ovo que prepararam em um pote que seria usado por duplas. Segundo o MPT, essas condições configuram não só o trabalho análogo à escravidão como também o aliciamento.
"Eles eram obrigados a dividir a comida dentro de um mesmo pote de plástico. Colocavam ovo, arroz, ovo e arroz. Primeiro um comia o ovo e o arroz. Chegava no segundo ovo, dava para o outro fazer a alimentação. É inadmissível", declarou Gustavo Rizzo Ricardo, procurador do MPT.
Agora, o Ministério Público do Trabalho informou que continuará com as investigações, apesar de revelar, até o momento, o nome do empreiteiro que trouxe o grupo do Maranhão. Os trabalhadores tiveram seus contratos rescindidos.