Autor que narra a experiência de sua mãe após a morte de seu pai durante a ditadura, comemorou o interesse dos jovens em redescobrir a história
Marcelo Rubens Paiva celebrou o alcance de sua obra literária 'Ainda Estou Aqui' entre o público jovem, notadamente aqueles com menos de 20 anos, impulsionado pelo impacto das redes sociais após o lançamento do filme.
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O livro, que narra a experiência de sua mãe após a morte de seu pai durante a ditadura militar, tem se destacado entre essa nova geração. Em entrevista ao Metrópoles, Paiva destacou a importância da literatura como registro histórico dos derrotados: "A literatura é o testemunho dos vencidos e nós somos os vencidos de 1970".
A narrativa de Rubens Paiva, engenheiro e pai de Marcelo, bem como de Eunice Paiva, sua mãe, ganhou nova visibilidade com o lançamento do filme homônimo dirigido por Walter Salles. A produção estreou no dia 7 de novembro, trazendo Fernanda Torres e Selton Mello nos papéis principais, o que também impulsionou o interesse pelo livro.
Publicado em 2015 pela editora Alfaguara, 'Ainda Estou Aqui' alcançou a 12ª posição na lista de não-ficção da Nielsen PublishNews, que classifica os autores nacionais mais vendidos em diversos pontos de venda no Brasil. Nas redes sociais, jovens leitores têm promovido discussões e análises sobre a obra, gerando um significativo aumento em sua popularidade.
Marcelo Rubens Paiva comparou a recepção de seu livro à do filme 'A Lista de Schindler', observando um movimento similar entre jovens alemães que buscavam entender sua história. "Eu acho que o jovem de hoje está querendo saber um pouco da história do país, depois de um período em que a ditadura foi vangloriada e os torturadores foram considerados heróis", comentou.
Segundo ele, enquanto muitos da sua geração vivenciaram aquele período turbulento diretamente, as novas gerações estão ávidas por conhecer esse capítulo da história nacional.
Para Paiva, esse é um papel essencial da literatura: servir como missão histórica e testemunhal. Ele destaca que os eventos narrados em 'Ainda Estou Aqui' ocorrem durante os anos de 1970, um período marcado pela intensificação da repressão militar no Brasil. A família Paiva residia no Rio de Janeiro quando Rubens foi capturado por militares e desapareceu.
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Eunice Paiva emergiu como uma figura central na busca pela verdade sobre o destino do marido. Ela teve que se reinventar para sustentar sua família e nunca abriu mão da luta por justiça. Marcelo enfatizou o papel ativo de sua mãe na reconstrução familiar e política: "Enquanto meu pai foi preso e morto, minha mãe lutou desde os anos de 1971 pela justiça em relação aos desaparecidos políticos, contra a violação dos direitos humanos".
Além disso, Eunice Paiva foi uma defensora incansável das causas indígenas e atuou na Constituinte brasileira. Sua trajetória revela uma mulher determinada a não só preservar a memória dos desaparecidos políticos, mas também contribuir para a redemocratização do país.